O PARADIGMA
O nosso cérebro possui um padrão ou exemplo de como o mundo físico à nossa volta deve “parecer” e “funcionar” – um paradigma.
O paradigma reside na nossa mente inconsciente. A sua “função” é comparar a informação sensorial actual com a informação que está armazenada na memória. Iniciado no momento do nascimento (se não antes), o paradigma vai evoluindo e fortalecendo-se à medida que vamos amadurecendo e interagindo com o mundo físico através dos sentidos.
Ao contrário de um simples filtro, o paradigma não só limita a informação que chega ao nosso “monitor consciente” como também dá forma a essa informação, para que se assemelhe ao padrão já estabelecido com o “aceitável”.
Por exemplo, muitos de nós temos um paradigma de como deve ser a aparência física das pessoas que conhecemos muito bem e com quem estamos muitas vezes. Se um amigo íntimo resolver rapar o seu bigode, podemos não notar essa mudança durante algum tempo, porque o nosso paradigma inclui uma imagem desse nosso amigo COM bigode. Se nos pedirem para descrever esse amigo, incluiremos o facto de que ele tem bigode. O paradigma continua a apresentar a imagem que “esperamos” encontrar, até que tomamos consciência de que alguma coisa mudou na aparência desse indivíduo, e adaptamos o nosso paradigma a essa mudança.
Quando vemos o nosso amigo pela primeira vez sem bigode, podemos ter a sensação de que há algo de “diferente” nele. Isto acontece porque o paradigma adiciona conteúdo emocional à informação que deixa passar para o monitor consciente!
Este exemplo do bigode é na realidade demasiado subtil. O paradigma é muito mais poderoso, e faz mais do que apenas “filtrar” a informação que é apresentada à nossa percepção. É que também tem tudo a ver com a forma como sentimos as experiências que vamos vivendo, e com a nossa capacidade de julgar e avaliar à medida que interagimos com essas experiências.
Por exemplo, um homem de meia-idade foi a um hipnotizador para tentar resolver o seu medo de cavalos. A sua mulher era uma excelente cavaleira, e ele queria poder juntar-se a ela. Não é que não gostasse de cavalos (até gostava), mas quanto mais perto ficava de montar um, mais medo sentia. Este é um homem inteligente, que sabia não haver qualquer razão lógica para a sua fobia. O hipnotizador colocou-o num estado hipnótico, e disse-lhe que se imaginasse prestes a montar um cavalo. O homem sentiu medo de imediato. O hipnotizador disse-lhe que se mantivesse junto ao cavalo, mas que voltasse atrás no tempo, através de todas as experiências que viveu, até que o medo começasse a desaparecer. Com muito pouco esforço, o homem declarou que o medo havia desaparecido. O hipnotizador disse-lhe então para regressar lentamente ao Presente, até ao momento em que o medo regressasse. Rapidamente, o homem voltou a manifestar a sua fobia de montar o cavalo. Tentou explicar o que lhe estava a acontecer, tinha muita dificuldade em falar, como se de um bebé se tratasse. O hipnotizador pediu-lhe então que se mantivesse nesse momento, mas que o descrevesse na sua mente de adulto.
Aos dois anos de idade, era um bebé que estava na fábrica de sapatos do seu pai quando uma correia de uma das máquinas se partiu e soltou, atingindo-o na cabeça com a força de um chicote. Enquanto adulto, o homem não era capaz de se lembrar deste incidente. Sob hipnose, pôde lembrar-se do acontecido nos mais ínfimos detalhes, incluindo o cheiro de cabedal característico do lugar. Na realidade o homem não tinha medo de cavalos: era o cheiro do cabedal que estimulava as emoções vividas numa experiência do Passado!
O modo como sentimos cada experiência da nossa vida quotidiana resulta do nosso paradigma. O medo de andar a cavalo é um exemplo extremo. O nosso paradigma actua em cada momento em que estamos acordados. Aquilo que nos ensinaram a acreditar, a forma como aprendemos a interagir através dos costumes sociais, os nossos sentimentos acerca de diferentes tipos de pessoas, a forma como vemos diversos tipos de ocupações, e todos os aspectos do nosso “gostar” e “não gostar” emocional, são o resultado do nosso paradigma. O importante a reter é que o cérebro não processa a informação sensorial para depois enviar os resultados directamente para o neo-córtex da avaliação consciente. O paradigma, que inclui as emoções envolvidas no nosso padrão ou exemplo, está sempre incluído naquilo que aparece no nosso visor da realidade.
Não temos um centro para emoções “boas” e outro para emoções “más”. As emoções são um espectro contínuo, e nenhuma pode ser distinguida das emoções “vizinhas” a não ser por uma divisão absolutamente arbitrária. Essa divisão é estabelecida pelo nosso paradigma. É por isso que uma tradição, uma crença, uma forma de fazer certas coisas ou mesmo uma palavra como “meditação” produzem significados diferentes associados a emoções diferentes em pessoas diferentes.
Este livro possui vários títulos diferentes devido às questões paradigmáticas contidas na palavra “meditação”. Alguns leitores jamais o olhariam duas vezes apenas com essa palavra no título, mas esses mesmos leitores podem interessar-se por um título como “O cérebro quântico”. E no entanto, qualquer que seja o título, o seu conteúdo é o mesmo!
“Não vemos as coisas como elas são; vêmo-las como nós somos.”
Anais Nin
Adaptado de: The Nuts and Bolts of Meditation