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quinta-feira, 6 de junho de 2013

Sonho de um Dia Perfeito

Já imaginou o seu dia perfeito? Se pudesse passar um dia eterno a fazer qualquer coisa, o que seria? Chegar ao topo do Everest? Vencer um Grande Prémio de Fórmula 1? Talvez algo mais simples, como nadar no mar ou desfrutar de um picnic com os amigos numa fantástica tarde de sol...

As hipóteses são muitas, tão individuais como cada pessoa é única, mas comum a todos os "dias perfeitos" seria a emoção de nos sentirmos VIVOS, realizados, profundamente felizes. 

Sou especial e os deuses sorriem-me no meu dia perfeito.
Tudo o que eu tenho de mais autêntico, vibrante e criativo é-me devolvido pelo mundo inteiro no meu dia perfeito. 

O Sol no Tarot
Universal Rider-Waite
Astrologicamente, a ideia de um "dia perfeito" surge associada à casa V, ao signo associado que é Leão e ao respectivo regente, o Sol. Podemos encontrar a nossa Criança Interior na casa V do mapa astrológico, no signo onde essa casa começa e nos planetas que aí possam estar. Para quem tenha filhos ou queira vir a ter, a casa V reflecte o que esse(s) filho(s) representam para nós, como os vemos e nos relacionamos com eles, e de que forma eles nos inspiram a expressar a nossa própria criatividade.

Quem conhece o Tarot sabe que o Arcano Maior do Sol é muitas vezes representado por uma ou duas crianças sorridentes, brincando num jardim resplandescente de luz. Esta é a imagem que sempre associo à casa V, pois esta é a casa da pura diversão, da alegria imensa que há para descobrir num perfeito dia de Sol. 

No dia perfeito que imaginámos, não somos exactamente nós, adultos responsáveis e cheios de coisas para fazer, que lá estão a divertir-se. É a nossa Criança Interior, a criança que um dia fomos e a Criança que sempre seremos. Aquela parte de nós que sabe que é especial, que sabe que é feita da mesma matéria de que são feitas as estrelas e os cometas. Aquela parte de nós que brilha com luz própria, que é inocência e pura alegria ao mesmo tempo. 

É esta parte de nós que se apaixona perdidamente, que é capaz de criar inspirada e inspiradoramente, que traz ao mundo um pouco da centelha divina para que o mundo se admire, e maravilhe, e se torne infinitamente melhor por isso. Esta é a parte de nós que vive o eterno dia perfeito. 

De que serve viver sem paixão? Olhando a casa V podemos (re)descobrir o que nos faz mesmo vibrar, e que incessantemente procuramos (mesmo sem nos darmos conta) nas outras pessoas, ou nas actividades profissionais, ou (frequentemente) nos filhos e sobrinhos em quem projectamos a nossa Criança Interior, e que esperamos que a vivam por nós - já que "ainda" são jovens e ingénuos, que nós já estamos "velhos para certas coisas..."

Criatividade é uma das palavras-chave da casa V, e muitas vezes a expressão mais fiel da nossa Criança Interior surge nos hobbies que nos mantêm ocupados durante horas a fio. Há hobbies muito comuns, outros que pouca gente entenderá (coleccionas latas? com essa idade?). Mas independentemente da sua natureza, os hobbies são como pedaços do nosso dia perfeito que tentamos encaixar num quotidiano mais ou menos desapaixonado. 

E que dizer da paixão à primeira vista (ou à segunda ou à vigésima), que nos tira o chão e nos leva às nuvens sem pedir licença...? Danem-se as convenções sociais, a responsabilidade e até a timidez, pois que se vai esgotar o ar respirável se aquele anjo na Terra por quem perdemos o juízo não nos der um vislumbre do dia perfeito com o seu sorriso....

Por mais que estejamos presos aos deveres da "adultice", todos merecemos viver em pleno a nossa Criança Interior. Deixá-la brincar em liberdade, levá-la a passear pelas coisas que a apaixonam, sentir a profunda alegria de ser imortal por um dia. Durante as horas em que voltamos à infância para brincar aos índios e caubóis com o nosso filho. Durante os minutos em que nos sentimos especiais por mostrarmos aos outros o quão especiais eles são. Durante os breves instantes em que uma ideia genial nos atinge como um raio, e o coração bate furiosamente depressa, mobilizando-nos para dar corpo e alma a uma tela vazia, a um piano silencioso ou a um velho móvel esquecido no sótão.

Sem o sonho de um dia perfeito, a realidade torna-se insuportável. Precisamos de paixão nas nossas vidas - ou pelo menos da promessa de paixão. Porque até a simples promessa, o vislumbre, o sonho, já contêm uma tonelada de paixão avassaladora, temperada com uns pozinhos de centelha divina e pronta a ser libertada no mundo ao mínimo sinal de que o dia será, de facto, perfeito. 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Tarot - XVI. A Torre

"Vamos construir uma cidade e uma torre, cujo cimo atinja os céus. 
Assim, havemos de tornar-nos famosos para evitar que nos dispersemos por toda a superfície da Terra"

Génesis 11:4


"Ambicionas uma torre que irá trespassar as nuvens?
Lança primeiro os alicerces da humildade."

Santo Agostinho (Bispo e filósofo católico, 354-430)




Símbolos Básicos

Uma torre sobre um monte rochoso é atingida por um raio, uma ou duas figuras caindo, por vezes surgem vagas tempestuosas na base da torre.


A Viagem do Louco

Deixando para trás o trono do Deus-Bode, o Louco encontra uma Torre magnífica e que lhe parece misteriosamente familiar. Na realidade, ele próprio ajudou a construir esta Torre, na época em que o seu maior objectivo de vida era deixar a sua marca no mundo, provando o seu valor acima dos outros mortais. No cimo da Torre ainda residem homens arrogantes, que se acham donos da Verdade.

Ao revisitar a Torre, o Louco é atingido por um momento relampejante de lucidez: é que ele pensava que tinha deixado o seu velho Eu para trás quando embarcou nesta viagem espiritual, mas agora percebe que continua a ver-se como os homens na Torre, seguros da sua superioridade e do seu "conhecimento iluminado".

