Sobrevivemos até este momento porque fomos capazes de nos adaptar a um ambiente em permanente mudança. Sabemos que o nosso cérebro cresceu, ao longo do tempo, como parte do processo de adaptação. No início, as mudanças foram relativamente lentas, e o cérebro teve tempo para deixar de lado velhos padrões à medida que novos e mais produtivos padrões se desenvolviam. Mas nos últimos 100 anos lançámo-nos num ambiente físico que contém uma quantidade esmagadora de informação sensorial, a qual deve ser processada pelo cérebro 24 horas por dia, 7 dias por semana! Estamos “ligados” de uma forma que os adultos da geração anterior à nossa nem supunham que seria possível. Desde o momento que acordamos temos acesso às notícias, ao e-mail, ao SMS, aos jogos de computador, ao entretenimento televisivo, que mantêm o nosso cérebro num modo de processamento acelerado durante todo o dia. O nosso cérebro é uma máquina electroquímica, por isso está a consumir energia e a produzir desperdícios durante todo este processo.
A meditação é o processo de diminuir a actividade cerebral, centrando a sua atenção num único e simples objecto. Meditar permite ao cérebro entrar num modo de “afinação” em que os desperdícios são removidos, e os recursos reabastecidos. Os resultados físicos da meditação estão bem documentados. A prática prolongada pode expandir a nossa consciência de formas já amplamente constatadas, mas nunca devidamente explicadas. Tentaremos aqui esclarecer alguma dessa confusão à medida que progredimos. Os “resultados” desejados da meditação variam, e também disso falaremos. Mas primeiro uma olhadela aos benefícios físicos da meditação.
Imagine que está a conduzir o seu carro a caminho de casa, depois de um longo dia de trabalho, numa estrada com muitos engarrafamentos. Está rodeada por outros veículos, e tem de ter os vidros fechados e o ar condicionado ligado por causa dos fumos de escape que estão por todo o lado. O seu carro consegue aguentar estas dificuldades, e você também. Mas nenhum dos dois foi concebido para ser usado assim.
O motor do carro foi desenhado para um melhor desempenho em caminho aberto, e neste engarrafamento está a entupir-se com combustível não consumido, algum do qual sai pelo tubo de escape e contribui para a atmosfera já de si muito poluída. A velocidade é mínima, e o motor tem dificuldades em manter-se fresco. Usamos os travões mais vezes por minuto do que faríamos durante um dia inteiro a conduzir em auto-estrada! Chegamos a casa, estacionamos o carro e entramos. Na manhã seguinte, recomeçará o suplício. Em pouco tempo, este carro vai precisar de uma revisão. Mas numa certa noite decidimos sair da cidade depois do trabalho. Chegámos finalmente a uma estrada sem tráfego, a direito por entre os montes. Relaxamos, desligamos o ar condicionado, descemos as janelas e aceleramos tranquilamente. Os hidrocarbonetos não consumidos no ciclo do pára-arranca começam a sair, e o motor parece quase “ronronar” de satisfação.
Este é um exemplo vulgar, mas que nos dá uma ideia do que acontece nas primeiras etapas da meditação. Quando começamos a meditar, tiramos o nosso cérebro do modo caótico de processamento de informação tipo “pára-arranca”, e damos-lhe as condições para que possa seguir tranquilamente por uma “super-auto-estrada” mental. Quando fechamos os olhos e nos concentramos simplesmente em relaxar, os padrões cerebrais alfa, beta e teta inicial começam a aumentar. Os resultados físicos são um aumento dos níveis de noradrenalina, serotonina e beta-endorfina, e um decréscimo dos níveis de lactato no sangue (que estão directamente associados ao stress).
Com a meditação, também a resolução de problemas e o acesso a novas ideias se tornam mais fáceis. Quando o cérebro está ocupado a processar o “ruído informativo” do quotidiano, não há lugar para pensamentos novos ou criativos. Os artistas e poetas chamam-lhe “inspiração”. Albert Einstein e Thomas Edison, entre outras grandes mentes da Humanidade, praticavam algum tipo de meditação. Quando confrontado com um problema que não conseguia resolver, Edison tirava algum tempo para uma sesta na poltrona do seu escritório. (A “poltrona da sesta” ainda pode ser vista no Museu Edison.)
