sexta-feira, 26 de abril de 2013

Astrologia do Coração Partido: Trânsitos de Júpiter

Os mais atentos a questões astrológicas perguntar-se-ão como pode Júpiter partir corações. Afinal, este é o planeta das oportunidades, grandes e pequenas, do impulso para ir mais além, expandido conhecimentos e crenças, abrindo a mente a horizontes mais vastos e despertando-a para a espiritualidade. 

Muitos relacionamentos vivem numa falsa auto-suficiência, como se nada exterior ao relacionamento fosse necessário (eu vivo pra ti, tu vives pra mim). As pessoas acomodam-se ao que lhes é familiar, rotineiro, e assim se dizem "satisfeitas". Mas quando um trânsito de Júpiter afecta um relacionamento, é bem provável que surjam então boas oportunidades. E para aproveitá-las é preciso movimento, acção, se não de corpo pelo menos de mentalidade.  Pode acontecer que uma das pessoas esteja atenta a essas oportunidades, ou disponível para segui-las onde quer que possam levar... Como Alice, seguindo o Coelho Branco até ao País das Maravilhas. Mas nem todos os parceiros se querem dar a tal trabalho, e armam-se em Velhos do Restelo (ou em Saturnos, dependendo da mitologia ;-) apontando um dedo acusador às dádivas que Júpiter traz como se de castelos de areia se tratassem. Bem, nunca saberá onde o caminho do Coelho Branco termina se não estiveres disposto a segui-lo, diria Alice.

Nesse sentido, os trânsitos de Jupiter podem trazer grandes mudanças a um relacionamento. Quando uma das pessoas está pronta para novos desafios, Jupiter sinaliza a sua chegada: um nova situação profissional, uma viagem estimulante, uma oportunidade de formação, ou até novos contactos e novos amigos. Claro que nada nos cai no colo sem um mínimo de esforço (diz-me o meu Saturnozinho), ou pelo menos sem que estejamos minimamente atentos ao que se passa à nossa volta. Algumas pessoas estarão mais naturalmente predispostas para entender e seguir as dicas de sorte que Júpiter vai deixando no nosso caminho, outras nem tanto. Mas em teoria qualquer mortal pode (e deve) abrir-se a novas experiências.

Ora por vezes o relacionamento reage mal a tanta "sorte". A pessoa "bafejada pela fortuna" pode sentir que a outra a limita, que não entende os seus sonhos, que não apoia os seus projectos. E para quem assiste ao trânsito de Júpiter do lado de fora, tudo aquilo pode despertar as suas próprias inseguranças e sensação de limitação: "Ele tem tanto potencial, tantas coisas boas a acontecer, e eu nunca saio da cepa-torta..." Muita frustração pode acumular-se de parte a parte, minando lentamente o relacionamento que pode até terminar no momento em que ambos constatarem que acabaram por seguir caminhos completamente diferentes: afinal, o País das Maravilhas está tão distante do parque infantil lá do bairro...


Quando há verdadeira comunicação dentro da relação, os trânsitos de Júpiter podem trazer óptimas notícias para ambos. Necessário é que um saiba estimular o crescimento do outro, sem cobrar e sem invejar, ciente de que todos temos períodos de expansão e períodos de limitação, das nossas capacidades e dos nossos recursos. Júpiter, o grande benéfico, consegue sempre surpreender-nos com novas perspectivas para o nosso desenvolvimento pessoal e para a prosperidade dos nossos relacionamentos: se nisso vemos oportunidades de ouro ou desaires de chumbo, depende apenas de nós.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Astrologia do Coração Partido: Trânsitos de Neptuno

Os trânsitos de Neptuno são, por definição... confusos. Qualquer que seja o planeta natal ou a casa astrológica "afectados", Neptuno traz uma grande indefinição até mesmo ao mais resoluto dos mortais. 

