quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Ah, os relacionamentos...

Porque é que eu não tenho sorte ao amor, inclusive já muito amarguei por ter escolhido sempre os homens mais complicados e com caracteres duvidosos. 

Paula, Lisboa

Adaptado de Astrodienst
Os relacionamentos são uma das principais ferramentas de aprendizagem que encontramos na vida. Em toda a interacção com outra pessoa existe, antes de mais, a oportunidade de aprendermos um pouco mais sobre nós próprios. Esta perspectiva será uma forma "equânime" de olhar os relacionamentos amorosos em especial, onde tantas emoções aprazíveis e dolorosas se cruzam e misturam e nos confundem muitas vezes.

Todos nós temos facetas da nossa personalidade que não compreendemos bem, que parecem não fazer sentido, que não são aceitáveis para os padrões morais que assimilamos dos nossos pais e da sociedade em que vivemos, e/ou que não se integram na imagem coerente que pretendemos construir de nós próprios. Ora não está escrito em lado nenhum (que eu saiba ;-) que é suposto o ser humano ser coerente, mas é-nos confortável acreditar que conseguimos sê-lo, e portanto esperamos dos outros também algum grau de coerência. Questão de previsibilidade que nos faz sentir um pouquinho mais seguros, num mundo onde na realidade pouco ou nada controlamos. Acontece que as facetas de nós que não contribuem para a tal "coerência" são atiradas para um cantinho do Inconsciente onde, inconscientemente, nos parece que não afectarão a coerência a que aspiramos. Mas essas facetas nasceram connosco, são parte de nós, constituem necessidades válidas que precisam ser expressas e satisfeitas de alguma forma. Por isso, acabamos por atrair para a nossa vida as pessoas que personificam essas facetas: ou seja, satisfazemos as nossas necessidades não reconhecidas através daqueles por quem nos apaixonamos, como se vivêssemos as partes de nós que permanecem inconscientes através da pessoa que está ao nosso lado. Enquanto nos sentimos completos, estamos felizes na relação. Quando voltamos a negar essas necessidades, sentimo-nos insatisfeitos com a outra pessoa - não pelo que ela é, mas pelo quanto de nós vemos reflectidos nela sem que o consigamos aceitar.

Este tema astrológico aponta para uma grande concentração de energias na esfera dos relacionamentos. Sol, Mercúrio e Nodo Ascendente em Peixes indicam a construção de uma identidade e de um sentido de propósito maior a partir das experiências a dois. Este ego evolui quando é capaz de transcender a sua condição de ser humano individual, diluindo-se na partilha de sentimentos e de sonhos, "perdendo-se" no ego da outra pessoa. Oposto a tudo isto, o Ascendente Virgem impõe uma visão do mundo bem mais pragmática, mais analítica. Esta será provavelmente a sua "máscara social": a de uma pessoa organizada, centrada nos problemas concretos do quotidiano, que se mantém sob controlo, com elevado sentido crítico para consigo e para com os outros. Porque o Nodo Descendente está em conjunção ao Ascendente, esta é a forma de funcionamento em que se sente mais confortável (sem bem saber porquê), aquela em que tende a refugiar-se por medo ou inércia. Nesta dualidade entre Virgem (o seu lado "formiguinha", dedicado a definir tudo em termos bem concretos e funcionais) e Peixes (o seu lado "cigarra", que aspira a "perder-se" num mundo de emoções), é bem mais provável que assuma sem esforço a sua faceta "formiguinha" e projecte nos outros a "cigarra" que tem dificuldade em reconhecer como fazendo parte de si.

Enquanto isto acontecer de forma inconsciente, terá tendência para se relacionar com homens em quem encontra muitas das características do signo Peixes. Na fase inicial da paixão, verá no Outro um idealista, um sonhador, alguém com quem apetece desaparecer da realidade, mergulhar num sentimento avassalador para nunca mais vir à tona. Com o tempo, a sua "formiguinha" tende a tornar-se mais crítica. Afinal, se não é capaz de aceitar o seu lado Peixes, como pode aceitá-lo na pessoa que está ao seu lado? Daí que, aos seus olhos, essa pessoa se torne inconstante, inconsistente, irresponsável, pouco confiável, até mesmo preguiçosa. Não estou a dizer que os homens com quem se relacionou não lhe deram de facto motivos para se sentir desiludida. O que estou a dizer é que, à partida, havia uma enorme parte de si que buscava a ilusão do amor perfeito - ainda que o preço final a pagar fosse a dor do desapontamento.

Existem outras necessidades em conflito no seu mapa que dificultam uma tomada de consciência dos motivos por que tem sofrido tanto nos seus relacionamentos. A esse respeito, aqui ficam algumas propostas de reflexão:

- Vénus e Quíron estão conjuntos em Carneiro (ou Áries) ainda na casa 7: a necessidade de dominar nos relacionamentos, de impor a sua vontade ao outro - ainda que essa atitude esconda a sua ferida quirónica da falta de identidade própria.

