terça-feira, 26 de junho de 2012

Saturno em trânsito à Lua: melancolia e introspeção

"Gostaria de lhe pedir apoio para entender melhor o meu mapa no que diz respeito a Saturno e à sua oposição a Urano e Plutão (casas 9 - 3), e a sua ligação com o actual trânsito de Saturno na casa 4 em quadratura à Lua natal. Embora ache que entenda melhor o lado positivo desta energia, a tristeza e a melacolia são enormes. Gostaria de entender melhor e perceber como lidar com isto. "

Cristina, Lisboa


Os planetas transpessoais (Urano, Neptuno e Plutão) são simbólicos das grandes correntes que, fluindo no Inconsciente Colectivo, nos atingem a todos como membros da Humanidade. Por um lado, estão relacionados com as ideias e motivações características de cada geração, mas quando os analisamos no tema natal eles mostram de que forma estamos predispostos a incorporar as influências da nossa geração no nosso percurso de vida, individual e único. Essas influências, muitas vezes subtis e difíceis de definir, tornam-se impossíveis de ignorar quando existem aspetos entre planetas transpessoais e planetas pessoais ou luminárias.


No seu mapa, Urano e Plutão surgem em trígono à Lua e em sextil a Vénus, com Vénus conjunta a Neptuno. Esta configuração sugere que você canaliza para as suas relações pessoais uma extraordinária compulsão para a mudança profunda (Urano-Plutão), em busca da concretização de um ideal romântico inatingível (Vénus em conjunção a Neptuno, sextil à Lua). Quando os planetas transpessoais tocam as nossas necessidades emocionais mais profundas (Lua) e o modo como nos relacionamos com as outras pessoas (Vénus), os nossos sentimentos - amor, ciúme, paixão, ódio - são exponenciados, como se o nosso coração os visse com uma lente de ampliação. Da mesma forma, a imagem que temos de uma determinada pessoa (e nunca essa imagem corresponde à realidade subjectiva dessa pessoas sobre si própria) fica muito distorcida pelas energias colectivas representadas pelos planetas transpessoais. Numa expressão simples, procuramos o transpessoal no pessoal. 


É o que acontece, por exemplo, com os contactos Neptuno-Vénus ou Neptuno-Lua (no seu horóscopo ambos existem): aquilo que seria a experiência do amor incondicional e universal pela Humanidade e a ligação a uma fonte superior de significado divino é vivido através dos relacionamentos pessoais - tentando meter o Rossio na Betesga, confundimos o pessoal com o transpessoal, e esperamos ingenuamente que uma outra pessoa satisfaça todos os nossos anseios emocionais e espirituais.

Vem isto tudo a propósito da sua questão a respeito de Saturno. Este que é um planeta social - mostrando quais são e onde estão as nossas limitações e medos no contacto com o mundo - está também em aspecto com os 3 transpessoais, e é o dispositor da Lua (rege o signo em que está a Lua, Capricórnio). Além disso, Saturno está em Peixes, o mais "universal" dos signos, e em conjunção a Quíron. O que tudo isto sugere (ainda antes de olhar os trânsitos) é que existe uma profunda necessidade de controlar e ordenar as circunstâncias da sua vida, que co-existe com um receio de perder-se sempre que se aventura a explorar o que está para além dos seus limites intelectuais, emocionais e espirituais. Os estudos académicos que refere surgem provavelmente da necessidade de expandir horizontes de uma forma sistemática, pragmática, e perfeitamente controlável (Saturno na casa 9), satisfazendo simultaneamente o intenso desejo de aperfeiçoar-se tecnicamente e de conduzir pequenas revoluções no modo de funcionamento do seu ambiente mais próximo (Saturno oposto a Plutão/Urano em Virgem, casa 3). Imagino que este seja um grande desafio para si e felicito-a por tê-lo empreendido. Tudo o que se relacione com aprendizagem implica o confrontar dos seus maiores medos e dúvidas - e suspeito que já percebeu que é precisamente nesta área que pode encontrar a sua maior capacidade de intervenção construtiva em si própria e no mundo à sua volta.

