Os trânsitos de Neptuno são, por definição... confusos. Qualquer que seja o planeta natal ou a casa astrológica "afectados", Neptuno traz uma grande indefinição até mesmo ao mais resoluto dos mortais.
Na esfera dos relacionamentos, Neptuno pode ser responsável por etapas de grande inspiração: ... e de repente vemos noutra pessoa a nossa Alma Gémea! Pode ser alguém com quem nos relacionamos há muito tempo, ou pode ser um desconhecido com quem trocámos olhares no autocarro. O que acontece é que o contacto de Neptuno com um dos nossos planetas pessoais vem trazer à nossa humilde condição humana um pouco do amor divino, aquele sentimento sobrenatural de total imersão no Amor Absoluto do Cosmos. Este é o êxtase que tantos religiosos procuram em longas horas de meditação, em laboriosos períodos de jejum e penitência. E no entanto aqui está ele, perfeitamente focalizado noutro ser humano, como se esse outro ser humano fosse capaz de nos conduzir à salvação da alma (ou à condenação eterna).
Por mais irresistível que pareça a promessa romântica de muitos trânsitos de Neptuno, cedo ou tarde ela se revela impossível. Não porque a outra pessoa seja comprometida, ou porque vá em breve partir definitivamente para longe, por exemplo. Podem ser estas as circunstâncias, mas os motivos do impossível neptuniano são mais profundos. É que o êxtase da comunhão espiritual não cabe num relacionamento a dois. Não por muito tempo, pelo menos. Confundir amor divino com amor humano é o drama de todo o romântico incurável, um drama que artistas de todas as épocas bem souberam retratar nas suas obras. Romeu e Julieta, Tristão e Isolda. Amores demasiado grandes para serem vividos por meros mortais. Que teria acontecido a estes famosos pares românticos se não fosse a Morte? O tédio? Talvez não. Mas a magia do amor romântico, o amor das ilusões, não é compatível com a rotina diária, com o confronto de egos, desejos e necessidades que está sempre presente numa relação, por mais harmoniosa que seja.
Nesse sentido, e voltando a Neptuno, os seus trânsitos vêm muitas vezes trazer ilusão e desilusão. A miragem do amor perfeito que depois se esfuma, mais cedo ou mais tarde, por conta de um qualquer motivo racionalmente plausível mas emocionalmente devastador. Algumas pessoas tentarão (re)encontrar uma e outra vez a mesma sensação de união a algo maior. Talvez no sexo, nas drogas, ou noutra qualquer forma de escape. Porque Neptuno é isso, é querer que a nossa pele se dissolva para nos tornarmos um só com tudo o resto, escapando à nossa condição humana de inevitável solidão.
Noutros casos, os trânsitos de Neptuno mergulham-nos em situações dúbias, difíceis de entender, em que algo inevitavelmente nos escapa - ainda que não saibamos explicar o quê. Ou somos nós que nos colocamos no papel de ilusionista, dissimulando a verdade para servir propósitos menos honrosos. Mas como diz o velho ditado (?):
Podes enganar algumas pessoas o tempo toda, e todas as pessoas durante algum tempo, mas não podes enganar todas as pessoas o tempo todo.
Olhando Neptuno de uma forma mais construtiva, os seus trânsitos podem servir para honrar um ideal maior que nós, e assim tornamo-nos capazes de co-criar melhores relacionamentos. Quem foi que disse que duas pessoas que se amam não devem olhar uma para a outra, mas olhar na mesma direcção? Talvez Neptuno possa ajudar a apontar essa direcção, estimulando a imaginação e a vontade de dar corpo e voz a uma causa maior. Porque não envolverem-se nessa causa maior, a dois? Arte, filantropia, assistência humanitária... Não ficará mais rica a vossa relação se dela forem capazes de extrair algo mais do que apenas o vosso bem-estar?
Porque não dar amor ao mundo, tal como dão um ao outro? Pois que essa é talvez uma das maiores lições de Neptuno: Amor é Amor, e não vale a pena centrá-lo apenas numa outra pessoa - e dar-lhe o pomposo título de "Alma Gémea" - pois que o verdadeiro Amor está em todos e em toda a parte. Basta saber olhar.
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