sexta-feira, 28 de março de 2008

Espiritismo

“Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar. Tal é a Lei!”

Allan Kardec (Professor Francês, 1804 - 1869)

“A morte é a mudança completa de casa sem mudança essencial da pessoa.”

Chico Xavier (Médium Brasileiro, 1910 - 2002)

Em meados do séc. XIX, o francês Allan Kardec introduziu o termo Espiritismo no primeiro volume da sua obra “O Livro dos Espíritos”. “Coisas novas merecem novos nomes”, e esta doutrina que se começava a desenvolver recebia agora um nome próprio. As teorias de Kardec surgiram da sua experiência na observação de uma série de fenómenos cuja explicação só poderia ser artibuída à existência de inteligência não-corpórea (Espíritos). A ideia de que era possível comunicar com os espíritos foi apoiada por muitos contemporâneos de Kardec, incluindo cientistas e filósofos, e o seu trabalho foi continuado por sucessores como Leon Denis, Arthur Conan Doyle e Chico Xavier, entre outros.

O Espiritismo é uma doutrina filosófica, não uma religião, que pretende estudar e reflectir sobre a relação entre os seres incorpóreos (Espíritos) e os seres humanos. O conceito de Deus – fonte suprema de todos os seres e de todas as coisas – não é encarado sob o ponto de vista religioso, mas antes como uma hipótese natural e até necessária para explicar a profunda ligação que existe entre todos os seres humanos. Assim, a concepção de Deus não é muito diferente da do actual paradigma da Cosmologia: o Big Bang é apontado como hipotética causa da expansão do Universo, mas o Big Bang, por si só, é o momento em que todas as leis físicas que conhecemos não existem. Por isso torna-se impossível para a ciência descrever completamente o Big Bang. Do mesmo modo, a doutrina espírita não pretende definir o que Deus é, mas apenas descreve alguns dos seus atributos tal como são observados na Natureza e na alma humana. O movimento Espírita procura enfatizar o estudo da sua própria doutrina nos seus 3 aspectos – científico, filosófico e moral – pelo que não é pedido aos seus seguidores que “acreditem” porque todos são livres de investigar e questionar os princípios do Espiritismo.


Princípios do Espiritismo

- Deus existe, e é Um (contrariamente ao dogma da Santíssima Trindade).

- Cada pessoa possui um Espírito, único e imortal, fruto da criação divina.

- A reencarnação é o mecanismo natural através do qual os Espíritos se apefeiçoam.

- Todos os Espíritos são criados “simples e ignorantes”, e devem progredir no sentido da perfeição.

- É possível a comunicação entre espíritos “encarnados” (“vivos”) e espíritos “desencarnados” (“mortos”), através da mediunidade.

- Toda a acção gera uma reacção, toda a causa um efeito: todos os espíritos são abrangidos por este mecanismo de retribuição ética.

- A Terra não é o único planeta com vida inteligente no Universo.

- Cada Espírito é responsável pelo seu próprio percurso ao longo de toda a sua existência.

- O Espírito regressa à matéria (reencarnação) tantas vezes quanto for necessário para alcançar a perfeição. (Ao contrário do que é aceite na maioria das religiões orientais, os espíritas não acreditam no retorno do espírito através do corpo de um animal como forma de pagamento de dívidas kámicas).

Alguns Conceitos do Espiritismo

Fluido Cósmico Universal é a matéria elementar primitiva, que pode ser transformada de modo a produzir tudo o que existe na Natureza. Pode assumir dois estados distintos: o de eterização ou imponderabilidade (o seu estado original), ou o de materialização ou ponderabilidade (o mundo visível).

A Lei da Causa e Efeito determina que toda a acção da vida moral de uma pessoa tem uma correspondente reacção dirigida a essa mesma pessoa. Este conceito distancia-se do de “karma”, na medida em que não admite qualquer determinismo: o ser humano é responsável tanto pelas suas acções como pelos efeitos que elas têm, inclusive sobre si próprio, e por isso pode a qualquer momento alterar o rumo dos acontecimentos alterando a sua forma de agir.

De acordo com a Lei da Evolução, tudo o que existe no Universo está em permanente evolução. Essa evolução é simultaneamente individual e colectiva: “Ao mesmo tempo que todos os seres vivos progridem moralmente, progridem materialmente os mundos em que eles habitam. Quem pudesse acompanhar um mundo em suas diferentes fases, desde o instante em que se aglomeraram os primeiros átomos destinados e constituí-lo, vê-lo-ia a percorrer uma escala incessantemente progressiva, mas de degraus imperceptíveis para cada geração, e a oferecer aos seus habitantes uma morada cada vez mais agradável, à medida que eles próprios avançam na senda do progresso. Marcham assim, paralelamente, o progresso do homem, o dos animais, seus auxiliares, o dos vegetais e o da habitação, porquanto nada na Natureza permanece estacionário.” (Allan Kardec, in O Livro dos Espíritos)