O trânsito de Saturno pela sua casa 4 veio obrigá-la a reavaliar-se. Não tanto na questão da aprendizagem que já referi, mas noutros aspectos da sua vida que podem não estar a merecer a atenção devida. Primeiro, Saturno parece ter vindo questioná-la sobre a verdadeira justiça e partilha de responsabilidades na sua vida privada e no seu lar físico e emocional (o Sol está em Libra na casa 4, por onde Saturno transitou no final de 2010). Neste momento, sugere que examine a solidez dos seus relacionamentos afetivos (Saturno transita em quadratura à Lua, que está na casa 7). Os trânsitos de Saturno à Lua indicam períodos de alguma melancolia que convida à introspecção, até ao isolamento social temporário permita a criação de um espaço mental para refletir sobre se estamos a honrar as nossas necessidades emocionais, se estamos a dar e a receber afecto com respeito pelas nossas limitações e pelas limitações dos outros. Os antigos viam em Saturno um "grande maléfico", mas a sua função pode ser muito construtiva - ainda que temporariamente dolorosa. É Saturno que nos propõe encararmos as nossas fragilidades com coragem e assumir a responsabilidade pela totalidade do que somos, o que implica uma grande dose de auto-análise e de pragmatismo. Se não formos capazes de reconhecer quando e porquê agimos motivados pelo medo e pela frustração, seremos levados ciclicamente às mesmas circunstâncias difíceis sem daí tirar qualquer lição, muito menos proveito.

Regressando ao seu horóscopo, sugeria-lhe que durante este trânsito de Saturno à sua Lua natal reavaliasse os seus relacionamentos pessoais (afetivos e familiares), questionasse se o seu sentido de dever para com os outros contribui para o seu equilíbrio interior ou se a mantém refém de compromissos rígidos em que o seu elevado sentido de responsabilidade serve de muleta para os outros, e de "escudo anti-vulnerabilidade" para si. O desejo de embarcar em relações intensas e plenas de intimidade (conjunção Vénus-Neptuno na casa 5) pode parecer difícil de satisfazer quando parece tão importante o controlo dos próprios sentimentos (Lua em Capricórnio na casa 7): aproveite o trânsito de Saturno para definir prioridades, para perceber que preço está disposta a pagar para tentar honrar as múltiplas e contraditórias necessidades que o seu horóscopo sugere.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Tarot - XVI. A Torre

"Vamos construir uma cidade e uma torre, cujo cimo atinja os céus. 
Assim, havemos de tornar-nos famosos para evitar que nos dispersemos por toda a superfície da Terra"

Génesis 11:4


"Ambicionas uma torre que irá trespassar as nuvens?
Lança primeiro os alicerces da humildade."

Santo Agostinho (Bispo e filósofo católico, 354-430)




Símbolos Básicos

Uma torre sobre um monte rochoso é atingida por um raio, uma ou duas figuras caindo, por vezes surgem vagas tempestuosas na base da torre.


A Viagem do Louco

Deixando para trás o trono do Deus-Bode, o Louco encontra uma Torre magnífica e que lhe parece misteriosamente familiar. Na realidade, ele próprio ajudou a construir esta Torre, na época em que o seu maior objectivo de vida era deixar a sua marca no mundo, provando o seu valor acima dos outros mortais. No cimo da Torre ainda residem homens arrogantes, que se acham donos da Verdade.

Ao revisitar a Torre, o Louco é atingido por um momento relampejante de lucidez: é que ele pensava que tinha deixado o seu velho Eu para trás quando embarcou nesta viagem espiritual, mas agora percebe que continua a ver-se como os homens na Torre, seguros da sua superioridade e do seu "conhecimento iluminado".

No momento desta descoberta, um raio desce dos céus e fulmina a Torre, lançando os seus residentes nas águas agitadas. Num breve instante, tudo terminou. É Torre é agora um monte de escombros, resta apenas o rochedo em que estava alicerçada. Atordoado, o Louco experimente um profundo sentimento de medo e descrença, mas parece que finalmente uma estranha clarividência o assiste. Afinal, ele deitou abaixo a sua resistência à mudança e ao sacrifício enquanto esteve Dependurado, enfrentou a Morte, aprendeu a cultivar a Temperança e lidou com as poderosas tentações do seu Diabo interior. Mas é chegado o momento de empreender a tarefa mais difícil, a de destruir as falsidades que ainda resistem dentro de si. E o que sobra desta necessária purga são as fundações da Verdade. Sobre elas terá o Louco de voltar a erguer a sua vida. 