No momento desta descoberta, um raio desce dos céus e fulmina a Torre, lançando os seus residentes nas águas agitadas. Num breve instante, tudo terminou. É Torre é agora um monte de escombros, resta apenas o rochedo em que estava alicerçada. Atordoado, o Louco experimente um profundo sentimento de medo e descrença, mas parece que finalmente uma estranha clarividência o assiste. Afinal, ele deitou abaixo a sua resistência à mudança e ao sacrifício enquanto esteve Dependurado, enfrentou a Morte, aprendeu a cultivar a Temperança e lidou com as poderosas tentações do seu Diabo interior. Mas é chegado o momento de empreender a tarefa mais difícil, a de destruir as falsidades que ainda resistem dentro de si. E o que sobra desta necessária purga são as fundações da Verdade. Sobre elas terá o Louco de voltar a erguer a sua vida. 

Notas interpretativas

A carta da Torre é para muitos utilizadores do Tarot o mais nefasto dos Arcanos Maiores. Regida por Marte, esta carta fala da queda da arrogância, da experiência muitas vezes devastadora da revelação da verdade que destrói as falsas crenças e as mentiras sobre as quais erguemos o nosso Presente. 

O mito bíblico da Torre de Babel descreve como vários povos tentavam chegar ao Céu, construindo em conjunto a mais alta torre alguma vez vista. Para castigá-los por tão elevadas ambições, Deus atribuiu-lhes idiomas diferentes, o que fez com que se desentendessem e desistissem de erguer a dita Torre. Noutras versões desta história, a Torre é destruída por um vento divino. Em qualquer dos casos, a Torre de Babel simboliza o desafio de conquistar um lugar equivalente ao de Deus omnipotente, e o castigo humilhante que advém de tão megalómana aspiração. 

Numa leitura de Tarot, a carta da Torre anuncia a queda abrupta das ilusões que o Querente acalentou até então, o momento imprevisível e chocante em que a verdade vem à tona, e o sonho que antes parecia real converte-se agora num pesadelo. Podem surgir mudanças inesperadas, crises dolorosas, rotinas perturbadas pelo caos. Qualquer tensão emocional acumulada pode explodir subitamente, ultrapassando as defesas do ego e causando estragos em redor. O Querente pode descobrir que a sua confiança foi violada, que foi levado em erro pela sua própria vaidade. Desfazem-se todas as fantasias, resta apenas a verdade. E esta é, no final, a melhor atitude que podemos adoptar quando nos surge a carta da Torre: por muito dolorosa que seja a experiência, ela permitir-nos-á descobrir aquilo com que de facto podemos contar - o que em nós e nas nossas circunstâncias é suficientemente verdadeiro para resistir ao trovejar da Realidade.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Tarot - XV. O Diabo

"E às vezes somos diabos para nós próprios, quando tentamos a fragilidade dos nossos poderes presumindo a sua potência volátil."

William Shakespeare (Dramaturgo inglês, 1564-1616)


"Mas é bem melhor ousar coisas grandiosas, obter triunfos gloriosos ainda que alternados com o fracasso, do que permanecer com os pobres espíritos que não gozam nem sofrem muito, porque estes vivem uma existência cinzenta que não conhece vitória nem derrota."

Theodore Roosevelt (Estadista e presidente norte-americano, 1858-1919)


Símbolos Básicos
Um demónio alado sobre um pedestal negro, duas figuras nuas (mulher e homem) presas por correntes, um pentagrama. Em alguns baralhos, uma montanha surge ao fundo.

A Viagem do Louco
O Louco segue o seu caminho após o encontro com um Anjo e a sua alquimia dos opostos (Ver Temperança). Surge no horizonte uma enorme montanha negra, governada por uma criatura meio-bode meio-deus. Junto aos seus cascos estão pessoas nuas, presas por correntes ao trono do estranho regente enquanto desfrutam de todos os prazeres terrenos: comida, bebida, sexo, drogas, ouro... A cena ameaça apoderar-se do Louco, que à medida que se aproxima do sopé da montanha sente crescer em si os seus desejos mais mundanos. Luxúria, obsessão, ganância. "Recuso submeter-me a ti!" grita ele para o Deus-Bode, que lhe devolve um olhar curioso respondendo "Limito-me a trazer à superfície aquilo que já existia dentro de ti. Não precisas temer os teus desejos, nem evitá-los ou sentir vergonha deles." O Louco fica ainda mais indignado, e apontando zangado para as pessoas acorrentadas, pergunta: "Como podes dizer isso, quando estes que aí se banqueteiam aos teus pés foram por ti escravizados?" O Deus-Bode imita o gesto do Louco, respondendo-lhe "Observa com mais atenção."


O Louco assim faz, e percebe então que as algemas que prendem homens e mulheres são suficientemente largas para serem removidas sem esforço. "Eles podem ser livres se o desejarem", diz o Deus-Bode. "Mas tens razão. Eu sou o deus dos teus maiores desejos. Estas pessoas foram escravizadas apenas porque se deixaram controlar pelos seus desejos mais básicos." E o Deus-Bode continua, apontando para o cume da montanha: "Não vês aqui aqueles que permitiram que as suas aspirações os levassem ao topo desta montanha. As inibições podem ser tão limitadoras como os excessos. Podem impedir-te de seguir a tua paixão até aos mais elevados objectivos. "


O Louco compreende a verdade das palavras do Deus-Bode, e também o erro de julgamento que cometeu. Esta não é uma criatura maligna, mas um ser com grande poder, do mais elevado e do mais subterrâneo, simultaneamente besta e deus. Como todo o poder, este é assustador, perigoso... mas se bem compreendido e utilizado, pode ser a chave para a liberdade e a transcendência. 