- A Lua em Caranguejo (casa 10): a necessidade de se afirmar no mundo como mulher de família, mãe, aquela que nutre emocionalmente os outros e que se sente nutrida quando se envolve em projectos que lhe permitem ser cuidadora e estabelecer vínculos emocionais fortes e profundos.
- Plutão e Urano (casa 1), ambos em quadratura à Lua e opostos ao Sol e a Vénus/Quíron, respectivamente: a satisfação nos relacionamentos parece-lhe incompatível quer com as suas aspirações sociais/profissionais (as necessidades lunares já descritas), quer com o desenvolvimento do seu poder pessoal e de uma expressão autêntica da sua individualidade.

Tudo isto contribui para a possibilidade de existirem jogos de poder e de ilusão nos seus relacionamentos, muitas vezes de ambas as partes. Afinal, vítima e carrasco são faces da mesma moeda, e quando duas pessoas interagem com essa dinâmica a questão de "quem interpreta que papel" encontra resposta diferente consoante a situação ou o modo como ela é analisada. Atitudes de autoritarismo directo de uma pessoa podem encontrar, na outra pessoa, alguém que se vitimiza e manipula sentimentos de culpa para dar a volta a uma situação desfavorável, por exemplo. Não estou a afirmar categoricamente que isto se tenha passado consigo, mas desafio-a a reflectir sobre o assunto tão honestamente quanto possível.

O que há então a fazer? Bem, o primeiro passo será reconhecer o quanto de si tem projectado nos homens com quem se relaciona ou relacionou. Como já referi, todas as nossas necessidades são válidas e merecedoras de satisfação plena, mas o que muitas vezes acontece é que não somos capazes de lidar com necessidades aparentemente contraditórias entre si. Além disso, sejamos ou não capazes de reconhecê-las como nossas, acontece também não sabermos como satisfazê-las adequadamente. Como alguém que bebesse um refrigerante muito açucarado para matar a sede, quando água seria sem dúvida a melhor opção. Resultado: ainda mais sede. Se não parar para redefinir o que é "sede", vai continuar a beber refrigerantes por muito tempo... Talvez tenha acontecido isso consigo, se em vez de "refrigerantes" pensar em maus relacionamentos, e se em vez de "sede" colocar uma das muitas necessidades que identifiquei no seu tema astrológico (mas que só você saberá o que significam na sua vida).

Nesta metáfora, é possível encontrar água onde antes encontrava refrigerante. Não lhe compete mudar os outros, mas está perfeitamente ao seu alcance mudar a sua atitude para consigo mesma. Seja mais honesta no seu diálogo interior, não tenha receio de colocar o dedo na ferida! Perceba o quanto de si tem projectado nos outros. Aceite o seu lado sonhador, acarinhe-o para que deixe que ser um "ponto fraco", e não o recrimine pela ingenuidade se a ilusão de mais um amor se desfizer. Não abdique do seu poder pessoal e da sua autenticidade, mas respeite o direito da outra pessoa à sua própria individualidade. E acredite que o muito que precisa e deseja envolver-se emocionalmente não tem de limitar-se aos relacionamentos amorosos: a sua sensibilidade e empatia são talentos valiosos que pode utilizar, por exemplo, numa carreira profissional dedicada a cuidar dos outros.

Estas não são lições fáceis, rápidas ou indolores, para si ou para qualquer outro ser humano. Tenha paciência consigo mesma. Não atribua culpas: assuma responsabilidades. Não procure para já o próximo relacionamento amoroso: dedique algum tempo a conhecer-se melhor, a redefinir a sua auto-imagem, a descobrir as suas verdadeiras necessidades. À medida que for avançando sozinha nesta viagem tão pessoal, dará por si a cruzar-se com outro tipo de pessoas, com novas oportunidades de relacionamentos, mais conscientes do que aqueles que até agora teve, mais enriquecedores da pessoa que você nasceu para ser e em quem, aos poucos, se tem vindo a tornar.

domingo, 20 de novembro de 2011

Plutão em Aspecto aos Planetas Pessoais: Quem tem Medo do Lobo Mau?

Cá vai a resposta à segunda pergunta do Loan

2. Como vencer/trabalhar as pulsões destrutivas (excesso de quadraturas com Plutão) presente em meu mapa e que atrapalham os meus projetos? 
como usar as energias plutônicas do meu mapa de forma positiva?

Adaptado de Astrodienst
Plutão será talvez o planeta mais incompreendido do sistema solar, quer no sentido astronómico quer em termos simbólicos. Foi "despromovido" a planeta anão em 2006, mas dois anos depois a sua importância para a Humanidade foi uma vez mais confirmada quando a entrada de Plutão em Capricórnio sinalizou o início da crise financeira nos Estados Unidos - com repercussões para a Europa e o Mundo que até hoje continuam a multiplicar-se sem que se antecipe qualquer tipo de resolução. 

Astrologicamente, Plutão simboliza a força vital primária, aquela que anima todo o ser vivo e o impele a lutar pela sobrevivência e pela oportunidade de perpetuar a própria espécie. Nesse sentido, a energia plutoniana será a mais inumana de todo o Zodíaco, a mais básica e instintiva força colectiva que flui no Inconsciente Colectivo - uma força simultaneamente criadora e destruidora, arquétipo de Morte e Transformação, a Fénix renascendo das cinzas. 