O Plano Espiritual é a realidade imaterial onde se encontram os espíritos desencarnados. Estes espíritos possuem formas de percepção que vão muito para além das dos seres vivos, e a sua permanência no Plano Espiritual (ou seja, sem reencarnarem) pode ter uma duração muito variável, mas nunca é eterna enquanto houver algo a aperfeiçoar. De acordo com os relatos de vários espíritos (psicografados por médiuns reconhecidos na comunidade espírita), o Plano Espiritual é muito mais vasto que o Plano Material, e os dois estão em permanente intercâmbio. Além disso, o Plano Espiritual organiza-se por “camadas” com frequências vibracionais diferentes: quanto mais elevada a frequência de vibração, mais evoluídos os espíritos que nela se encontram. O movimento Espírita defende que algumas provas da existência do Plano Espiritual provêm da Física Quântica: a existência de matéria escura (que se supõe ocupar a quase totalidade do Universo), e a falsa percepção da realidade material enquanto substância compacta, quando se sabe que na realidade existe muito mais espaço vazio do que ocupado (basta observar a estrutura do átomo).

A mediunidade é a capacidade de comunicação entre seres humanos e espíritos. Todas as pessoas possuem algum grau de mediunidade, mas algumas são especialmente dotadas e por isso designadas de médiuns. A comunicação pode ser verbal (psicofonia), escrita (psicografia) ou visual (vidência). Algumas religiões cristãs defendem que a Bíblia mostra os “espíritos” como demónios liderados por Satanás, cujo intuito ao comunicar com os seres humanos é o de os iludir. O movimento Espírita refuta essas acusações com dois argumentos: a Bíblia não condena a prática mediúnica em si, apenas o seu uso para finalidades fúteis ou em proveito próprio; e muitos dos textos transmitidos por espíritos a médiuns contêm ensinamentos em total acordo com as ideias de Jesus Cristo.


Práticas do Espiritismo

- Não existe qualquer hierarquia sacerdotal.

- A oração não é um ritual escrito, pois não importa que palavras específicas são utilizadas: o que conta são os pensamentos e intenções colocados na oração. O poder da oração é aumentado quando ela é praticada em grupo.


- O Bem deve ser praticado com abnegação. Por esse motivo, nenhuma actividade mediúnica deve ser financeiramente remunerada.

- Todas as ideologias e religiões devem ser respeitadas.

- O Espiritismo utiliza uma terminologia própria, desaconselhando o uso de termos “emprestados” a outras correntes como sejam corpo astral, karma, orixá, terreiro, encosto.

- Não existem imagens, altares ou qualquer outro objecto de adoração.

- Não existe baptismo, culto ou qualquer tipo de sacramento. Algumas actividades formais são seguidas como forma de preparação para o contacto com os espíritos.


“Os Espíritos Amigos sempre mostram disposição de nos auxiliar, mas é preciso que, pelo menos, lhes ofereçamos uma base... Muitos ficam na expectativa do socorro do Alto, mas não querem nada com o esforço de renovação; querem que os espíritos se intrometam na sua vida e resolvam seus problemas... Ora, nem Jesus Cristo, quando veio à Terra, se propôs resolver o problema particular de alguém... Ele se limitou a nos ensinar o caminho, que necessitamos palmilhar por nós mesmos.”

Chico Xavier

Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas
Federação Espírita Brasileira
Federação Espírita Portuguesa

sábado, 22 de março de 2008

Ostara - O Equinócio Vernal


"Wake up, wake up
from Your long, wintry slumber,
Lady,
You are blossoming
and Your fertility beckons to the young Warrior.
You are newly sprung,
Like a rose, and long for His touch,
You are butterfly and bud.

On this Equal Night
Your passion is renewed,
Life is growing all around You,
Vines run wild through Your hair,
Grasses and flowers encircle You in love,
And the forest's creatures gather in joy of Your return."


Corcha Mayve Moondancer


O Ostara é o sabbat neo-pagão que celebra o equinócio de Primavera. O termo remonta a Jacob Grimm, que na sua obra sobre mitologia germânica especula sobre a deusa teutónica Ostara (no original, Oestre ou Eastre), senhora da Aurora, da fertilidade, alegria e renovação. Não estando relacionado com nenhuma festividade tradicional em particular, o Ostara reúne vários símbolos associados às comemorações ancestrais do início da Primavera, como o ovo e o coelho (animal que sempre acompanha Ostara pela sua reconhecida capacidade reprodutiva).

Na Wicca, o Ostara celebra a reunião da Deusa-Mãe ao Deus-Sol, que é simultaneamente seu filho e seu amante, e que passou os meses de Inverno no reino da Morte. A Deusa-Mãe torna-se de novo Virgem, e o Deus-Sol que nasceu no Yule (solstício de Inverno) é agora jovem e pleno de energia criadora. Celebra-se aqui o casamento sagrado entre os dois, que daqui a 9 meses produzirá o renascimento do Sol (precisamente no próximo Yule).

Este é o momento para dar as boas-vindas à Primavera, ao renascimento da Natureza, e à abundância do Verão que se adivinha. A luz e a escuridão encontram o equilíbrio perfeito, mas é a luz que está cada vez mais forte de dia para dia. Também as energias masculina e feminina, yin e yang, estão agora equilibradas. É altura de pensarmos na nossa própria renovação, dos nossos pensamentos, sonhos e aspirações, das nossas relações. Pode ser uma boa oportunidade para começar algo inteiramente novo, ou para revitalizar completamente o que já existia.

