terça-feira, 29 de janeiro de 2008

The Nuts and Bolts of Meditation - Parte VI

O PROCESSO COGNITIVO

A capacidade cognitiva, de considerar cuidadosamente as opções e tomar uma decisão informada, é exclusiva da mente humana. Quando uma rã sente fome e estão reunidas as condições para que consiga atingir a comida (presença do alimento, ausência de perigos), a resposta da rã é automática. Mas nos seres humanos a capacidade cognitiva permite passar pelo sinal do restaurante, sentir o aroma de uma refeição deliciosa, o estômago a contorcer-se de fome, e mesmo assim decidir não parar para almoçar. A nossa capacidade cognitiva torna-nos capazes de decidir conscientemente perante experiências emocionais contraditórias: cognição e emoção têm uma correlação directa.

A intensidade dos sentimentos ou emoções que vivemos numa certa experiência é inversamente proporcional à nossa capacidade para exercer julgamento racional nessa mesma experiência. O que significa que, à medida que as emoções aumentam perante um determinado conjunto de estímulos sensoriais, diminui a capacidade do cérebro para raciocinar e decidir. Isto é verdade para qualquer experiência, seja a do amor profundo ou a do ódio incontrolável.

O cérebro responde à informação sensorial. Mas seremos capazes de escolher não dar atenção a essa informação? Na explicação científica clássica afirma-se que o nosso processo cognitivo de decisão é função do cérebro físico. No entanto, a ciência clássica não consegue explicar porque somos capazes de escolher ignorar determinada informação, ou de concentrar a atenção em informação que não chega até nós pela memória ou pelo ambiente sensorial. Nenhum outro ser vivo consegue escolher onde concentrar a sua atenção. Mas por agora deixaremos essa questão de lado, ficando com aquilo que sabemos: Os padrões cerebrais alteram-se quando mudamos o alvo da nossa atenção.


A nossa capacidade de escolher onde centrar a nossa atenção dá-nos controlo sobre os nossos padrões cerebrais.


Adaptado de: The Nuts and Bolts of Meditation

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

The Nuts and Bolts of Meditation - Parte V

O PARADIGMA

O nosso cérebro possui um padrão ou exemplo de como o mundo físico à nossa volta deve “parecer” e “funcionar” – um paradigma.

O paradigma reside na nossa mente inconsciente. A sua “função” é comparar a informação sensorial actual com a informação que está armazenada na memória. Iniciado no momento do nascimento (se não antes), o paradigma vai evoluindo e fortalecendo-se à medida que vamos amadurecendo e interagindo com o mundo físico através dos sentidos.

Ao contrário de um simples filtro, o paradigma não só limita a informação que chega ao nosso “monitor consciente” como também dá forma a essa informação, para que se assemelhe ao padrão já estabelecido com o “aceitável”.

Por exemplo, muitos de nós temos um paradigma de como deve ser a aparência física das pessoas que conhecemos muito bem e com quem estamos muitas vezes. Se um amigo íntimo resolver rapar o seu bigode, podemos não notar essa mudança durante algum tempo, porque o nosso paradigma inclui uma imagem desse nosso amigo COM bigode. Se nos pedirem para descrever esse amigo, incluiremos o facto de que ele tem bigode. O paradigma continua a apresentar a imagem que “esperamos” encontrar, até que tomamos consciência de que alguma coisa mudou na aparência desse indivíduo, e adaptamos o nosso paradigma a essa mudança.

Quando vemos o nosso amigo pela primeira vez sem bigode, podemos ter a sensação de que há algo de “diferente” nele. Isto acontece porque o paradigma adiciona conteúdo emocional à informação que deixa passar para o monitor consciente!

Este exemplo do bigode é na realidade demasiado subtil. O paradigma é muito mais poderoso, e faz mais do que apenas “filtrar” a informação que é apresentada à nossa percepção. É que também tem tudo a ver com a forma como sentimos as experiências que vamos vivendo, e com a nossa capacidade de julgar e avaliar à medida que interagimos com essas experiências.