No tema natal em análise, Plutão participa num T-square em oposição a Marte e quadratura ao Sol. Esta configuração sugere uma supressão do ego e da afirmação da vontade durante a infância. Enquanto crianças, não temos ainda maturidade emocional para lidar com a pressão psicológica que por vezes vivemos no nosso ambiente doméstico, e quando essa pressão é demasiado intensa para a nossa frágil psique criamos mecanismos instintivos de defesa que nos ajudam a "sobreviver" emocionalmente - mecanismos que surgem no tema natal representados por aspectos de Plutão a planetas pessoais. Aqui, a imensa energia plutoniana (que pode simplificadamente ser entendida como "matar ou morrer") é integrada na personalidade individual e colocada ao serviço da sobrevivência do ego. 

Neste T-square Plutão-Sol-Marte, temos as principais energias masculinas do mapa em conflito. Isto significa que a afirmação da identidade e da vontade própria eram sentidas, pela criança, como possíveis alvos de represálias por parte de alguém mais forte, que representava um papel decididamente dominante na sua família. Poderia ser um pai, um irmão, um avô... É possível que no ambiente familiar existisse muito ressentimento latente, ou algum segredo inconfessável), e mesmo que este não estivesse directamente relacionado com a criança (podia resultar, p.ex., de uma relação abusiva entre os pais), a criança terá crescido sentindo os seus desejos e decisões aniquilados pela necessidade de se submeter aos desejos e decisões da figura masculina dominadora, sob pena de fazer algo "reprovável" que pudesse condená-la a uma submissão psicológica ainda mais completa e dolorosa. Já na idade adulta, é provável que a memória emocional desse relacionamento antigo continue a condicionar a pessoa, levando-a a projectar as intenções dominadoras noutros homens - e portanto vitimizando-se e submetendo-se ao poder alheio - e/ou a assumir o papel de domínio, impondo aos outros a sua vontade, a qualquer preço. 

Os aspectos de Plutão podem assim resultar em comportamentos de manipulação mais ou menos inconscientes, em sentimentos de culpa ou vergonha, no secretismo ou na obsessão, na necessidade de manter os próprios sentimentos sob atento controlo - porque qualquer demonstração pode significar uma vulnerabilidade intolerável para a sobrevivência do ego. Quando Marte está envolvido, as intensas energias plutonianas fazem com que a criança interiorize que a assertividade é aniquiladora, para si própria e para os outros, e por isso aprende a controlar toda e qualquer expressão de agressividade, por mais ténue que seja. Infelizmente, a raiva é uma emoção forte que não pode ser mantida escondida por muito tempo, e nestes casos é possível que acabe por encontrar escape em formas de violência física, psicológica ou sexual, quer contra si próprio quer dirigida ao exterior, concretizada ou apenas fantasiada. 

Outro tema recorrente em Plutão é a vingança, a "justa retribuição" contra o "agressor". Mas esta é uma faca de dois gumes, porque muitas vezes a vingança é perseguida à custa do próprio sacrifício. Neste caso, porque a oposição Marte-Plutão se encontra nas casa 3-9, pode acontecer a auto-sabotagem do próprio percurso académico como forma de desiludir a tal figura dominadora, que sempre nos fez duvidar da nossa capacidade para competir intelectualmente. E fazêmo-lo do modo mais tortuoso possível, demonstrando que de facto "ele" sempre teve razão - que nunca fomos suficientemente ambiciosos para ir mais além na vida. Podem também surgir problemas no local de trabalho, em relacionamentos difíceis com colegas dispostos a tudo para vencer na vida, ou com quem nos sentimos forçados a competir ferozmente.

Enfim, reflectir sobre Plutão é termos a coragem de olhar para o que de mais obscuro e inconfessável existe dentro de nós. Afinal, todos temos algum esqueleto no armário (quer Plutão tenha alguma coisa a ver com isso ou não ;-) Neste tema natal, existem muitos factores que apontam para uma personalidade extrovertida, positiva! - a começar pelo Sol-Ascendente em Leão-Aquário. No entanto, Plutão pode de facto causar alguns problemas em determinadas áreas da vida, especialmente se mantiver as origens do trauma plutoniano enterradas no seu inconsciente por receio de perder o controlo das suas emoções. Com a Lua em Áries, você sentirá necessidade de competir, de superar os outros mas sobretudo de se superar a si próprio. Nada de errado com isso! Só que quando você tenta satisfazer essa necessidade essencial simbolizada pela Lua, é Marte o seu primeiro instrumento (porque Marte rege Áries). E quando o seu Marte "desperta" e se prepara para agir, acorda também o seu Plutão, e toda aquela pesada carga emocional que já referi acaba por interferir no processo. Já o Sol, que está sempre "desperto", assiste ao conflito tentando encontrar um meio-termo entre saudável afirmação e feroz instinto de sobrevivência, sem no entanto conseguir entender-se nem com Marte nem com Plutão. Confuso? Imagino... Difícil de gerir? Sem dúvida!