Notas interpretativas

A carta da Torre é para muitos utilizadores do Tarot o mais nefasto dos Arcanos Maiores. Regida por Marte, esta carta fala da queda da arrogância, da experiência muitas vezes devastadora da revelação da verdade que destrói as falsas crenças e as mentiras sobre as quais erguemos o nosso Presente. 

O mito bíblico da Torre de Babel descreve como vários povos tentavam chegar ao Céu, construindo em conjunto a mais alta torre alguma vez vista. Para castigá-los por tão elevadas ambições, Deus atribuiu-lhes idiomas diferentes, o que fez com que se desentendessem e desistissem de erguer a dita Torre. Noutras versões desta história, a Torre é destruída por um vento divino. Em qualquer dos casos, a Torre de Babel simboliza o desafio de conquistar um lugar equivalente ao de Deus omnipotente, e o castigo humilhante que advém de tão megalómana aspiração. 

Numa leitura de Tarot, a carta da Torre anuncia a queda abrupta das ilusões que o Querente acalentou até então, o momento imprevisível e chocante em que a verdade vem à tona, e o sonho que antes parecia real converte-se agora num pesadelo. Podem surgir mudanças inesperadas, crises dolorosas, rotinas perturbadas pelo caos. Qualquer tensão emocional acumulada pode explodir subitamente, ultrapassando as defesas do ego e causando estragos em redor. O Querente pode descobrir que a sua confiança foi violada, que foi levado em erro pela sua própria vaidade. Desfazem-se todas as fantasias, resta apenas a verdade. E esta é, no final, a melhor atitude que podemos adoptar quando nos surge a carta da Torre: por muito dolorosa que seja a experiência, ela permitir-nos-á descobrir aquilo com que de facto podemos contar - o que em nós e nas nossas circunstâncias é suficientemente verdadeiro para resistir ao trovejar da Realidade.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Projeção: o que (re)encontramos de nós nos outros?

Tem uma garota com quem me relacionei há uns 5 anos atrás. O que eu pensei que era um mero caso efêmero se tornou uma obsessão para mim. 
Acabei de descobrir que ela é ariana, e Áries exerce forte domínio sobre Virgem, o qual seria escrava astral de Áries. 
Isso explica por que até hoje ela exerce atração sobre mim. Entretanto, Escorpião é o signo ''senhor'' de Áries, e também é onde eu tenho minha Lua. 
Gostaria de saber se tem algo a ver eu ser virgem, por isso escravo astral de Áries, mas ao mesmo tempo exercer influência sobre Áries, já que eu tenho Lua em Escorpião.

Arthur, MG - Brasil


Toda a pessoa devia apaixonar-se pelo menos uma vez na vida, e na realidade suponho que todos temos essa oportunidade, mais cedo ou mais tarde. A paixão é um estado de alma irresistível, que nos assalta e submete independentemente dos signos astrológicos envolvidos. Aliás, mesmo que uns signos estivessem destinados a "escravizar" os outros - coisa que não faz sentido na minha conceção da Astrologia - seria muito difícil determinar quem domina quem: nenhum mapa é um só signo, mas uma complexa rede de interações entre signos e planetas e casas cuja manifestação no mundo real não está determinada à partida, mas é antes uma construção da livre escolha de cada indivíduo.