Por exemplo, um homem de meia-idade foi a um hipnotizador para tentar resolver o seu medo de cavalos. A sua mulher era uma excelente cavaleira, e ele queria poder juntar-se a ela. Não é que não gostasse de cavalos (até gostava), mas quanto mais perto ficava de montar um, mais medo sentia. Este é um homem inteligente, que sabia não haver qualquer razão lógica para a sua fobia. O hipnotizador colocou-o num estado hipnótico, e disse-lhe que se imaginasse prestes a montar um cavalo. O homem sentiu medo de imediato. O hipnotizador disse-lhe que se mantivesse junto ao cavalo, mas que voltasse atrás no tempo, através de todas as experiências que viveu, até que o medo começasse a desaparecer. Com muito pouco esforço, o homem declarou que o medo havia desaparecido. O hipnotizador disse-lhe então para regressar lentamente ao Presente, até ao momento em que o medo regressasse. Rapidamente, o homem voltou a manifestar a sua fobia de montar o cavalo. Tentou explicar o que lhe estava a acontecer, tinha muita dificuldade em falar, como se de um bebé se tratasse. O hipnotizador pediu-lhe então que se mantivesse nesse momento, mas que o descrevesse na sua mente de adulto.


Aos dois anos de idade, era um bebé que estava na fábrica de sapatos do seu pai quando uma correia de uma das máquinas se partiu e soltou, atingindo-o na cabeça com a força de um chicote. Enquanto adulto, o homem não era capaz de se lembrar deste incidente. Sob hipnose, pôde lembrar-se do acontecido nos mais ínfimos detalhes, incluindo o cheiro de cabedal característico do lugar. Na realidade o homem não tinha medo de cavalos: era o cheiro do cabedal que estimulava as emoções vividas numa experiência do Passado!

O modo como sentimos cada experiência da nossa vida quotidiana resulta do nosso paradigma. O medo de andar a cavalo é um exemplo extremo. O nosso paradigma actua em cada momento em que estamos acordados. Aquilo que nos ensinaram a acreditar, a forma como aprendemos a interagir através dos costumes sociais, os nossos sentimentos acerca de diferentes tipos de pessoas, a forma como vemos diversos tipos de ocupações, e todos os aspectos do nosso “gostar” e “não gostar” emocional, são o resultado do nosso paradigma. O importante a reter é que o cérebro não processa a informação sensorial para depois enviar os resultados directamente para o neo-córtex da avaliação consciente. O paradigma, que inclui as emoções envolvidas no nosso padrão ou exemplo, está sempre incluído naquilo que aparece no nosso visor da realidade.

Não temos um centro para emoções “boas” e outro para emoções “más”. As emoções são um espectro contínuo, e nenhuma pode ser distinguida das emoções “vizinhas” a não ser por uma divisão absolutamente arbitrária. Essa divisão é estabelecida pelo nosso paradigma. É por isso que uma tradição, uma crença, uma forma de fazer certas coisas ou mesmo uma palavra como “meditação” produzem significados diferentes associados a emoções diferentes em pessoas diferentes.

Este livro possui vários títulos diferentes devido às questões paradigmáticas contidas na palavra “meditação”. Alguns leitores jamais o olhariam duas vezes apenas com essa palavra no título, mas esses mesmos leitores podem interessar-se por um título como “O cérebro quântico”. E no entanto, qualquer que seja o título, o seu conteúdo é o mesmo!


“Não vemos as coisas como elas são; vêmo-las como nós somos.”

Anais Nin


Adaptado de: The Nuts and Bolts of Meditation

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Tarot - X. A Roda da Fortuna

"A Sorte tudo afecta: lança o teu anzol, porque no riacho mais improvável haverá peixe."