Felizmente existe já um extenso trabalho de investigação sobre este tipo de energias, e principalmente sobre o modo como podem ser compreendidas e transformadas em algo mais positivo para quem as carrega dentro de si (nesse sentido, recomendo vivamente o livro Healing Pluto Problems, de Donna Cunningham). Como fazer? Você já deu os primeiros passos, tentando entender estas dinâmicas e o modo como têm interferido negativamente na sua vida. Outra etapa importante será tentar perceber de onde surgiu o seu lado plutoniano, a dificuldade em lidar com a sua natureza mais instintiva. Aproveite a sua excelente capacidade analítica (Mercúrio em Virgem, em aspecto harmonioso quer a Plutão quer a Marte) e não tenha receio de olhar o problema de uma forma racional e pragmática: verá que, desta forma, muitas dos "monstros interiores" que sempre temeu não passam de sombras do Passado que já não podem magoá-lo no Presente. Observe os seus relacionamentos actuais, e perceba que comportamentos seus têm origem no Passado e não nas pessoas que estão hoje envolvidas consigo. Pode, por exemplo, sentir dificuldade em confiar nos outros, mas repare se objectivamente lhe deram motivos para isso ou não. Se se tem envolvido com outras pessoas plutonianas que não estão ainda suficientemente conscientes do seu próprio processo, afaste-se: apenas nutrem o seu lado mais negativo, e por enquanto não há nada que você possa fazer por elas. Se tiver oportunidade, leia o livro que recomendei há pouco - falo por experiência própria quando digo que pode fazer muita diferença, ajudando-o a compreender melhor o seu lado plutoniano e fornecendo vários tipos de terapia eficazes, como a meditação com mantras e os florais de Bach. 

Finalmente, uma sugestão que me parece lhe fará sentido: Esteja atento aos seus impulsos plutonianos, até os mais destrutivos. Sozinho em sua casa, ou num sítio onde se sinta seguro e em privado, medite sobre uma qualquer situação que tenha feito com que esses impulsos viessem à tona. Agressividade, obsessão, vingança, culpa, o que for... Imagine então que faz exactamente o contrário do que ditam esses impulsos. Imagine que abdica, voluntariamente, de qualquer tipo de controlo naquela situação em particular. Não custa imaginar, né? Lembre-se que está sozinho, num local seguro. Sabe que nada pode fazer-lhe mal, naquele momento. Experimente então libertar-se da necessidade de controlo. Abra mão do impulso. Imagine que é um pássaro negro que foge do seu peito, voando pela noite, levando consigo toda a carga emocional negativa que aquela situação despoletou em si... Pode ser uma ideia assustadora, eu sei. Retorne agora, mentalmente, à situação em que abdicou voluntariamente do controlo. O que aconteceu? Qual seria a pior coisa que podia acontecer? E se essa coisa acontecesse, o que sucederia depois?... E depois?... Respire fundo. Aperceba-se da sua presença física neste mundo. Você continua vivo, né? A vida continua. A sua, e a de todas as outras pessoas envolvidas na situação. Por mais dolorosa que a situação possa ter sido, a vida continuou, mesmo quando você teoricamente se libertou dos seus impulsos destruidores. 

É que esses impulsos, por muito reprováveis e negativos que hoje lhe pareçam, foram úteis em tempos, quando você tentava sobreviver a algo que a sua inocente alma de criança não estava preparada para enfrentar. Agora que você já é adulto, aceite que esses impulsos nasceram por uma boa razão, mas que já não lhe são úteis, já não cumprem a função para que nasceram. Porque você já não é criança, você sabe que existem formas muito melhores de se relacionar com as outras pessoas, formas que lhe permitem respeitar a sua liberdade e a liberdade dos outros. Você evoluiu, deixe que o seu Plutão evolua também - aprenda a reconhecer aquilo que no seu modo de ser deve "morrer" para que algo melhor possa nascer. E um Plutão "evoluído" tem um extraordinário poder de cura, precisamente porque nos torna capazes de mergulhar nas profundezas da alma e resgatar-nos à dor emocional que nos tortura. Com essa aprendizagem de nós próprios, tornamo-nos muito mais aptos a aceitar os fantasmas dos outros, a ajudá-los também com os seus próprios traumas. E aí reside a descoberta do verdadeiro poder pessoal, aquele que não assenta numa destrutiva luta pela sobrevivência, mas que aspira a criar algo maior que nós, melhor e mais autêntico. Numa verdadeira alquimia da alma, Plutão e as suas dolorosas lições podem, no final, ensinar-nos a transformar chumbo em ouro.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Uma questão de auto-suficiência

Desta vez, são duas questões para um mesmo mapa. E que questões.... Aqui fica a análise possível da primeira delas, a segunda seguirá num próximo post:

1. Tenho Vênus em Câncer em conjunção com Quíron e Júpiter e oposição a Saturno. Como você interpretaria esse aspecto e o que você aconselharia?