Notas interpretativas

A carta do Diabo é uma das mais incompreendidas entre os Arcanos Maiores do Tarot. Aqui, o “Diabo” não é o Satanás das religiões monoteístas, mas sim os deuses Pã ou Dionísius, com meio corpo de bode, que na Mitologia Antiga brincavam despreocupadamente por entre bosques e riachos, promovendo orgias de sexo e vinho entre humanos e seres mágicos. Pã ou Dionísius são a personificação do abandono aos prazeres da vida, do comportamento selvagem que busca exclusivamente a satisfação dos desejos imediatos. Não é por acaso que um dos símbolos do Diabo é o Pentagrama invertido: a submissão do espírito ao mundo material.

Regida por Capricórnio, a carta do Diabo fala-nos de ambição, mas também de tentação e dependência. A maior parte de nós aprende desde muito cedo que estes são temas a abordar com desconfiança. Ceder à tentação do sexo ou da comida é "mau", depender de álcool ou drogas é "mau", ser demasiado ambicioso é "mau" (“quem tudo quer tudo perde”, etc). A carta do Diabo alerta-nos para tudo isso: em todo o excesso que nos leva a perder o controlo há o risco de nos tornarmos dependentes de algo ou de alguém, de nos tornarmos escravos daquilo que mais desejamos. Ora o excesso de controlo pode também ser fonte de limitação, e por isso este Diabo capricorniano exorta-nos, paradoxalmente, a ceder aos nossos impulsos mais elevados, a não ter receio de investir numa ambição maior que nos leve a escalar montanhas em busca de algo tão extraordinário que não está acessível aos “esforçozinhos de média intensidade”, mas apenas às grandes conquistas.

Quando o Diabo surge numa leitura, o Querente pode estar a personificar um dos extremos do signo de Capricórnio: excessivamente ambicioso (do tipo que não olha a meios para atingir fins), ou excessivamente controlado (do tipo que não se permite viver nada demasiado intenso, demasiado apaixonante… demasiado ambicioso). O Diabo pode também referir-se a uma figura masculina com grande poder financeiro e/ou magnetismo sexual, alguém que é agressivo, controlador, ou simplesmente persuasivo. Não se trata de uma pessoa necessariamente “má”, apenas de alguém a quem é muito difícil resistir... Como na história do Louco, o mais importante com a carta do Diabo é compreender que, se existe algo que nos domina – um chefe, uma ambição, uma obsessão –, fomos nós que consentimos esse domínio. As algemas são suficientemente largas para nos libertarmos. Permanecemos aprisionados enquanto, consciente ou inconscientemente, assim o permitirmos. 

quinta-feira, 26 de março de 2009

Tarot - XIV. A Temperança

“A nossa mente é capaz de passar para além da linha divisória que criámos para ela. Para além dos pares de opostos de que consiste o mundo, outras e novas visões começam."

Herman Hesse (Poeta, novelista e pintor germano-suiço, 1877-1962)


“O encontro de duas personalidades é como o contacto entre duas substâncias químcas: se houver reacção, ambas serão transformadas.”

Carl Jung (Psiquiatra e pensador suiço, 1875-1961)


Símbolos Básicos

Um anjo (frequentemente feminino ou assexuado) paira sobre um lago ou rio. Dois copos ou taças unidos por um líquido que flui entre ambos. 


A Viagem do Louco

Prosseguindo com a sua viagem espiritual, o Louco começa a perguntar-se como pode reconciliar os opostos que tem encontrado: material e espiritual (esteve Dependurado entre ambos), morte e nascimento (um leva ao outro na carta da Morte). A certa altura, encontra uma figura alada que se apoia com um pé num riacho, o outro um rochedo. Esta figura é luminosa, e derrama o conteúdo de um recipiente para outro. Aproximando-se, o Louco percebe que um dos recipientes contém fogo, o outro água. E os dois estão a misturam-se, como que por milagre.

“Como consegues misturar fogo e água?”, murmura o Louco. Sem desviar a atenção do que está a fazer, o Anjo responde: “É necessário ter os recipientes certos, e as proporções certas.” O Louco continua a observá-lo, maravilhado. “Pode isto ser feito com todos os opostos?”.”Sim”, responde o Anjo, “quaisquer opostos, fogo e água, homem e mulher, tese e antítese, podem ser harmonizados. Apenas a falta de vontade e a descrença na possibilidade da união mantêm os opostos em posições inconciliáveis.” O Louco começa então a perceber que nele próprio reside a separação que observa no Universo, mantendo vida e morte, mundo espiritual e mundo material separados. Nele próprio, os pólos podem ser fundidos, tal como acontece com os elementos que flúem entre os recipientes do Anjo. Tudo o que é preciso, na verdade, é ter as proporções certas… e o recipiente certo.

 

Notas interpretativas

Sagitário é o signo que rege a carta d’A Temperança, embora à primeira vista tal possa não parecer evidente. Sagitário representa expansão, e a carta, a um nível mais superficial, fala em “moderação”. De facto, a ideia original do fluir de uma taça para a outra pode ter surgido do moderar do vinho com água. No entanto, outra interpretação é possível: a da fusão dos opostos. Sagitário, o centauro, reúne homem e animal numa criatura única. Utiliza arco (estático) e flecha (móvel), que funcionam em conjunto para apontar o caminho. Esta ambiguidade de significados torna A Temperança numa das cartas mais difíceis de interpretar. Crowley deu-lhe o nome de “Alquimia”, e esta pode ser a forma mais adequada de a tentar compreender. 

À primeira vista, a carta d’A Temperança pode avisar o Querente para moderar os seus comportamentos. Mas pode também lembrá-lo que dois pólos, por mais extremos que pareçam, podem ser conciliados. O Querente pode estar perante dois campos aparentemente opostos (escolhas, crenças, familiares ou amigos), sem esperança de uma união, quando a única coisa que falta pode bem ser o afinar das proporções da ambas as partes (como pretender que duas famílias inteiras se comecem a relacionar amigavelmente de uma vez, quando a melhor opção é deixar que esse relacionamento se construa aos poucos, indivíduo a indivíduo).