Na esfera dos relacionamentos, Neptuno pode ser responsável por etapas de grande inspiração: ... e de repente vemos noutra pessoa a nossa Alma Gémea! Pode ser alguém com quem nos relacionamos há muito tempo, ou pode ser um desconhecido com quem trocámos olhares no autocarro. O que acontece é que o contacto de Neptuno com um dos nossos planetas pessoais vem trazer à nossa humilde condição humana um pouco do amor divino, aquele sentimento sobrenatural de total imersão no Amor Absoluto do Cosmos. Este é o êxtase que tantos religiosos procuram em longas horas de meditação, em laboriosos períodos de jejum e penitência. E no entanto aqui está ele, perfeitamente focalizado noutro ser humano, como se esse outro ser humano fosse capaz de nos conduzir à salvação da alma (ou à condenação eterna).

Por mais irresistível que pareça a promessa romântica de muitos trânsitos de Neptuno, cedo ou tarde ela se revela impossível. Não porque a outra pessoa seja comprometida, ou porque vá em breve partir definitivamente para longe, por exemplo. Podem ser estas as circunstâncias, mas os motivos do impossível neptuniano são mais profundos. É que o êxtase da comunhão espiritual não cabe num relacionamento a dois. Não por muito tempo, pelo menos. Confundir amor divino com amor humano é o drama de todo o romântico incurável, um drama que artistas de todas as épocas bem souberam retratar nas suas obras. Romeu e Julieta, Tristão e Isolda. Amores demasiado grandes para serem vividos por meros mortais. Que teria acontecido a estes famosos pares românticos se não fosse a Morte? O tédio? Talvez não. Mas a magia do amor romântico, o amor das ilusões, não é compatível com a rotina diária, com o confronto de egos, desejos e necessidades que está sempre presente numa relação, por mais harmoniosa que seja. 

Nesse sentido, e voltando a Neptuno, os seus trânsitos vêm muitas vezes trazer ilusão e desilusão. A miragem do amor perfeito que depois se esfuma, mais cedo ou mais tarde, por conta de um qualquer motivo racionalmente plausível mas emocionalmente devastador. Algumas pessoas tentarão (re)encontrar uma e outra vez a mesma sensação de união a algo maior. Talvez no sexo, nas drogas, ou noutra qualquer forma de escape. Porque Neptuno é isso, é querer que a nossa pele se dissolva para nos tornarmos um só com tudo o resto, escapando à nossa condição humana de inevitável solidão. 

Noutros casos, os trânsitos de Neptuno mergulham-nos em situações dúbias, difíceis de entender, em que algo inevitavelmente nos escapa - ainda que não saibamos explicar o quê. Ou somos nós que nos colocamos no papel de ilusionista, dissimulando a verdade para servir propósitos menos honrosos. Mas como diz o velho ditado (?):

Podes enganar algumas pessoas o tempo toda, e todas as pessoas durante algum tempo, mas não podes enganar todas as pessoas o tempo todo.

Olhando Neptuno de uma forma mais construtiva, os seus trânsitos podem servir para honrar um ideal maior que nós, e assim tornamo-nos capazes de co-criar melhores relacionamentos. Quem foi que disse que duas pessoas que se amam não devem olhar uma para a outra, mas olhar na mesma direcção? Talvez Neptuno possa ajudar a apontar essa direcção, estimulando a imaginação e a vontade de dar corpo e voz a uma causa maior. Porque não envolverem-se nessa causa maior, a dois? Arte, filantropia, assistência humanitária... Não ficará mais rica a vossa relação se dela forem capazes de extrair algo mais do que apenas o vosso bem-estar? 


Porque não dar amor ao mundo, tal como dão um ao outro? Pois que essa é talvez uma das maiores lições de Neptuno: Amor é Amor, e não vale a pena centrá-lo apenas numa outra pessoa - e dar-lhe o pomposo título de "Alma Gémea" - pois que o verdadeiro Amor está em todos e em toda a parte. Basta saber olhar.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Astrologia do Coração Partido: Trânsitos de Urano

Há relacionamentos que vão terminando lentamente. São as discussões cada vez mais frequentes ou o desgaste silencioso da rotina diária que transformam um casal outrora cúmplice numa dupla de perfeitos desconhecidos. A certa altura, já a situação está tão degradada que ambos têm noção de que o final está perto. Outras vezes, tudo parece quase perfeito até que uma das pessoas termina tudo abruptamente, para choque do outro e espanto geral.