Loan, PA

Adaptado de Astrodienst
Quíron é um asteróide descoberto em 1977, com uma trajectória bastante excêntrica que na sua maior parte se encontra contida entre Saturno e Urano. Vários astrólogos de renome têm pesquisado e escrito sobre o seu significado, quer a partir da sua mitologia quer a partir da sua expressão em inúmeros mapas astrológicos. (Para mais informação, consultar o excelente trabalho de Melanie Reinhart, Joyce Mason ou Barbara Hand Clow). Já aqui publiquei um post mais completo sobre Quíron, mas os conceitos-chave até agora desenvolvidos para a compreensão do seu significado incluem o seguinte: uma profunda ferida emocional que não somos capazes de curar em nós próprios, mas que podemos utilizar como meio de auxiliar os outros no seu próprio processo de cura.

Onde quer que encontremos Quíron num tema natal, encontramos uma qualquer sensação inata de dolorosa insuficiência. Neste caso, a presença de Quíron em Caranguejo (ou Câncer :-) na casa 6 sugere uma dificuldade em "nutrir-se" a si próprio. O conceito de "nutrição" associado ao signo de Caranguejo é bastante abrangente, referindo-se tanto a "fome emocional" (de ligações afectivas profundas e sólidas, de se sentir protegido e acarinhado, de sentir que pertence a uma família, uma linhagem, uma herança cultural) como a "fome física" (de alimentos e tudo o resto que o corpo necessita pra se manter saudável). Outra manifestação típica da "fome" de Caranguejo é a profunda necessidade de ter um lar - espaço físico onde se refugia na sua privacidade, e conjunto de pessoas que quem partilha esse esse, e que podem ser a sua família biológica e/ou a família que constituiu para si.

Com Quíron em Caranguejo, toda esta "fome" pode ficar permanentemente insatisfeita. Porque Quíron está na casa 6, é provável que isso se reflicta na sua relação com a sua saúde, mas também com o seu espaço de trabalho e as pessoas que aí se relacionam consigo. Muitas vezes, a "ferida emocional" representada por Quíron pode passar despercebida na maior parte do tempo - mas imagino que não seja esse o seu caso. Com a conjunção Vénus-Júpiter a Quíron, você tenderá a ser uma pessoa muito optimista e expansiva nos seus contactos sociais e relacionamentos afectivos. Possui um charme natural que cativa quem consigo trabalha, e é bastante possível que se envolva afectivamente com algum(a) colega de trabalho. E porque estamos a falar de planetas em Caranguejo, é-lhe muito fácil criar empatia com as pessoas que consigo se cruzam no quotidiano, facilitando para si a resolução de todo o tipo de assuntos mundanos. 

E que desvantagens podem existir com uma conjunção aparentemente tão benéfica como Vénus-Júpiter? Bem, tudo depende do ponto de vista ;-) Esta conjunção tende a facilitar demasiado a vida ao seu feliz proprietário, que corre o risco de se tornar preguiçoso ou excessivamente confiante porque sabe que, no final, a sorte estará do seu lado, que todas as oportunidades de sucesso que deseje acabarão por lhe surgir sem grande esforço. Por outro lado, se a sua vida é recheada de facilidades, pode não entender verdadeiramente as dificuldades por que passam as outras pessoas, minimizando o seu sofrimento e alienando as suas legítimas necessidades.

Regresso a Quíron, e à sua ferida. A ferida que não é capaz de curar em si próprio. Estará a conjunção Vénus-Júpiter a trazer essa ferida à superfície de cada vez que se lança num relacionamento mais profundo, de cada vez que tenta satisfazer a sua "fome"? Ou, pelo contrário, estará a camuflá-la, escondendo-a por detrás de uma aparente facilidade em relacionar-se e ter sucesso no quotidiano? Podemos ver aqui várias camadas de satisfação, talvez. Numa camada mais superficial, você será super bem-sucedido a criar empatia com os outros, mas bem lá no fundo pode sentir que nunca é suficientemente amado ou compreendido, que não está verdadeiramente integrado no seu local de trabalho ou no seu grupo de amigos. E porque Júpiter tende a aumentar tudo aquilo em que toca, quando a ferida quirónica ascende à superfície pode trazer fases de grande desequilíbrio, em que todos os meios são válidos para tentar curá-la. Isso pode querer dizer excesso de comida, p.ex., ou carência afectiva e busca incessante de afecto em relacionamentos que, objectivamente, nunca foram mais do que contactos superficiais.