Adaptado de Astrodienst
Observando o seu mapa, a primeira impressão é a da acumulação de planetas no hemisfério ocidental, em torno do Descendente, simbólica de uma vida construída em função do que as circunstâncias exteriores propiciam, uma personalidade mais reactiva do que activa que tende a procurar nos relacionamentos as bases para o desenvolvimento da sua identidade. E não é por acaso que você se interroga sobre uma paixão: tem o Sol na casa 5, a das paixões, e a Lua na casa 7, a dos relacionamentos. Astrologicamente - como na vida real -, paixões e relacionamentos são coisas bem diferentes. A casa 5 está associada ao signo de Leão, e tem por isso que ver com a expressão unilateral da criatividade do Eu, da luminosidade da sua centelha divina quando direcionada a uma outra pessoa - @ amad@. Pouco importa para a paixão se é correspondida, porque a paixão alimenta-se a si própria como uma chama que não precisasse de combustível, extingue-se quando tem que se extinguir sem dar satisfações das causas do seu início ou do seu final. Nesse sentido, paixão é ato de criação, é o nosso momento me afirmar que estamos vivos e que somos capazes de amar com tudo o que somos, desde a pele que se arrepia ao mais profundo lugar da nossa alma. Neste lugar de fogo e mito que é a casa 5 está o seu Sol, a sua jornada de herói, a identidade que lhe compete construir ao longo de toda uma vida. E no entanto está em Virgem, signo tão pouco dado a impulsos de momento...! Imagino que sinta uma grande necessidade de compreender os mecanismos da paixão, os mais ínfimos detalhes do "porquê essa mulher e não outra qualquer?" - compreendê-lo seria controlá-lo, não? E Virgem é assim, precisa de sentir que tem controlo sobre alguma coisa - normalmente, sobre si próprio. Com Marte exilado (em Libra) e na casa 6 (a de Virgem), você terá alguma dificuldade em afirmar a sua vontade, e no entanto precisa de sentir que domina as circunstâncias do seu quotidiano. 


Sol e Marte em Virgem e Libra, respetivamente, representam um lado bastante moderado da sua personalidade. E no entanto a sua vida emocional nada tem de moderado. Com Vénus em Leão, você ama estar apaixonado. Os seus relacionamentos necessitam de entusiasmo, de excitação, de verdadeira PAIXÃO, ou corre o risco de desinteressar-se rapidamente. E depois vem a Lua em Escorpião na casa 7, dos relacionamentos. Ora se a casa 5 é a da paixão unilateral, a casa 7 será a do amor enquanto encontro equilibrado de duas pessoas que têm em mente sentimentos e sonhos comuns. Porque é através da casa 7 que nos confrontamos com as outras pessoas, acontece frequentemente que não reconhecemos em nós os planetas que lá estão. No seu caso, suspeito que tenha alguma dificuldade em assumir as suas necessidades emocionais. Podem parecer-lhe demasiado intensas, demasiado obsessivas. Quer dizer, não é que não reconheça que as tem, mas a casa 7 sugere uma certa tendência para "chutar a bola pró campo do adversário". No seu caso, parece-me que a natureza obsessiva dos seus sentimentos em relação a essa mulher com quem se relacionou não estão necessariamente na personalidade dela. Não terá sido ela quem o escravizou, foi você que se fez escravizado por ela, apenas porque há uma enorme necessidade dentro de si de experimentar emoções intensas e persistentes, profundamente transformadoras, ainda que isso implique submeter-se a outra pessoa. É que o seu Sol em Virgem gosta das coisas objectivas, certinhas, e por isso tem alguma dificuldade em digerir essa Lua tão avassaladora... Mas a Lua em Escorpião é só sua, disso não tenha dúvida. Pode parecer-lhe desconfortável navegar em águas tão profundas, embarcar em relacionamentos muitas vezes dolorosos mas sempre profundamente transformadores. Além disso, a quadratura Vénus-Lua parece sugerir que os relacionamentos que procura - baseados mais na paixão (Leão) do que numa verdadeira intimidade (Escorpião) - deixam-no emocionalmente insatisfeito, enquanto que a expressão das suas necessidades mais profundas o obriga a confrontar o seu lado mais obscuro - o que prejudica a sua noção de que os relacionamentos devem ser luminosos, radiantes de coisas boas e sem uma gota de amargura. 