Por outro lado, A Temperança lembra que o arco e a flecha são inúteis em separado, mas juntos tornam-se numa arma formidável. O Querente pode e deve juntar tese e antítese para obter síntese. Para tal, basta tempo, paciência e experimentação. E, claro, uma boa dose de moderação. A crença de que a fusão do vermelho-sangue com o azul-mar não é possível pode, na realidade, ser a única coisa que de facto impede essa fusão. Altere a crença, meça ambos com cuidado, e terá oportunidade de criar um tom de violeta nunca antes visto.


Fontes: Aeclectic Tarot, Learning the Tarot

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Tarot - XIII. A Morte

"A chamada da Morte é uma chamada de amor. A Morte pode ser doce se lhe respondermos afirmativamente, se a aceitarmos como uma das grandes formas eternas de Vida e Transformação."

Herman Hesse (Poeta, novelista e pintor germano-suiço, 1877-1962)


Símbolos Básicos

Um esqueleto a cavalo, com armadura ou vestes negras, segura um alfange ou uma bandeira com uma rosa branca sobre fundo preto. Em certos baralhos é possível ver o Sol nascente no horizonte. Outras figuras secundárias podem aparecer nesta carta, habitualmente crianças.


A Viagem do Louco

Depois de deixar a árvore onde esteve dependurado, o Louco move-se cautelosamente por um campo em pousio. O ar está frio, invernoso, as árvores despidas de folhas. À sua frente, avançando como o Sol que nasce no horizonte, encontra um esqueleto vestido com uma armadura negra, montado num cavalo branco. Reconhece-o: é a Morte. O cavaleiro-esqueleto detém-se à sua frente. Humildemente, o Louco pergunta-lhe “Vens dizer-me que morri?”. De facto, sente-se tão vazio e desolado como a paisagem que o circunda. A Morte responde: “Sim, de certa forma. Sacrificaste o teu velho mundo, o teu velho Eu. Ambos desapareceram, morreram.” Reflectindo sobre estas palavras, o Louco deixa escapar um lamento. “Que triste…”. “Sim, é triste”, diz a Morte, “mas é a única forma de renascer. Um novo Sol ascende já no horizonte, e este é, para ti, um tempo de grande transformação.” A Morte afasta-se, a galope, e o Louco sente dentro de si a verdade das suas palavras. Também ele se sente como um esqueleto, despojado de

 tudo o que sempre lhe foi familiar. Sim, é desta forma que começam todas as transformações, removendo tudo até ao osso, e construindo o novo sobre as fundações despidas.

 

Notas interpretativas

A Carta da Morte pode significar literalmente “morte”, nas circunstâncias adequadas (p.ex. uma questão sobre um familiar idoso ou muito doente). No entanto, e ao contrário do que mostram as suas esporádicas aparições dramáticas em filmes e séries televisivas, esta carta tem muito maior probabilidade de sinalizar uma transformação, uma passagem, uma mudança. Escorpião, o signo que rege a Carta da Morte, tem 3 formas: escorpião, serpente e águia. Esta carta simboliza por isso a evolução do ponto mais baixo para o ponto intermédio, para o ponto mais alto. Trata de humildade, e pode indicar que o Querente atingiu ou atingirá um ponto baixo na sua vida, mas apenas para que possa subir mais alto do que alguma vez subiu. E não esquecer que, até nesta carta de escuridão, há um nascer do Sol.

O signo de Escorpião contém também a dualidade sexo/morte. Na cultura ocidental é comum encarar a Morte como algo assustador, um fim que deve ser temido e por isso mesmo odiado. Noutras tradições, no entanto, a Morte, embora traga tristeza, é tão importante e natural como qualquer outra parte do ciclo da Vida. No sentido kármico, temos de morrer para podermos renascer. O Inverno acontece para que a Primavera lhe possa suceder, e só quando experimentamos a perda podemos apreciar aquilo que temos. A Carta da Morte indica por isso um tempo de mudança, o fim do velho para que o novo possa começar. Esta transição pode implicar tristeza, uma sensação de vazio, mas também a oportunidade para ascender novamente, como Fénix renascida das cinzas. A Morte não é o fim. É apenas o percursor da ressurreição.


sexta-feira, 14 de março de 2008

Tarot - XII. O Dependurado

"A coisa mais bela que podemos experimentar é o misterioso. É a fonte de toda a arte e de toda a ciência. Aquele para quem esta emoção é estranha, aquele que já não consegue parar para reflectir ou deixar-se deslumbrar, vive como se estivesse morto:

os seus olhos estão fechados."


Albert Einstein (Físico alemão, 1879 - 1975)

"Eis o mais extraordinário Paradoxo: quando desistirmos de tudo, teremos tudo. Enquanto quisermos poder, não o teremos. Mas no momento em que não mais o quisermos, teremos mais poder do que alguma vez imaginámos possível."

Baba Ram Dass (Líder espiritual norte-americano, 1931 - )

Símbolos Básicos


Um homem dependurado numa árvore (às vezes numa barra ou cruz Tau). A perna livre está dobrada, formando um 4, e a sua expressão é de tranquilidade, nunca de sofrimento. As suas mãos podem estar presas ou soltas. Em alguns baralhos, caem-lhe moedas dos bolsos ou das mãos.


A Viagem do Louco


O Louco acomoda-se debaixo de uma árvore, com o intuito de reencontrar o seu lado espiritual. Aí permanece durante 9 dias, sem comer, quase sem se mexer. Passam por ele pessoas, animais, nuvens, o vento e a chuva, as estrelas, o sol e a lua. Ao nono dia, sem que saiba conscientemente porque, o Louco trepa a árvore e pendura-se de cabeça para baixo num dos seus ramos, abdicando por um momento de tudo aquilo que é, do que quer, do que sabe e do que ama. Do seu bolso caem moedas, e ele observa-as lá do alto – não as vê como dinheiro, apenas como pequenos pedaços circulares de metal. A sua perspectiva do mundo alterou-se subitamente. O Louco sente-se como se estivesse dependurado entre o mundo material e o mundo espiritual, capaz de vislumbrar ambos. É um momento de êxtase, como um sonho absolutamente claro, nítido. As ligações que nunca tinha percebido, compreende-as agora, e todos os mistérios são-lhe revelados.