Oposto a tudo isto, temos Saturno no seu signo de regência, Capricórnio. Se Caranguejo é "fome" de segurança emocional, Capricórnio será "sede" de reconhecimento social. Podemos equipará-los simbolicamente à tradicional figura da Mãe (aquela que alimenta, dá carinho e protecção - Caranguejo) e do Pai (aquele que estabelece a sua autoridade, impondo limites e fixando a fasquia para o que deve ser o sucesso profissional e social - Capricórnio). Em toda a oposição há a tendência de projectar um dos extremos no exterior, encontrando-o no comportamento das outras pessoas - pelo menos até nos tornarmos conscientes de que esse extremo está dentro de nós. Neste caso, a satisfação da sua enorme fome emocional pode encontrar grandes obstáculos em pessoas autoritárias, rígidas, pouco afáveis no modo de se relacionar consigo. A presença de Saturno na casa 11 sugere que esse é o tipo de amigos que tende a agregar em torno de si, o que nem é de estranhar: os opostos atraem-se, e alguém que projecte a necessidade de ser protegido (Caranguejo) tenderá a atrair pessoas aparentemente mais maduras, com maior estabilidade pessoal e portanto com maior propensão para desempenharem o papel de protector (Capricórnio). Vivida de uma forma menos consciente, esta oposição entre a conjunção Vénus-Júpiter-Quíron e Saturno pode levá-lo a relacionamentos que, ao início, parecem preencher as suas necessidades afectivas, mas que com o tempo tenderão a tornar-se demasiado rígidos, limitantes, até monótonos e com pouco espaço para demonstrações de afecto, e que o poderão fazer sentir-se "desenraizado" de todo e qualquer grupo em que tente estabelecer vínculos afectivos. As pessoas que representam Saturno na sua vida tenderão a fazê-lo sentir-se imaturo, irresponsável, carente.... demasiado dependente dos outros, o que para alguém com um Sol em Leão não será nada fácil de digerir!

Não me considero à altura de aconselhar quem quer que seja, porque todos nós temos as nossas limitações e inseguranças - não sabemos o que é o melhor para os outros, e se soubermos o que é o "menos mau" pra nós próprios já será muito bom! Ainda assim, posso explicar-lhe o que seria na minha perspectiva uma expressão mais construtiva desta oposição.

Há algum tempo, num workshop a que tive o prazer de assistir, um astrólogo que muito admiro explicou que todos nós nos devemos tornar simbolicamente no nosso próprio pai e na nossa própria mãe. Ao observar a sua oposição Caranguejo-Capricórnio, lembrei-me instantaneamente desta ideia. 

E o que é sermos a nossa própria "mãe"? É amarmos quem somos pelo que somos (como uma mãe ama o seu filho incondicionalmente), nutrirmo-nos de corpo e alma com o "alimento" que nos preenche e nos satisfaz. Para tal, é importante identificarmos o "alimento", a necessidade básica e fundamental: no seu caso, com a Lua em Carneiro, você precisará de afirmar a sua individualidade junto das outras pessoas, marcando a sua posição, expressando a sua vontade. Antes de esperar que os outros o reconheçam, reconheça-se a si próprio como alguém que tem o direito de existir, de lutar e vencer, de deixar uma marca no mundo. Se for capaz de fazê-lo independentemente da aprovação dos outros, sentir-se-á mais seguro nos seus relacionamentos: não mais um refém do amor dos outros, mas o co-criador de ligações emocional profundamente enriquecedoras da sua individualidade.

E o que é sermos o nosso próprio "pai"? É tornarmo-nos responsáveis pela nossa própria segurança, pelo sucesso ou insucesso das nossas escolhas. É aceitarmos as responsabilidades que nos cabe assumir na vida, e encararmos com serenidade as inseguranças e limitações que podem estimular-nos a ir mais além, em vez de nos restringir a atitudes defensivas e de auto-derrota. É também sermos capazes de assumir um papel sólido na vida das pessoas que amamos, oferecendo protecção, segurança, compromisso.

Assim desenvolvendo os extremos desta oposição que o seu mapa lhe propõe viver, terá oportunidade de descobrir o enorme talento de Quíron em Caranguejo na casa 6, que é o de cuidar das feridas emocionais dos outros, proporcionando-lhes um espaço de cura onde se sintam protegidos, aceites, amados. E com uma ajudinha de Vénus e Júpiter - além do MC em Escorpião, signo da regeneração profunda -, não há razão para não fazer disso uma profissão muito bem sucedida - desde que, a seu tempo, seja capaz de trabalhar com dedicação e responsabilidade (Saturno em Capricórnio) em vez de confiar apenas na sorte. 

Por agora é tudo. Fiquem atentos às cenas dos próximos capítulos...

domingo, 6 de novembro de 2011

Independência: quando é demais?

O meu modo de estar é demasiado independente, não sei ouvir a opinião dos outros, e pior que isso, nem sei como pedi-las. Sou eu que decido e comunico as decisões. Sempre fiz isto a minha vida toda. 
Esta independência é muita responsabilidade para mim, estou cansada.
Existe alguma característica do meu mapa onde se veja isto?
E existe alguma coisa onde eu possa me agarrar para equilibrar isto?
Durante muitos anos isto só me trouxe vantagens, a mim e aos outros, e por isso mantive e reforcei essa característica de independência absoluta, mas agora tenho a certeza que é demais, preciso de algum equilíbrio e partilha na minha vida.

Maria do Espírito Santo, RS

Adaptado de Astrodienst
Equilibrar o desenvolvimento da própria identidade com a necessidade de relacionamento com as outras pessoas é tarefa para uma vida inteira. Na melhor das hipóteses, vamos conseguindo uma espécie de equilíbrio dinâmico capaz de evoluir e adaptar-se ao nosso crescimento e maturação como ao crescimento e maturação daqueles com quem nos relacionamos, qualquer que seja a natureza dessa relação. Muitas pessoas passam uma grande parte da sua vida sem ter noção sequer da necessidade desse equilíbrio, vivendo um de dois extremos: perante a vontade alheia, cedem demasiado ou não cedem de todo.