Ovídeo (poeta romano, 43 a.C - 17 A.D.) in Ars Amatoria


"Fortuna, boa noite. Sorri uma vez mais, gira a tua Roda."

Shakespeare (dramaturgo inglês, 1564-1616) in Rei Lear


Simbologia e Arquétipo

Uma roda que gira no sentido dos ponteiros do relógio, com figuras ou animais que nela sobem ou descem. No topo da roda, uma esfinge.


A Viagem do Louco

O Louco resolve sair do seu refúgio (onde viveu como Eremita) para a luz do Sol, como se puxado para cima pela Roda da Fortuna. É tempo de mudança. Com o bordão na mão, ele regressa ao mundo sem qualquer expectativa. Porém, estranhamente, acontecem-lhe coisas à medida que as horas passam… coisas boas. Passando por uma azenha, encontra uma mulher que lhe oferece uma bebida num cálice dourado, e insiste para que ele fique com o cálice, apenas porque simpatizou com ele. Mais à frente, junto a um moinho, o Louco pára a observar um jovem que maneja uma espada. Quando manifesta admiração pela arma, o jovem oferece-a sem pensar duas vezes.

Finalmente, o Louco encontra um rico comerciante sentado sobre uma das rodas da sua carroça. O homem dá-lhe um saco cheio de moedas, justificando-se: “Gosto de dar dinheiro, e decidi que hoje a décima pessoa que passasse por mim receberia este saco de moedas. Parabéns, você é essa pessoa!” O Louco não achava que ainda pudesse ser surpreendido desta forma! É como se tudo o que de bom fez na sua vida lhe estivesse a ser devolvido, numa proporção 3 vezes maior. Neste dia, toda a sorte é sua!





A Roda da Fortuna no baralho Golden Tarot of the Renaissance (Lo Scarabeo)







Notas Interpretativas

A Roda da Fortuna é a carta de Júpiter, e trata da sorte, da mudança, da fortuna que é, quase sempre, boa. Esta é uma virada do acontecimentos para melhor, que traz invariavelmente grande alegra e abundância.

Embora a maioria das cartas do Tarot indiquem o que pode o Querente fazer para melhorar a sua vida, na Roda da Fortuna pode-se simplesmente admitir que, às vezes, o Querente tem sorte, independentemente de tudo o resto. Esta carta pode também significar movimento, evolução, mas o seu principal sentido é o de que haverão mudanças para melhor aparentemente fortuitas, imprevisíveis. O Querente conseguirá “o tal” emprego, “a tal” promoção, “a tal” pessoa especial, “a tal” oportunidade pela qual esperava. Chamemos-lhe destino, recompensa kármica por tudo de bom que já fizemos na vida, ou simplesmente sorte. Mas quaisquer que sejam as “lotarias” da vida do Querente, ele acabou de acertar no “jackpot”!





A Roda da Fortuna no baralho Kayne's Celtic Tarot








sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

The Nuts and Bolts of Meditation - Parte IV

CÉREBROS E COMPUTADORES: Que Diferenças?

Vimos que existem algumas semelhanças entre o nosso cérebro e um computador. No entanto, existem quatro diferenças fundamentais entre eles:

1. O nosso cérebro regista tudo!

Enquanto estou a digitar, a memória RAM do computador só transfere a informação para o disco rígido ou para a memória de longo prazo quando eu assim o indicar. Tenho de iniciar o processo de “guardar esta informação”, ou perco tudo o que escrevi até agora!

O nosso cérebro ainda possui um registo do dia em que nascemos. Esse registo contém toda a informação sensorial desde o nascimento. Todas as visões, sons, sabores, toques e cheiros estão lá guardados com grande detalhe.

2. O nosso cérebro regista a informação holograficamente.

Quando pedimos ao computador para “guardar”, todo o trabalho que está temporariamente na memória RAM é transferido para uma localização específica no disco rígido. Se essa localização for danificada, a informação aí armazenada é perdida.