Apesar deste momento de clarividência parecer eterno, o Louco percebe que não pode durar muito. Em breve, ele terá de voltar à posição inicial, e nessa altura tudo lhe parecerá diferente. Terá de agir com base naquilo que aprendeu. Mas por enquanto ele continua dependurado, observando e absorvendo.



Notas interpretativas


A carta do Dependurado, regida pelo planeta Neptuno, é considerada por muitos como a mais misteriosa e fascinante do Tarot. Simples mas complexa, atrai e perturba, contradizendo-se de inúmeras formas. O Dependurado simboliza a acção do paradoxo sobre as nossas vidas: é que o que parece contraditório é normalmente verdadeiro, e certas verdades estão escondidas nos seus opostos.


Esta carta reflecte a história de Odin, que se ofereceu em sacrifício para obter conhecimento. Dependurado na árvore do mundo, ferido por uma lança, sem comer nem beber, Odin passou nove dias. No último, viu no chão as runas que tinham caído da árvore, compreendeu o seu significado, e desceu para as apanhar. Diz-se que todo o conhecimento pode ser encontrado nessas runas.


A principal lição do Dependurado é a de que é possível “controlar” abdicando do controlo: vencemos quando nos rendemos. A figura na carta mostra a derradeira rendição – morrer na cruz por si próprio construída, com um halo que brilha pela glória do entendimento divino. O Louco sacrificou-se, mas saiu vencedor.

É tempo de parar para meditar, para sacrificar o ego em prol de um conhecimento maior. Numa leitura, o Dependurado sugere que a melhor forma de resolver um problema nem sempre é a mais óbvia. O Querente deve parar de resistir: em vez disso, deve tornar-se vulnerável, desistir da sua posição e, com isso, ganhar esclarecimento. As questões que pareciam difíceis de responder ganham agora sentido. Pode ver o mundo de uma forma diferente, com uma clarividência quase mística. O Dependurado implica também um momento em que tudo parece paralisado, altura para descansar e reflectir antes de avançar. Se queremos vencer, devemos abdicar. Se queremos agir, devemos esperar. E será irónico comprovar como, actuando de forma aparentemente contraditória, acabamos por encontrar aquilo que sempre procurámos. Quando nos tornamos no Dependurado nunca mais voltamos a ver o mundo da mesma forma.


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Tarot - XI. A Justiça

O melhor e mais seguro é manter o equilíbrio na vossa vida, reconhecendo que existem grandes poderes à nossa volta e dentro de nós. Se conseguirdes fazer isso, viver dessa forma, sois realmente um homem sábio.

Euripedes (Escritor Grego, 480 - 406 a.C)

Ordem não é a pressão imposta pela sociedade ao indivíduo, mas o equilíbrio que ele consegue estabelecer dentro de si mesmo.

Jose Ortega y Gasset (Filósofo Espanhol, 1883 - 1955)


Símbolos Básicos

Uma figura humana segura a balança numa das mãos (normalmente a esquerda), e a espada erguida na outra. Em alguns baralhos surge de pé, noutros sentada numa espécie de trono, muitas vezes com os olhos vendados.

A Viagem do Louco

O Louco procura um novo caminho, uma nova aspiração e inspiração para a sua vida. Sentado numa encruzilhada sem saber que caminho tomar, repara numa sábia senhora cega que escuta a discussão de dois irmãos sobre uma herança. Eles procuraram-na para que julgasse o seu caso. Um dos irmãos recebeu toda a herança, ou outro ficou sem nada. “ Peço que tudo me seja restituído”, exige o irmão pobre, “não só porque tenho mais direitos, mas também porque não serei perdulário como o meu irmão!”. Mas o irmão rico protesta: “É meu por direito e é isso que interessa, não como vou gastá-lo!” A mulher ouve atentamente, e no final atribui metade da herança do irmão rico ao irmão pobre. O Louco pensa que foi a decisão mais justa, mas nenhum dos irmãos está satisfeita: o rico detesta ter de perder metade da sua riqueza, e o pobre acha que devia ter ficado com tudo.

“Foste justa” diz o Louco à mulher, após a partida dos irmãos. “Sim, fui” responde ela, com simplicidade. “Com apenas metade da herança, o irmão rico deixará de ser tão perdulário. E o pobre terá tudo aquilo de que precisa. Embora não o possam ver agora, esta decisão foi a melhor para ambos.”

O Louco reflecte um pouco naquilo que ouviu, e começa a vislumbrar um novo rumo para a sua vida. Percebe que até agora só se preocupou em conquistar bens materiais para satisfazer ambições mundanas, deixando definhar o seu lado espiritual porque não estava disposto a fazer os sacrifícios necessários para o alimentar. Agora, ele sabe que tem de percorrer o único caminho que ainda não percorreu de modo a restaurar o seu equilíbrio interior. Agradecendo à mulher, afasta-se com um novo propósito: é tempo de restabelecer a igualdade na sua balança interior.

Notas interpretativas

A carta da Justiça é regida pelo signo de Balança, e fala do equilíbrio frio e racional. É ela que diz ao Querente que não pode continuar a fumar ou a beber sem que isso tenha consequências na sua saúde (p.ex.). A Justiça aconselha a cortar com o desperdício, insiste para que o Querente faça tudo o que for necessário para restaurar o equilíbrio físico, emocional, social, espiritual. Num sentido mais prático, esta carta sinaliza um processo legal, documentos, ajustes numa parceria ou casamento. O resultado de tudo isto pode não ser aquele que o Querente deseja, mas será sem dúvida o mais justo. Além disso, apela à honestidade, à responsabilidade, à decisão ponderada e à aceitação das consequências dos próprios actos.