Esta dificuldade em encontrar um ponto de equilíbrio pode assumir muitas formas, num mapa astrológico. Neste caso, o extremo até agora experimentado é o da "independência absoluta". O mapa astrológico atesta bem este traço de personalidade: Sol e Mercúrio em Aquário (identidade e raciocínio que se desenvolvem através da liberdade pessoal, do não-compromisso com dogmas alheios ou necessidades sentimentais), Vénus ascendendo em Capricórnio (filtrando a experiência do mundo através de uma lente pragmática sobre os relacionamentos, que devem servir um propósito e obedecer a uma estrutura bem definida e controlada). O regente do mapa é Saturno, "entrincheirado" em Carneiro na casa 3: necessidade de afirmação da própria identidade na esfera da comunicação. Pode haver tendência para impor controlo e limitações às ideias dos outros como forma de evitar lidar com as suas próprias inseguranças, sobretudo no que diz respeito a fazer valer os seus pontos de vista pelo que de autêntico transmitem sobre si. E é muito possível - também pelas suas palavras - que tenha vindo a assumir um excesso de responsabilidade nesta área, chamando exclusivamente a si o dever de encontrar respostas, de estabelecer pontes de comunicação e de gerir o fluxo de informação no seu ambiente próximo.

Outro factor importante a considerar é o trígono Vénus-Urano/Plutão, envolvendo a casa 8, que sugere uma duplicidade no modo de relacionar-se com os outros: por um lado, a defesa intransigente da própria independência (Vénus-Urano, mais o Sol em Aquário); por outro lado, a negação (provavelmente inconsciente) da independência do Outro, numa lógica do tipo "ou domino ou serei dominada" (Vénus-Plutão).

Ora, se aparentemente a vida lhe tem corrido bem até agora, porquê essa emergente necessidade de equilíbrio? Porque a posição actual dos astros, projectada no seu mapa, sinaliza um importante momento de viragem. Saturno está em trânsito ao seu Nodo Descendente em Libra, pedindo-lhe que honre o desejo de harmonia na relação com o Outro que sempre existiu dentro de si, que modere a necessidade de auto-afirmação prepotente sem ceder ao receio de se perder de si mesma no processo. Afinal, encarar as pessoas que a rodeiam de igual pra igual não significa valorizar-se menos (que essa Lua em Leão precisa tanto de ser valorizada....!), significa isso sim reconhecer nos outros o seu real valor. Plutão dá um forte impulso à cura emocional, transitando pela casa 12 em quadratura a Saturno natal (e ainda em trígono a Júpiter natal na casa 8), trazendo à superfície muitos segredos, ressentimentos, e emoções difíceis de gerir e de digerir. A "carapaça emocional", que lhe permitiu até agora assumir grandes responsabilidades assumindo uma posição de liderança incontestada, está prestes a desintegrar-se porque não pode mais acomodar o desenvolvimento do seu Eu Superior. O lugar que ocupa no mundo (quer na sua vida profissional quer no seu estatuto social) pode sofrer grandes convulsões, em paralelo com a completa transformação da sua noção de autoridade pessoal.

Saiba que as inquietações com que agora se confronta podem bem ser apenas o começo. Com uma conjunção entre Sol e Lua progredidos sobre o seu Saturno natal, o foco da sua consciência e da sua motivação incide neste momento sobre as suas maiores inseguranças: o seu Eu superior pede-lhe um auto-exame completo às suas estruturas interiores, ao seu sentido de responsabilidade para consigo e para com os outros. Nada deve ficar por avaliar. Não se tornará mais fácil nos próximos anos, mas acredite que o seu processo de aprendizagem nesta vida está prestes a avançar tremendamente. Torne-se mental e emocionalmente disponível para enfrentar as dúvidas que lhe vão surgindo com crescente insistência. Não tenha receio de questionar-se. O seu Sol em Aquário pede-lhe que ouça os outros, que compartilhe ideias livremente sem que isso implique uma permanente batalha de egos, ou uma questão de sobrevivência emocional. Honre também o melhor que a sua Lua em Leão pode proporcionar: a ampla generosidade que irradia do seu coração sem esperar nada em troca, obtendo do simples prazer de se dar uma recompensa infinitamente maior do que a lisonja ou submissão dos outros. Saiba que consegue ser forte perante as dificuldades que enfrenta sozinha, mas acredite que muita resiliência tem ainda por descobrir nas ligações que estabelece com aqueles que ama. Aprenda a expressar mais construtivamente a sua Vénus ascendendo em Capricórnio: mantenha-se fiel aos compromissos que estabelece em todos os relacionamentos, mas flexível naquilo que espera dos outros, dando espaço à diversidade de pensamentos e sentimentos sem sentir que isso compromete a sua própria integridade.

... e muito mais haveria para dizer. Qualquer mapa astrológico contém infinitas possibilidades de evolução. Explore sem tabus os caminhos que o momento actual lhe começa a mostrar, e encontrará para si mesma o equilíbrio por que anseia na sua relação consigo e na sua relação com os outros. 