Pois tudo isto é seu, mesmo que às vezes pareça difícil de conciliar. Não me surpreende que se tenha apaixonado por uma mulher com energias de Áries - é um signo de Fogo, o que atrai a sua Vénus em Leão, e tende a manifestar abertamente as tendências dominadoras que a sua Lua em Escorpião mantém bem guardadas no seu íntimo. Compete-lhe a si tentar encontrar forma de organizar tudo isto (tarefa pró seu Sol em Virgem! ;-), na certeza de que cada relacionamento novo lhe trará uma oportunidade para aprender um pouco mais sobre si mesmo. Pelo caminho, suspeito que ainda encontrará muitas mulheres como essa, fortes e determinadas... Não se preocupe em perceber "quem escraviza quem", mas antes pergunte-se que parte de si atraiu esta pessoa para a sua vida, que parte de si não está a reconhecer e a satisfazer. Lembre-se das palavras de Jung: O que não enfrentarmos em nós mesmos, encontraremos como Destino. 

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Signos do Zodíaco - VII. Libra (Balança)

"Entre homens e mulheres não é possível a amizade.
Há paixão, hostilidade, adoração, amor, mas não amizade."


"Escolho os meus amigos pelo seu bom aspeto,
os meus conhecidos pelo seu bom caráter,
e os meus inimigos pelo seu inteleto.
Um homem nunca é demasiado cuidadoso na escolha dos seus inimigos."

Oscar Wilde (1854-1900, escritor inglês, nativo de Libra)


Sistema Tropical:  23 de Setembro - 22 de Outubro
Sistema Sideral:   16 de Outubro – 15 de Novembro
Constelação: Libra
Elemento: Ar
Qualidade: Cardinal
Partes do Corpo: Região inferior das costas (rins)
Regência Base: Vénus
Exaltação: Saturno
Exílio: Marte
Queda: Sol
Pedra preciosa: Opala
Metal: Cobre
Cores: Púrpura
Número: 6
Dia: Sexta-feira (no inglês “Friday”, dia de Frigg, deusa esposa de Odin)

Simbologia e Mitologia

A constelação de Libra, de brilho relativamente ténue aos olhos do observador terrestre, cativou os povos da Babilónia pela sua semelhança com os pratos de uma balança. Chamavam-lhe as "pinças do Escorpião", e associavam-na ao deus solar Shamash, patrono da justiça e da verdade. Já os Romanos relacionaram Libra com a balança de Astraea, deusa da justiça. Na mitologia egípcia, a balança era utilizada por Anubis para julgar o mérito da alma humana após a morte e assim decidir o seu destino final. 


Os gregos viram nesta constelação o carro dourado de Hades, senhor do Submundo. Quando Hades raptou Perséfone, Zeus teve de intervir para aplacar a furiosa Deméter (mãe de Perséfone e deusa das colheitas), de modo a restabelecer a justiça e a devolver ao mundo a fertilidade perdida com o luto de Deméter. Ficou então decidido que Perséfone passaria metade do ano com a sua mãe - durante os meses de Primavera e Verão, quando a terra está mais fecunda e abundante - e a outra metade do ano com Hades - altura em que Perséfone se retira do mundo dando lugar ao repouso de Outono e Inverno. Quando o mito surgiu, a constelação que hoje designamos por Libra correspondia ao equinócio de Outono, e talvez por isso os gregos nela vissem o carro dourado de Hades, regressando para buscar a sua amada após o Verão. Além disso, a intervenção de Zeus no sentido de trazer paz ao conflito, encontrar um ponto de equilíbrio entre as partes envolvidas e restabelecer a harmonia da vida na Terra ilustram bem os princípios fundamentais do arquétipo de Libra.

Curiosamente, o signo de Libra é o único do Zodíaco cujo símbolo é um objecto inanimado, um reflexo do ideal de justiça que se quer perfeitamente livre de paixões e instintos, absolutamente fria e imparcial.


Significado Astrológico

O início do Outono marca um período de repouso e recolhimento. É imprescindível escolher a melhor semente e o solo mais adequado, para que se garantam as colheitas do ano seguinte, o que requer não só um apurado sentido de preferência que faça jus a uma perfeição idealizada (regência de Vénus) como também uma impiedosa capacidade de eliminar tudo o que possa comprometer o sucesso futuro (exaltação de Saturno). Torna-se então indesejável a cedência a impulsos que comprometam o tão almejado equilíbrio (exílio de Marte), ou que coloquem a vontade individual à frente do bem colectivo (queda do Sol). 