Enquanto 11º Arcano Maior, a Justiça marca a transição do mundo físico (primeiros 10 Arcanos Maiores) para o mundo metafísico (próximos 10 Arcanos Maiores). É como se ambos os mundos se equilibrassem na sua balança, e a sábia mulher nos dissesse que temos andado a passar muito tempo num deles, que está na altura de nos dedicarmos ao outro. É importante reter que a carta da Justiça não trata de castigo, do que é bom ou mau, certo ou errado. Tratam-se apenas de ajustes. A espada sugere que isso nem sempre será agradável, mas é preciso fazer o que for necessário (mesmo que seja difícil, penoso) para (re)conquistar o equilíbrio.



quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Tarot - X. A Roda da Fortuna

"A Sorte tudo afecta: lança o teu anzol, porque no riacho mais improvável haverá peixe."

Ovídeo (poeta romano, 43 a.C - 17 A.D.) in Ars Amatoria


"Fortuna, boa noite. Sorri uma vez mais, gira a tua Roda."

Shakespeare (dramaturgo inglês, 1564-1616) in Rei Lear


Simbologia e Arquétipo

Uma roda que gira no sentido dos ponteiros do relógio, com figuras ou animais que nela sobem ou descem. No topo da roda, uma esfinge.


A Viagem do Louco

O Louco resolve sair do seu refúgio (onde viveu como Eremita) para a luz do Sol, como se puxado para cima pela Roda da Fortuna. É tempo de mudança. Com o bordão na mão, ele regressa ao mundo sem qualquer expectativa. Porém, estranhamente, acontecem-lhe coisas à medida que as horas passam… coisas boas. Passando por uma azenha, encontra uma mulher que lhe oferece uma bebida num cálice dourado, e insiste para que ele fique com o cálice, apenas porque simpatizou com ele. Mais à frente, junto a um moinho, o Louco pára a observar um jovem que maneja uma espada. Quando manifesta admiração pela arma, o jovem oferece-a sem pensar duas vezes.

Finalmente, o Louco encontra um rico comerciante sentado sobre uma das rodas da sua carroça. O homem dá-lhe um saco cheio de moedas, justificando-se: “Gosto de dar dinheiro, e decidi que hoje a décima pessoa que passasse por mim receberia este saco de moedas. Parabéns, você é essa pessoa!” O Louco não achava que ainda pudesse ser surpreendido desta forma! É como se tudo o que de bom fez na sua vida lhe estivesse a ser devolvido, numa proporção 3 vezes maior. Neste dia, toda a sorte é sua!





A Roda da Fortuna no baralho Golden Tarot of the Renaissance (Lo Scarabeo)







Notas Interpretativas

A Roda da Fortuna é a carta de Júpiter, e trata da sorte, da mudança, da fortuna que é, quase sempre, boa. Esta é uma virada do acontecimentos para melhor, que traz invariavelmente grande alegra e abundância.

Embora a maioria das cartas do Tarot indiquem o que pode o Querente fazer para melhorar a sua vida, na Roda da Fortuna pode-se simplesmente admitir que, às vezes, o Querente tem sorte, independentemente de tudo o resto. Esta carta pode também significar movimento, evolução, mas o seu principal sentido é o de que haverão mudanças para melhor aparentemente fortuitas, imprevisíveis. O Querente conseguirá “o tal” emprego, “a tal” promoção, “a tal” pessoa especial, “a tal” oportunidade pela qual esperava. Chamemos-lhe destino, recompensa kármica por tudo de bom que já fizemos na vida, ou simplesmente sorte. Mas quaisquer que sejam as “lotarias” da vida do Querente, ele acabou de acertar no “jackpot”!





A Roda da Fortuna no baralho Kayne's Celtic Tarot








segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Tarot - IX. O Eremita

"Fui para os bosques porque desejava viver deliberadamente, enfrentar apenas os factos essenciais da vida, e ver se podia aprender tudo o que eles tinham para ensinar; para que, quando morrer, não descubra que não vivi."

Henry David Thoreau, filósofo norte-americano (1817-1962)


"Parecia-lhe um ritual necessário preparar-se para dormir meditando sob a solenidade do céu nocturno… uma misteriosa transacção entre a infinidade da alma e a infinidade do universo."

Victor Hugo, escritor francês (1802-1885)


Simbologia e Arquétipo

Um homem idoso com vestes de monge desloca-se na escuridão da noite, numa paisagem inóspita, segurando uma lanterna.


A Viagem do Louco

Depois de uma vida atribulada e longa, de criações, de compromissos, de amores e ódios, de sucessos e fracassos, o Louco sente uma profunda necessidade de se retirar. Encontro o refúgio perfeito numa pequena cabana no meio da floresta, onde pode ler, organizar-se, descansar ou simplesmente pensar. Mas todas as noites ele viaja pela paisagem outonal, levando consigo apenas o bordão e a lanterna.

É durante estes passeios, do ocaso à aurora, observando e examinando tudo o que lhe desperta curiosidade, que ele vê e absorve aquilo que lhe tinha escapado até então, sobre si próprio e sobre o mundo. É como se os cantos secretos da sua mente, cuja existência era até agora desconhecida, fossem lentamente iluminados. De certa forma, ele voltou a ser o Louco: como no início, segue para onde a inspiração o leva. Mas enquanto o Louco levava o bordão sobre o ombro, com uma trouxa de conteúdo desconhecido, o bordão do Eremita está à sua frente. E ele carrega uma lanterna, não uma trouxa. O Eremita é como essa lanterna, iluminado por dentro por tudo aquilo que é.







O Eremita no baralho Fantastical Creatures (US Games)






Notas Interpretativas

Simbolizado pelo signo de Virgem, o Eremita é a carta da introspecção, da análise e, até certo ponto, de uma espécie de “virgindade”. Este não é o momento para socializar: há um desejo de paz interior e de solidão. Nem é o tempo para a acção, para discutir ou tomar decisões. É o tempo para pensar, organizar, reabastecer. Podem surgir sentimentos de frustração e descontentamento nesta etapa de reclusão, além de alguma impaciência no lidar com as outras pessoas. Mas como um artista que se esconde durante algum tempo para depois emergir com a sua obra-prima, este tempo de silêncio permite encaixar todas as peças do puzzle mental antes de passar à acção.