Vários são os rituais neo-pagãos reservados ao Ostara. Incluem o atear de fogueiras na aurora para pedir a protecção das colheitas, tocar sinos e decorar ovos cozidos. Há ainda a famosa “limpeza de Primavera” para pôr ordem na casa, que muitos neo-pagãos encaram mais do que uma simples tarefa física: é um esforço para “deitar fora” os sentimentos negativos acumulados nos últimos meses, preparando o lar para a Primavera e o Verão.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Tarot - XII. O Dependurado

"A coisa mais bela que podemos experimentar é o misterioso. É a fonte de toda a arte e de toda a ciência. Aquele para quem esta emoção é estranha, aquele que já não consegue parar para reflectir ou deixar-se deslumbrar, vive como se estivesse morto:

os seus olhos estão fechados."


Albert Einstein (Físico alemão, 1879 - 1975)

"Eis o mais extraordinário Paradoxo: quando desistirmos de tudo, teremos tudo. Enquanto quisermos poder, não o teremos. Mas no momento em que não mais o quisermos, teremos mais poder do que alguma vez imaginámos possível."

Baba Ram Dass (Líder espiritual norte-americano, 1931 - )

Símbolos Básicos


Um homem dependurado numa árvore (às vezes numa barra ou cruz Tau). A perna livre está dobrada, formando um 4, e a sua expressão é de tranquilidade, nunca de sofrimento. As suas mãos podem estar presas ou soltas. Em alguns baralhos, caem-lhe moedas dos bolsos ou das mãos.


A Viagem do Louco


O Louco acomoda-se debaixo de uma árvore, com o intuito de reencontrar o seu lado espiritual. Aí permanece durante 9 dias, sem comer, quase sem se mexer. Passam por ele pessoas, animais, nuvens, o vento e a chuva, as estrelas, o sol e a lua. Ao nono dia, sem que saiba conscientemente porque, o Louco trepa a árvore e pendura-se de cabeça para baixo num dos seus ramos, abdicando por um momento de tudo aquilo que é, do que quer, do que sabe e do que ama. Do seu bolso caem moedas, e ele observa-as lá do alto – não as vê como dinheiro, apenas como pequenos pedaços circulares de metal. A sua perspectiva do mundo alterou-se subitamente. O Louco sente-se como se estivesse dependurado entre o mundo material e o mundo espiritual, capaz de vislumbrar ambos. É um momento de êxtase, como um sonho absolutamente claro, nítido. As ligações que nunca tinha percebido, compreende-as agora, e todos os mistérios são-lhe revelados.

Apesar deste momento de clarividência parecer eterno, o Louco percebe que não pode durar muito. Em breve, ele terá de voltar à posição inicial, e nessa altura tudo lhe parecerá diferente. Terá de agir com base naquilo que aprendeu. Mas por enquanto ele continua dependurado, observando e absorvendo.



Notas interpretativas


A carta do Dependurado, regida pelo planeta Neptuno, é considerada por muitos como a mais misteriosa e fascinante do Tarot. Simples mas complexa, atrai e perturba, contradizendo-se de inúmeras formas. O Dependurado simboliza a acção do paradoxo sobre as nossas vidas: é que o que parece contraditório é normalmente verdadeiro, e certas verdades estão escondidas nos seus opostos.


Esta carta reflecte a história de Odin, que se ofereceu em sacrifício para obter conhecimento. Dependurado na árvore do mundo, ferido por uma lança, sem comer nem beber, Odin passou nove dias. No último, viu no chão as runas que tinham caído da árvore, compreendeu o seu significado, e desceu para as apanhar. Diz-se que todo o conhecimento pode ser encontrado nessas runas.


A principal lição do Dependurado é a de que é possível “controlar” abdicando do controlo: vencemos quando nos rendemos. A figura na carta mostra a derradeira rendição – morrer na cruz por si próprio construída, com um halo que brilha pela glória do entendimento divino. O Louco sacrificou-se, mas saiu vencedor.

É tempo de parar para meditar, para sacrificar o ego em prol de um conhecimento maior. Numa leitura, o Dependurado sugere que a melhor forma de resolver um problema nem sempre é a mais óbvia. O Querente deve parar de resistir: em vez disso, deve tornar-se vulnerável, desistir da sua posição e, com isso, ganhar esclarecimento. As questões que pareciam difíceis de responder ganham agora sentido. Pode ver o mundo de uma forma diferente, com uma clarividência quase mística. O Dependurado implica também um momento em que tudo parece paralisado, altura para descansar e reflectir antes de avançar. Se queremos vencer, devemos abdicar. Se queremos agir, devemos esperar. E será irónico comprovar como, actuando de forma aparentemente contraditória, acabamos por encontrar aquilo que sempre procurámos. Quando nos tornamos no Dependurado nunca mais voltamos a ver o mundo da mesma forma.