Nestes casos estão normalmente envolvidos trânsitos de Urano, especialmente a Vénus ou ao eixo Ascendente/Descendente. Urano traz consigo a ruptura com o que está desactualizado, em nome de um ideal de vida e de relacionamento em maior sintonia com os nossos desejos presentes. Enquanto os trânsitos de Saturno inspiram muitas vezes a solidificação do relacionamento (através do casamento, ou do início informal de uma vida em comum), os trânsitos de Urano exigem mudança radical. Quem nunca teve uma relação séria deseja subitamente comprometer-se com alguém, mas a manifestação mais comum da influência de Urano é a ânsia por algum tipo de libertação. Livremo-nos da responsabilidade, do compromisso, das expectativas bolorentas da sociedade, até da monogamia! 

Urano exige espaço para respirar, e muitos relacionamentos não conseguem adaptar-se a tamanha mudança. Para que um sentimento de união sobreviva a isso, é necessária grande flexibilidade de parte a parte, pois que nesta etapa não há cedências à nostalgia dos bons tempos vividos no Passado. Apenas o Aqui e o Agora interessam.

Como em tudo o que é Astrologia, muitas vezes compete ao Outro realizar aquilo que não somos capazes de fazer, ou que não temos consciência de que tem que ser feito para nosso próprio bem. Aquelas pessoas que mais resistem à mudança terão grande dificuldade em lidar com um trânsito de Urano, e por isso sucede muitas vezes sucede que seja a outra pessoa a terminar inesperadamente o relacionamento. "Ah, aquele canalha insensível, como pode ele terminar assim uma relação de tanto tempo...?" Por mais difícil que seja de entendê-lo (sobretudo quando as emoções estão ainda à flor da pele), importa adquirir distanciamento suficiente para perceber que, tratando-se de um trânsito de Urano NOSSO, é nosso o desejo de libertação - o "canalha insensível" apenas agiu como uma parte de nós gostaria de ter agido, se lhe tivéssemos dado ouvidos.

Ai, a projecção, a projecção. Nunca deixa de me surpreender, o modo como as pessoas da nossa vida nos devolvem, com o seu comportamento, aquilo que não estamos dispostos a reconhecer em nós mesmos. Para quê enredarmo-nos na habitual teia de culpas mútuas, se com um bocadinho de honestidade conseguimos ir muito mais longe no porquê do fim de um relacionamento?

E é isso mesmo que Urano vem propôr, quando transita em algum ponto sensível do nosso mapa astrológico. Sejamos mais autênticos connosco mesmos e com os outros, pois qualquer que seja o preço emocional a pagar valerá a pena se servir para nos tornarmos mais NÓS MESMOS e menos aquilo que os outros esperam que sejamos.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Astrologia do Coração Partido: Trânsitos de Saturno

A esfera dos relacionamentos é talvez o conjunto das experiências mais marcantes na vida de qualquer pessoa. E relacionamentos existem em todos os formatos e conteúdos: a família que não se escolhe, os amigos que se vai (des)fazendo pelo caminho, os amores platónicos e atómicos, possíveis e impossíveis, tépidos e escaldantes... Todo o tipo de emoções nasce e morre à medida que vamos encontrando e conectando com novas pessoas enquanto outras vão desaparecendo do nosso percurso de vida.

O estudo astrológico pode ser especialmente útil quando tentamos compreender os relacionamentos, sobretudo os de natureza romântica - por serem muitas vezes inesperados, por ocuparem tanto tempo do nosso foco mental e emocional, por povoarem o imaginário colectivo actual como condição essencial à felicidade de cada um de nós. Afinal, o que determina o nível de atracção entre duas pessoas? A sua compatibilidade intelectual, cultural...? A "química" inexplicável que as torna irresistivelmente inseparáveis...? Estes são temas complexos que merecem muitos muitos posts, mas desta vez analisemos o final de um relacionamento amoroso.