Outro aspecto importante desta carta é que o Eremita parece sempre estar a mover-se. Nunca o vemos fechado no seu refúgio, mas antes deambulando, procurando. Este é o aspecto irrequieto de Virgem, sempre em busca de informação, analisando, estabelecendo relações, sempre céptico e disposto a “ver com os seus próprios olhos”.






O Eremita no baralho Thoth (US Games)







O Eremita pode também representar uma pessoa sábia e inspiradora, um amigo, professor ou terapeuta, alguém que o Querente costuma consultar a sós, alguém que pode não ser do conhecimento dos restantes amigos e familiares do Querente. Esta é uma pessoa capaz de iluminar aquilo que antes era misterioso e confuso. E que pode ajudar o Querente a encontrar aquilo que procura.

sábado, 13 de outubro de 2007

Tarot - VIII. A Força

"A força selvagem do génio é muitas vezes predestinada pela Natureza, para ser finalmente vencida por uma força silenciosa. O vulcão expele os seus jactos vermelhos com terrível força, como se fosse atingir as estrelas. Mas a calma e irresistível mão da gravidade apanha-os, e devolve-os à Terra."

Peter Bayne (escritor escocês, 1830-1896)


Simbologia e Arquétipo

Uma mulher, com um lemniscato sobre a cabeça, segura a cabeça de um leão de modo firme porém delicado. Em alguns baralhos a jovem surge abrindo a boca do leão, noutros fechando-a.


A Viagem do Louco

Seguindo os conselhos do guerreiro d’O Carro, o Louco triunfou sobre os seus inimigos e sente-se vitorioso, poderoso, arrogante, e até um pouco vingativo. Há dentro dele uma paixão que fervilha, e que ele mal consegue controlar. É neste estado que o Louco encontra uma jovem mulher que luta com um leão. Acorrendo em seu auxílio, o Louco chega a tempo de a ver fechar a boca do leão, delicadamente mas com firmeza. Aliás, o animal que parecia tão selvagem e feroz há poucos instantes, está agora sob o total domínio da jovem. Impressionado, o Louco pergunta-lhe como conseguiu tal proeza, ao que ela responda: “Força de vontade. Qualquer besta, não importa o quão selvagem, acaba por se vergar perante uma vontade superior”. Por momentos os olhos do Louco cruzam-se com os da sua interlocutora, e ele apercebe-se que ela, apesar da sua juventude e docilidade, possui grande poder e sabedoria. “Da mesma forma”, continua ela, “existem muitos impulsos indesejados dentro de nós. Não é errado senti-los, mas é errado deixar que nos controlem. Somos seres humanos, não bestas irracionais: podemos comandar essa energia, dirigi-la a objectivos mais elevados”. O Louco sentiu que a sua raiva se acalmava e, sentindo-se mais esclarecido, afastou-se com a certeza de que não fora apenas o leão a ser domado naquele dia pela força pura e inocente de uma jovem mulher.








A Força no baralho Quest (Llewellyn)






Notas Interpretativas

Tal como o signo que a rege, Leão, a carta d’A Força representa coragem e energia: a força selvagem do leão, e a vontade inabalável da jovem. Ela não tem medo, é absolutamente perseverante e indomável. Ela é a prova de que a força interior é muito mais poderosa do que a força física bruta. Na obra “Qabbalistic Tarot”, Wang compara esta carta com uma das virgens de Vesta, que cuidavam do fogo sagrado da Deusa do Coração. O fogo é algo que inspira medo, queima e pode facilmente fugir do controlo. Mas algures no tempo perdemos o medo dele – mas não o respeito. E com vontade e inteligência, soubemos transformá-lo numa ferramenta preciosa.






A Força no baralho Crystal (Lo Scarabeo)







Esta é uma mensagem muito próxima da d’O Carro, a de que é possível vencer controlando os instintos. A diferença é que a carta d’A Força garante que o Querente pode controlar não só a situação, mas também ele próprio. É uma carta que fala de dominar a raiva e os impulsos, de encontrar respostas criativas, de liderança, de manter a própria honra. O fogo, como o leão ou qualquer outra coisa que se queira controlar – uma situação, uma pessoa ou os próprios impulsos –, podem causar danos. A carta d’A Força traz a mensagem de que não se deve desistir nunca, mas ter a coragem de continuar a tentar e a certeza de que é possível vencer.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Tarot - VII. O Carro

“A arte da guerra ensina-nos não a confiar na probabilidade de o nosso inimigo não surgir, mas sim na nossa prontidão para o receber; não na hipótese de ele não atacar, mas sim no facto de termos tornado a nossa posição inexpugnável.”

Sun Tzu (c.544-496 a.C.) in A Arte da Guerra


Simbologia e Arquétipo

No baralho Rider-Waite, uma biga é conduzida por um guerreiro armado com os símbolos do sol e da lua, lingam e yoni (a haste no escudo alado). Logo atrás do guerreiro, um trono adornado com estrelas. À frente, dois cavalos ou esfinges em repouso, um preto e o outro branco.

O Carro representa o ego maduro, forte, assertivo, seguro de si, em controlo das suas emoções e do meio que o rodeia.

A Viagem do Louco

O Louco está perto de atingir aquilo que se propôs criar quando, há muito tempo, o Mago lhe revelou as ferramentas de que dispunha. Mas agora existem inimigos no seu caminho, ardilosos inimigos humanos, circunstâncias desfavoráveis, até confusão na sua própria mente. Já não há ânimo para prosseguir; ele sente que precisa de lutar até mesmo para manter a posição que já alcançou.