As pessoas que praticam meditação regularmente parecem e sentem-se tipicamente 10 ou 15 anos mais jovens do que as outras pessoas da sua idade. Proporcionar à mente uma “pausa” frequente e deixar que o nosso cérebro faça as auto-reparações de que necessita diariamente pode fazer toda a diferença. Bastam 15 ou 20 minutos, de preferência duas vezes por dia, para dar ao corpo e à mente uma boa “revisão”!
A meditação com vista à melhoria do estado físico e emocional é fácil de praticar. Trata-se de um processo muito simples, sem elaborados “passes de mágica”. Se você é daquelas pessoas que se sente muito mais desperto e concentrado depois de uma pequena sesta, então é provável que já esteja a utilizar esta forma de meditação: trata-se apenas de um “ciclo de sono” curto, praticado durante o dia. Basta seguir estes passos:
1. Defina um horário!
É fundamental que combine consigo próprio um momento diário para a meditação, sabendo que este deve durar aproximadamente 20 minutos. Aquilo que fazemos regularmente cria no cérebro padrões de memória processual, e queremos que a meditação se torne um hábito de modo a que a memória processual nos comece a preparar para esse momento ainda antes de ele acontecer. Se é adepto da sesta, sabe que começa a sentir-se ensonado mais ou menos àquela hora, todos os dias. Por outro lado, se nos convencemos que iremos meditar quando tivermos tempo, é provável que isso nunca chegue a acontecer.
O mais importante é estabelecer um horário, um padrão de meditação. Com isso, a nossa mente começa a preparar-se antecipadamente. Aliás, muitos praticantes regulares de meditação dizem sentir necessidade disso, como se sentissem falta de comer se não conseguissem almoçar à hora a que habitualmente o fazem.
2. Crie um espaço para a meditação.
Deve encontrar um espaço sossegado, onde sabe que não será incomodado; um local sem telefones, sem agitação. No início, esta será uma necessidade imperativa, mas à medida que se desenvolve a capacidade de meditar torna-se possível fazê-lo em qualquer lado.
3. Sente-se ou deite-se numa posição confortável.
Esta é a única forma de meditação que pode ser praticada na horizontal. Quando nos deitamos, sentimo-nos naturalmente sonolentos, o que é óptimo se se pretende uma revigoração física e mental.
4. Escolha um alvo de meditação.
Nesta forma de meditação, podemos concentrar-nos num momento feliz, num lugar tranquilo, ou em qualquer coisa que nos traga sensações agradáveis. Não é problema em divagar de pensamento em pensamento, desde que isso não signifique emoções negativas. A concentração em pensamentos positivos leva a que o cérebro “relaxe”, alterando a sua frequência predominante para alfa, beta e primeiras etapas de teta.
Tente não ser desviado pela tentativa de resolução de problemas. Quinze minutos de “condução livre” na “auto-estrada” alfa, uma ou duas vezes por dia, produz todos os benefícios que pode esperar da meditação, nomeadamente:
- Aumento da capacidade de concentração
- Manutenção do equilíbrio emocional
- Diminuição dos níveis de stress
- Potenciação do sistema imunitário
Além disso, é importante notar que a prática de meditação ou a utilização de sons binaurais estão associadas a um aumento das capacidades psíquicas. Neste tipo de meditação, essa associação pode resultar apenas num aumento daquilo a que chamamos “intuição”.
A utilização de sons binaurais é opcional. Para este nível de meditação, recomenda-se a utilização de sons alfa. Eis um exemplo que pode utilizar:
Ajuste o volume para que seja apenas audível. Os sons binaurais vão estimular e aprofundar os padrões cerebrais alfa.
Adaptado de: The Nuts and Bolts of Meditation