O arquétipo de Libra preconiza a busca da perfeição a todos os níveis, entendida como o equilíbrio perfeito entre as partes que compõem o todo. Para tal, há que olhar para o Outro como um reflexo do Eu, e entender que definirmos o que somos implica declararmos o que não somos, confrontando-nos connosco próprios através dos relacionamentos que iniciamos.

O típico nativo de Libra movimenta-se em qualquer circunstância com um profundo sentido de elegância. Procura cooperar diplomaticamente em todas as matérias, preferindo o trabalho de equipa ao esforço individual, e muitas vezes encontramo-lo tentando apaziguar ânimos exaltados, mediando conflitos em busca de um entendimento pelo simples facto de que o conflito declarado e o caos instalado são os seus piores inimigos. Se beleza é ordem, em Libra tudo e todos devem ocupar o seu devido lugar com serenidade e sentido de justiça, pois só assim é possível assegurar um estado de harmonia genuína e duradoura.


Primeiro Decano: 23 Setembro – 2 Outubro
Os nativos do primeiro decano são regidos por Vénus, que os predispõe para o romantismo assim como para o desenvolvimento inteligente da sua imaginação. O dom da criatividade e o sentido da elegância podem ser combinados com sucesso, originando um sólido talento para tudo o que envolva moda e beleza. Românticos por natureza, estes nativos adoram estar apaixonados, e podem ser muitíssimo dedicados quando se comprometem com uma só pessoa, mantendo a chama da relação bem acesa com presentes e surpresas agradáveis. Todos os seus relacionamentos (não só os amorosos) beneficiam da sua necessidade de harmonia, pela qual estão dispostos a manter uma comunicação aberta e honesta em vez de alimentar discussões e desavenças.


Segundo Decano: 3 – 12 Outubro
O segundo decano tem Saturno como segundo regente, o que confere a estes nativos uma grande seriedade, altruísmo e consideração pelos outros. É com frequência que se disponibilizam para ajudar quem precisa, colocando as necessidades dos outros em primeiro lugar - mesmo quando isso significa deixar de lado os próprios desejos. Nos relacionamentos tendem a ser extremamente pacientes e tolerantes, cativando muitas amizades pela qualidade do apoio que conseguem dar aos outros. Ainda que desfrutem de um bom sentido de humor, estes nativos tendem a levar a vida demasiado a sério, assumindo total responsabilidade pelas suas qualidades e defeitos, assim como por tudo o que dizem e fazem.

Terceiro Decano: 13 – 22 Outubro
No terceiro decano, o segundo regente é Mercúrio. Estes nativos possuem um forte sentido analítico, são leais e muitíssimo sociáveis. Anseiam por aprender e por entender, buscando significados nas mais variadas áreas do conhecimento e procurando estabelecer pontes de comunicação com muitas pessoas diferentes. O círculo de amigos será provavelmente bastante amplo, em parte pela capacidade que estes nativos têm de cativar pelo charme e pela inteligência. Além disso, possuem o dom de combinar razão e intuição, escutando emoções mas também bom senso na hora de tomar decisões. 

O seu lema? Quero relacionar-me. 

Como se define?
EU EQUILIBRO!

Fontes:
Introdução à Astrologia, de Lisa Morpurgo (Ed. Pergaminho)
Manual de Interpretação Astrológica, de Stephen Arroyo (Pub. Europa-América)

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Casimi, planeta em combustão

Um leitor interessado deixou no Consultório Astrológico a seguinte questão:

Oi, gostaria de sugerir uma postagem sobre "casimi": o que é, no que influência, ajuda ou não no nosso mapa (no caso não no meu, não sei se feliz ou infelizmente!), e quando se trata do Sol a Vênus (como li que tem no mapa de Oprah Winfrey), é verdade que essa conjunção faz auxiliar na superação dos obstáculos e dentro da medida do aceitável (conforme empenho e trabalho,claro!) propicia glória e até mesmo fortuna?