Caminhando ao longo da praia, o Louco observa as ondas que vão e vêm, e pergunta-se como poderá derrotar os seus inimigos e seguir em frente uma vez mais. Nesse momento, ele encontra um guerreiro conduzindo um carro de ouro e prata, com dois cavalos (um preto e um branco) que agora repousam. “Pareces um guerreiro vitorioso”, comenta o Louco. “Diz-me: qual é a melhor forma de derrotar um inimigo?” O guerreiro aponta para o oceano. “Já nadaste no mar e sentiste que a maré te levava para longe da costa? Se tentasses nadar para a frente, não irias a lado nenhum: a maré puxar-te-ia para trás, e com o tempo acabarias por ficar exausto e aforgar-te. A única forma de vencer sem perder toda a energia é nadar paralelamente à costa, e começar a descrever lentamente uma diagonal que te vá aproximando cada vez mais da terra firme. O mesmo acontece quando se enfrenta uma batalha num carro. Consegues vencer ao ficar lado-a-lado com o teu inimigo, nunca ao bater de frente com ele. Os teus cavalos mantêm as rodas em andamento, mas é o teu controlo e a tua direcção que conquistam a vitória. Eles são luz e escuridão, que devem ser conduzidas com harmonia sob a tua orientação.”







O Carro no baralho Bosch Tarots (Lo Scarabeo)








O Louco sente-se impressionado e inspirado. Pensa que finalmente aprendeu como pode vencer a sua própria guerra. Agradece ao guerreiro, mas antes de partir ainda ouve mais um conselho. “Não te esqueças de que não há vitória sem uma total confiança na causa que se defende. E de que a vitória não é o fim, mas o início”.

Notas Interpretativas

O Carro é uma das cartas mais complexas do Tarot. A um nível mais básico, significa guerra, uma luta e, eventualmente, uma vitória arduamente conquistada. Sobre inimigos, obstáculos, a natureza, os monstros que guardamos dentro de nós, ou para ter aquilo que queremos. Mas esta carta é muito mais do que isso. O guerreiro que conduz o Carro enverga os emblemas do Sol, mas o signo por detrás desta carta é Caranguejo, regido pela Lua. O Carro fala de movimento, acção, mas normalmente surge parado.






O Carro no baralho Sidhe (Adam McLean, 2006)







Estas aparentes contradições na representação simbólica do Carro indicam uma união de opostos, como os cavalos branco e preto. Por instinto, eles correm em diferentes direcções, mas devem e podem ser comandados de modo a correrem juntos na mesma direcção. O controlo deve ser exercido sempre que há oposição de emoções, de vontades, de necessidades, de pessoas, de circunstâncias; dando-lhes uma só direcção, a nossa direcção. Para tal, é essencial ter confiança e motivação. Daí que o Carro simbolize também uma nova motivação ou inspiração, que confere dinâmica a uma situação que até agora se encontrava estagnada. A um nível mais prático, pode ainda representar uma viagem, um veículo ou uma mensagem.


segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Tarot - VI. Os Enamorados

Mal fora iniciada a secreta viagem
Um deus me segredou que eu não iria só

Por isso a cada vulto os sentidos reagem,
Supondo ser a luz que deus me segredou.

David Mourão Ferreira, Inscrições sobre as Ondas in A Secreta Viagem (1950)


Simbologia e Arquétipo

No baralho Rider-Waite, um anjo ou cupido paira sobre um homem e uma mulher – Adão e Eva -, ladeados por duas árvores, uma delas com maçãs e uma serpente. Noutros baralhos, uma das árvores tem flores e a outra frutos, e é possível ainda encontrar versões desta carta nas quais figura um homem entre duas mulheres.

Esta carta simboliza o desejo instintivo do ser humano que o move na busca de uma “alma gémea”, de alguém com quem possa estabelecer um relacionamento e partilhar a vida.


A Viagem do Louco

O Louco chega a uma encruzilhada. Sente-se pleno de energia e confiança, sabe exactamente o que quer, onde ir, e o que fazer. No entanto, pára neste ponto do percurso, onde deve decidir-se entre dois caminhos. Uma árvore em flor marca o caminho que ele deseja seguir, o caminho que planeou para si. Mas, no outro lado, está uma árvore com frutos, e uma mulher. O Louco já teve relacionamentos com outras mulheres, algumas muito mais belas e sedutoras que esta. Mas esta é diferente. Ao vê-la, sente que o seu coração foi trespassado por uma seta do Cupido: a sensação é de choque, quase dolorosa. Ao falar com ela, a emoção intensifica-se. É como se tivesse encontrado uma parte de si próprio que andava desaparecida, e pela qual procurou durante toda a sua vida. Torna-se óbvio de que ela sente o mesmo. Terminam as frases um do outro, têm os mesmos pensamentos, como se um anjo tivesse apresentado as suas almas uma à outra. Embora planeasse seguir o caminho da árvore em flor, e embora lhe cause algum transtorno levar uma mulher consigo no restante da viagem seguindo um caminho totalmente diferente, o Louco não se atreve a deixá-la para trás. Como a árvore com frutos, ela irá satisfazê-lo completamente. Não importa o quão distante ele vá ficar do seu objectivo inicial: ela é o seu futuro. O Louco escolhe-a, e juntos iniciam um percurso inteiramente novo.





Os Enamorados no Baralho World Spirit (Lo Scarbeo, 2006)








Notas Interpretativas

Originalmente, esta carta era designada apenas por “Amor”, o que talvez seja mais adequado do que “Os Enamorados”. O Amor é consequência do crescimento, da maturidade. É a força que nos faz escolher e decidir por razões que frequentemente não compreendemos; faz-nos render a nossa vontade a um poder superior. Esta carta fala no encontro de duas pessoas que fazem parte uma da outra, que estão numa sintonia tão perfeita que é impossível resistir à atracção. Curiosamente, a carta dos Enamorados é governada por Gémeos, um signo racional e não emocional. Isto porque se trata aqui da comunicação perfeita, de encontrar algo pelo qual a alma anseia.





Os Enamorados no Baralho Fey (Lo Scarabeo, 2002)







Numa leitura, esta carta sugere normalmente que o Querente está (ou estará em breve) perante uma escolha: uma pessoa, uma carreira, um desafio, alguma coisa pela qual se irá apaixonar. Saberá instintivamente que o que tem a fazer, mesmo que isso signifique divergir daquilo que havia planeado inicialmente. Independentemente da opinião das outras pessoas, deve confiar em si próprio para tomar a decisão. Quaisquer que sejam as dificuldades, apenas importa saber que, sem a escolha certa, nunca se sentirá completo.