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Saturno, Urano e Auto-Aceitação

Tenho Lua em conjunção com Marte em Gêmeos na casa 7 e Quíron também nessa mesma casa/signo, o que pra mim é um dos pontos mais complicados do meu mapa no sentido de auto-aceitação.

André (SP, BR)

O tema da auto-aceitação é uma questão problemática para muitos de nós. Desde cedo começamos a aprender que existem condições para sermos aceites pelos outros. Ainda que a imposição de limites seja uma ferramenta educativa essencial à integração harmoniosa no mundo, por vezes esses limites atingem o ego e as suas necessidades mais básicas de forma demasiado marcante. É o que acontece, p.ex., com a criança a quem ensinam que o mau comportamento levará à perda do amor ou da atenção dos pais. Aquilo que devia ser incondicional (o Amor) torna-se moeda de troca, e essa moeda instala-se no diálogo interior do adolescente e adulto com problemas em aceitar-se a si próprio ("Se não tiveres um emprego estável, és um falhado que não merece amor de ninguém.", etc).

No mapa astrológico, os desafios à capacidade de auto-aceitação podem estar simbolizados de várias formas. Quando olhei o mapa do André, dois importantes factores depressa se destacaram: a oposição Sol-Saturno (com Sol em conjunção ao Descendente) e a oposição Lua-Urano (com Lua na casa 7 e Urano na 1). 

Adaptado de Astrodienst
A oposição Sol-Saturno é típica do confronto com a autoridade. Aqui, o desenvolvimento da identidade (Sol) tende a ser restringido por uma autoridade restritiva (Saturno). Na primeira fase da vida, a autoridade representada por Saturno é-nos imposta do exterior por pais e educadores, mas idealmente e à medida que vamos amadurecendo temos oportunidade de integrar noção de limites e sentido de responsabilidade no conjunto da nossa identidade - tornando-nos "adultos bem comportados" :-) No entanto, quando há uma oposição Sol-Saturno no tema natal, a autoridade tende a ser sentida como profundamente restritiva da identidade. Qualquer tentativa de integração harmoniosa parece pura utopia, e na idade adulta pode ser frequente a projecção nos outros de um dos lados da oposição por incapacidade de o reconhecermos em nós. Se negarmos Saturno, podem surgir problemas com pessoas a quem atribuímos um perfil autoritário e que nos impõem demasiadas responsabilidades. Se negarmos o Sol, voltamos as costas à nossa identidade primordial para satisfazer as exigências de uma autoridade interior impossível de agradar. Porque o Sol está em conjunção ao Descendente - símbolo da natureza das relações que estabelecemos com os outros - a possibilidade de projecção é ainda maior.

A oposição Lua-Urano surge reforçada pela conjunção da Lua a Quíron e a Marte, todos em Gémeos. A Lua indica as nossas necessidades mais básicas, e a sua presença na casa 7 aponta para "fome" de relacionamentos. O panorama é de profundo desejo de ligação emocional que se quer baseada na comunicação e na partilha de interesses intelectuais comuns (Gémeos). No caso do André, é possível que tenha passado a maior parte da sua vida concentrado nos seus relacionamentos, porque é nessa esfera da experiência que ele constrói a sua identidade (Sol conjunção ao Descendente) e que ele satisfaz as suas necessidades emocionais e de afirmação pessoal (Lua e Marte, respectivamente, na casa 7). Isto pode gerar algum desequilíbrio interior em termos de auto-aceitação, porque há a tendência para fazer depender dos outros a validação de quem somos e do que precisamos: se nos relacionamos com quem não nos dá valor, o mais provável é sentirmos que não temos valor.

Os planetas transpessoais (Urano, Neptuno e Plutão) encontram-se muitas vezes "adormecidos" na vida do comum dos indivíduos, ou seja, não são expressos de uma forma consciente porque efectivamente não correspondem à tentativa de satisfação das necessidades mais básicas (segurança material, afecto, etc), mas antes a um apelo maior de desenvolvimento pessoal e transcendência. Com Urano na casa 1, oposto à Lua, o André terá em si um profundo desejo de afirmar a sua identidade única e especial, independentemente do que os outros possam pensar ou dizer. É provável que esse desejo tenha vindo à tona nos últimos anos, em especial no período 2006-2008, por ocasião de uma mudança de casa (aqui casa "real", endereço ou cidade ou país, não casa astrológica :-), de alterações inesperadas nas suas relações familiares ou de um súbito interesse romântico. Nesse período, e talvez pela primeira vez na sua vida, pode ter sentido um apelo muito forte para traçar o seu próprio caminho, um caminho inesperado e certamente incompreendido para muitas das pessoas com quem se relaciona. Esse caminho passa por uma descoberta de si próprio, dos seus valores espirituais e filosóficos, de uma visão mais idealista da vida que se recusa a ser limitada pelos preconceitos e estreiteza de mente das outras pessoas. 

Ambas as oposições analisadas traduzem efectivamente um caminho para a auto-aceitação. Acredite, André, que os opostos podem ser reconciliados e produzir algo de espantoso, para si e para as pessoas da sua vida. E parabéns por ter já iniciado a sua jornada!