O termo Cazimi (ou Casimi, ou ainda Zaminium) é de origem arábica, significa "no coração do Sol" e descreve a conjunção muito próxima de um planeta ao Sol, num intervalo de apenas 17 minutos. O Cazimi será então um tipo especial de combustão, um termo que designa a obscuridade relativa de um planeta quando observado a olho nu, sempre que está suficientemente próximo da luz do Sol. A distância ao Sol (em graus) à qual se inicia o fenómeno visual da combustão de um planeta é variável:

Lua: 12º
Mercúrio: 14º em movimento directo ou 12º em movimento retrógrado
Vénus: 10º em movimento directo ou 8º em movimento retrógrado
Marte: 17º
Júpiter: 11º
Saturno: 16º

Na generalidade dos escritos de Astrologia Medieval que nos chegaram até hoje, um planeta deve ser considerado combusto apenas quando se encontra num intervalo de 5 a 8º do Sol - o que corresponde ao que muitos dos astrólogos modernos consideram ser uma orbe (desvio a um aspecto) aceitável para qualquer conjunção.

É bom ou é mau?

O significado simbólico de um Cazimi - como da combustão - depende da abordagem utilizada. Na astrologia védica, a energia dos planetas em combustão é considerada muito enfraquecida.Já William Lilly (importantíssimo astrólogo medieval da abordagem horária) considerava que um planeta em Cazimi teria uma força espantosa. Para alguns autores modernos de Astrologia Psicológica, a energia solar é entendida como o veículo perfeito para a total expressão do planeta em combustão.

Em meu entender, não há tal coisa como aspectos "bons" ou "maus". Existem recursos e dificuldades, que podem ser vividos de forma mais harmoniosa ou mais turbulenta. Um mapa repleto de coisas "boas" pode tornar a pessoa mais preguiçosa e displicente (pra quê esforçar-se, se consegue tudo facilmente?), e um mapa repleto de coisas "más" pode tornar a pessoa mais perseverante e adaptável às circunstâncias interiores e exteriores. 

Tomemos então o exemplo de Oprah Winfrey. O seu mapa mostra uma conjunção muito próxima entre Sol e Vénus - distam apenas 49', mas pelos critérios já descritos Vénus não está em Cazimi. Ainda assim, vale a pena reflectir sobre esta Vénus em combustão a partir do que sabemos da vida pública e privada de Oprah. Ela nasceu de uma relação ilegítima e sofreu com a negligência da mãe desde muito cedo (Lua em sesquiquadratura a Urano). Foi abusada sexualmente (Plutão na casa 8 em quadratura a Marte em Escorpião, IC em Carneiro) e chegou a ser mãe aos 14 anos, embora o bebé prematuro não tenha sobrevivido além de 2 semanas. Por aqui vemos que o desenvolvimento da sua identidade deve ter evoluído inevitavelmente a partir dos seus relacionamentos (Sol em conjunção a Vénus), e que só com a adopção de valores muito sólidos (Vénus) pode Oprah ultrapassar as relações traumáticas da sua infância e adolescência e progredir na (re)construção da sua vida e na descoberta e consolidação da sua vocação profissional, social e espiritual (Sol). Não lhe chamaria "sorte", porque a sorte somos nós que a fazemos ;-), e todos nós decidimos diariamente que caminho queremos seguir. Qualquer pessoa com uma conjunção (e ainda mais com um casimi) entre Sol e Vénus sentir-se-á compelida a descobrir-se através dos seus relacionamentos. Se isso conduz a uma identidade sólida e independente, ou a um ego frágil e influenciável, não é possível determinar à partida. De que modo esta pessoa utiliza o seu provável charme natural, é questão de livre arbítrio. Para manipular e embarcar em relações co-dependentes, ou para desenvolver verdadeira harmonia e cooperação com os outros? 

Observando esta Vénus em combustão na sua expressão mais construtiva, pode de facto proporcionar uma grande afabilidade no trato com os outros, uma tendência natural para apaziguar e mediar disputas, para exprimir a centelha divina que em cada ser humano habita de uma forma harmoniosa e até artística. Ainda que nem todos possamos ser a Oprah, talvez aqueles que beneficiem deste aspecto possam trazer ao mundo um pouco mais de paz, de beleza e de mútua compreensão.