No nosso cérebro não existem “centros de memória” como o disco rígido do computador. O registo das informações é feito de forma holográfica, um conceito difícil de compreender, por isso comparemos um cérebro “vazio” a um jarro com água pura. Digamos que a nossa experiência de nascer é como uma pequena gota de corante azul que cai dentro do jarro com água, e que cada experiência sensorial seguinte é uma gota de outra cor diferente. Vamos assumir que temos um número ilimitado de cores disponíveis, pelo que cada cor representa uma experiência sensorial diferente. Em pouco tempo a experiência de nascer estará “submersa” sob todas as cores ou memórias que fomos acumulando desde esse momento. Podemos pensar que esquecemos essa experiência, mas ela ainda lá está.

Cada pedaço de informação que experimentamos está registado um pouco por todo o nosso cérebro (como cada corante que se vai dissolvendo na água)! Isso significa que não podemos corrigir ou apagar qualquer informação; na realidade, nem sequer podemos “gravar” por cima de um registo já existente. Todas as experiências, desde que nascemos, incluindo as emoções a elas associadas, são registadas pelo cérebro, e esse registo permanece para sempre.

3. O nosso cérebro processa mais do que um “programa” simultaneamente!

Enquanto que a memória RAM do computador consegue apenas processar um programa de cada vez, a memória de curto prazo do nosso cérebro pode processar cerca de 5 a 9 “programas” ou tarefas diferentes e mostrá-las no nosso “monitor” da consciência – todas ao mesmo tempo! Por isso, mesmo que eu esteja concentrada numa determinada tarefa, a minha memória de curto prazo consegue também processar o programa de rádio que ouço, o cheiro da comida quente na cozinha, o movimento físico e o sentido do tacto dos meus dedos enquanto digito no teclado: estes são apenas alguns dos “programas” que estão a decorrer, todos ao mesmo tempo.

4. O nosso cérebro filtra a informação automaticamente!

Existe uma grande quantidade de informação sensorial a chegar ao cérebro permanentemente. Por exemplo, toda a nossa pele está coberta de milhares de milhões de sensores de tacto, dor, calor, etc. Esses sensores não são do tipo on/off; são células vivas que enviam sinais constantemente. O nosso “monitor” da consciência, de memória de curto prazo, pode processar alguns programas ao mesmo tempo, mas não pode lidar conscientemente com toda a informação sensorial disponível.

Para nos concentrarmos naquilo que estamos a fazer em determinado momento, o nosso “filtro consciente” limita a informação que é transmitida à memória de curto prazo. Esse filtro reside na mente inconsciente, e responde à nossa atenção. Ele “diminui o volume” da informação sensorial, para que não nos perturbe. Eis uma forma simples de o demonstrar:

Reconheça que está atento ao que está a ler neste momento. À medida que vai lendo, desvie o seu “monitor da consciência” – a sua atenção – ligeiramente para o peso do seu corpo na cadeira, a sensação dos pés a tocar no chão, os sons que estão à sua volta, as imagens que consegue captar na sua visão periférica e, finalmente, o sabor na sua boca e o cheiro do ar que o envolve.

Estes são inputs sensoriais que o nosso cérebro processa continuamente. O “filtro consciente” reduz o “volume” dos inputs que não requerem a nossa atenção imediata, mas não os ignora por completo.

No exemplo descrito atrás, o leitor tornou-se consciente de certos inputs, e pode ser capaz de recordar o que sentiu durante esse processo, mas é importante lembrar que o nosso cérebro regista tudo o que se passa, a todo o instante. E faz mais do que filtrar a informação de que não necessita nas actividades quotidianas. Com o tempo, o nosso cérebro cria um “programa” que consegue modela a forma como compreendemos a informação que consegue passar para o nosso “monitor consciente”…

Adaptado de: The Nuts and Bolts of Meditation