Toda a gente passa por diferentes fases na sua vida. Algumas fases serão consideradas "boas" (sucesso profissional, estabilidade familiar, boa energia física e mental,...), outras nem tanto. Porque são feitos de pessoas, os relacionamentos também passam por fases, mudam, evoluem. Mas se nem sempre estamos conscientes das alterações que sucedem dentro de nós próprios, muito menos conscientes estamos de como isso vai afectado os nossos relacionamentos. É que uma só pessoa já é suficientemente difícil de entender (mesmo para si própria), quanto mais duas pessoas + toda a bagagem emocional que transportam para dentro do seu relacionamento.

Em termos astrológicos, as grandes mudanças nos relacionamentos são muitas vezes assinaladas por trânsitos de Saturno, Urano, Neptuno e Plutão aos planetas pessoais natais de uma ou ambas as pessoas, sobretudo ao Sol, à Lua, a Vénus ou a Marte. Trânsitos aos ângulos (Ascendente/Descendente e MC/IC) podem também ter importantes consequências em qualquer relacionamento, pois produzem uma transformação significativa no modo como cada pessoa se relaciona com o mundo no geral.

Os trânsitos de Saturno forçam-nos a assumir responsabilidades por escolhas passadas, por compromissos assumidos perante nós mesmos e perante os outros. Saturno convida (com grande insistência :-) a que reconheçamos e aceitamos os nossos limites, não com um atitude de derrota perante as circunstâncias mas com um espírito de persistência e dedicação àquilo que são os nossos objectivos de vida. Quando os trânsitos de Saturno afectam um relacionamento, é posta em causa a nossa capacidade para nos comprometermos com o Outro, e somos questionados sobre as limitações associadas ao estar com o Outro. 

Muitas vezes a relação "passa" no teste saturnino e sentimos então a necessidade de formalizá-la, de torná-la mais sólida e estruturada aos nossos olhos e aos olhos da sociedade: é por isso que muitos trânsitos de Saturno (sobretudo a Vénus natal ou ao Descendente) estão associados à decisão ou ao acto de casar. Por outro lado, os relacionamentos que se tornaram estáticos e demasiado restritivos acabam por terminar durante um trânsito de Saturno: chega o momento em que somos forçados a admitir que aquela relação que durante algum tempo nos serviu de suporte já não pode mais apoiar o nosso pleno desenvolvimento individual.

Como em qualquer outro trânsito, acontece frequentemente que uma das pessoas não está consciente das forças interiores que apelam a uma mudança concreta, e quando assim é acaba por ser o Outro a agir. Como defendia Jung, aquilo de que não estamos conscientes em nós chega-nos do exterior como se fosse "destino". Por muito doloroso que seja admiti-lo, a separação é tão essencial a quem é "abandonado" como a quem "abandona", pois toda a relação funciona apenas enquanto AMBOS encontram aí uma fonte de desafios positivos para a sua aprendizagem individual. 

Os trânsitos de Saturno podem por isso trazer o final não desejado de uma relação, muitas vezes com um sentimento de grande solidão e a sensação de se não ter sido suficientemente "bom" para a pessoa que nos deixou. Este duro golpe na auto-estima demora tempo a ser ultrapassado - não fosse Saturno o deus do Tempo :-) - mas com um pouco de distanciamento e auto-análise aquilo que parecia uma catástrofe amorosa acaba por se revelar numa oportunidade preciosa para desenvolvermos um sentido de amor próprio mais auto-suficiente, que não depende tanto da validação de quem está ao nosso lado mais mais daquilo que de valioso reconhecemos em nós próprios.

E Urano, que efeitos terá num relacionamento amoroso?... Até ao próximo post!