Um leitor interessado deixou no Consultório Astrológico a seguinte questão:
Oi, gostaria de sugerir uma postagem sobre "casimi": o que é, no que influência, ajuda ou não no nosso mapa (no caso não no meu, não sei se feliz ou infelizmente!), e quando se trata do Sol a Vênus (como li que tem no mapa de Oprah Winfrey), é verdade que essa conjunção faz auxiliar na superação dos obstáculos e dentro da medida do aceitável (conforme empenho e trabalho,claro!) propicia glória e até mesmo fortuna?
O termo Cazimi (ou Casimi, ou ainda Zaminium) é de origem arábica, significa "no coração do Sol" e descreve a conjunção muito próxima de um planeta ao Sol, num intervalo de apenas 17 minutos. O Cazimi será então um tipo especial de combustão, um termo que designa a obscuridade relativa de um planeta quando observado a olho nu, sempre que está suficientemente próximo da luz do Sol. A distância ao Sol (em graus) à qual se inicia o fenómeno visual da combustão de um planeta é variável:
Lua: 12º
Mercúrio: 14º em movimento directo ou 12º em movimento retrógrado
Vénus: 10º em movimento directo ou 8º em movimento retrógrado
Marte: 17º
Júpiter: 11º
Saturno: 16º
Na generalidade dos escritos de Astrologia Medieval que nos chegaram até hoje, um planeta deve ser considerado combusto apenas quando se encontra num intervalo de 5 a 8º do Sol - o que corresponde ao que muitos dos astrólogos modernos consideram ser uma orbe (desvio a um aspecto) aceitável para qualquer conjunção.
É bom ou é mau?
O significado simbólico de um Cazimi - como da combustão - depende da abordagem utilizada. Na astrologia védica, a energia dos planetas em combustão é considerada muito enfraquecida.Já William Lilly (importantíssimo astrólogo medieval da abordagem horária) considerava que um planeta em Cazimi teria uma força espantosa. Para alguns autores modernos de Astrologia Psicológica, a energia solar é entendida como o veículo perfeito para a total expressão do planeta em combustão.
Em meu entender, não há tal coisa como aspectos "bons" ou "maus". Existem recursos e dificuldades, que podem ser vividos de forma mais harmoniosa ou mais turbulenta. Um mapa repleto de coisas "boas" pode tornar a pessoa mais preguiçosa e displicente (pra quê esforçar-se, se consegue tudo facilmente?), e um mapa repleto de coisas "más" pode tornar a pessoa mais perseverante e adaptável às circunstâncias interiores e exteriores.
Tomemos então o exemplo de Oprah Winfrey. O seu mapa mostra uma conjunção muito próxima entre Sol e Vénus - distam apenas 49', mas pelos critérios já descritos Vénus não está em Cazimi. Ainda assim, vale a pena reflectir sobre esta Vénus em combustão a partir do que sabemos da vida pública e privada de Oprah. Ela nasceu de uma relação ilegítima e sofreu com a negligência da mãe desde muito cedo (Lua em sesquiquadratura a Urano). Foi abusada sexualmente (Plutão na casa 8 em quadratura a Marte em Escorpião, IC em Carneiro) e chegou a ser mãe aos 14 anos, embora o bebé prematuro não tenha sobrevivido além de 2 semanas. Por aqui vemos que o desenvolvimento da sua identidade deve ter evoluído inevitavelmente a partir dos seus relacionamentos (Sol em conjunção a Vénus), e que só com a adopção de valores muito sólidos (Vénus) pode Oprah ultrapassar as relações traumáticas da sua infância e adolescência e progredir na (re)construção da sua vida e na descoberta e consolidação da sua vocação profissional, social e espiritual (Sol). Não lhe chamaria "sorte", porque a sorte somos nós que a fazemos ;-), e todos nós decidimos diariamente que caminho queremos seguir. Qualquer pessoa com uma conjunção (e ainda mais com um casimi) entre Sol e Vénus sentir-se-á compelida a descobrir-se através dos seus relacionamentos. Se isso conduz a uma identidade sólida e independente, ou a um ego frágil e influenciável, não é possível determinar à partida. De que modo esta pessoa utiliza o seu provável charme natural, é questão de livre arbítrio. Para manipular e embarcar em relações co-dependentes, ou para desenvolver verdadeira harmonia e cooperação com os outros?
Observando esta Vénus em combustão na sua expressão mais construtiva, pode de facto proporcionar uma grande afabilidade no trato com os outros, uma tendência natural para apaziguar e mediar disputas, para exprimir a centelha divina que em cada ser humano habita de uma forma harmoniosa e até artística. Ainda que nem todos possamos ser a Oprah, talvez aqueles que beneficiem deste aspecto possam trazer ao mundo um pouco mais de paz, de beleza e de mútua compreensão.
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