O Nodo Ascendente foi recentemente honrado com o Selo Lemniscata. Com essa distinção, que muito me sensibiliza, veio também o desafio de responder à seguinte questão:
O que é para ti ser um Homo sapiens?
Pois bem, cá vão umas ideias sobre o assunto. E, mais uma vez, muito obrigada Shin-Tau!
"A primeira coisa de que me lembro a respeito do mundo... foi a de que nele me sentia um estranho. Este sentimento, que é ao mesmo tempo a glória e a desolação do Homo sapiens, é o único fio de consistência que detecto na minha vida."
Malcolm Muggeridge, Jornalista e Escritor Inglês (1903-1990)
Todos somos Homo sapiens.
E estamos sós no género Homo. Este género terá emergido há cerca de 1,5-2,5 milhões de anos. Desde então, várias espécies foram surgindo, evoluindo, e extinguindo-se. Por motivos que ainda não foram cientificamente esclarecidos, todas elas desapareceram, excepto o Homo sapiens, derradeiro portador de uma longa jornada evolutiva marcada por muitas conquistas, algumas delas sem paralelo em todo o Reino Animal.
Várias características morfológicas, anatómicas e funcionais nos distanciam dos restantes hominídeos (chimpanzés, gorilas e orangotangos) que connosco têm co-existido até hoje. A mais impressionante, dirão muitos, é a inteligência. Mas que é isso de “inteligência”? Como defini-la? Não será um conceito demasiado abrangente e subjectivo para que o possamos atribuir em exclusivo ao Homo sapiens, negando-o a qualquer outro animal?
Observemos então duas manifestações de “inteligência” muito concretas. Qualquer uma delas pode ser encontrada noutros animais. Mas não em simultâneo E com o mesmo grau de desenvolvimento para o qual evoluíram até ao Homo sapiens. Capacidade técnica e linguagem.
Com a capacidade técnica (e tudo começou com o simples polegar), foi possível utilizar cada vez melhor as circunstâncias do ambiente a favor da própria sobrevivência. Paus que se transformam em lanças ou arados, pedras em armas ou abrigos. Domestique-se o fogo para que seja nosso eterno aliado, os cereais e os herbívoros para que sustentam todas as gerações vindouras!
Com a linguagem, as relações sociais progrediram, ganharam em complexidade, em profundidade, as mensagens outrora directas adquiriram variações de tom e de significado cada vez mais subtis. Conversemos, argumentemos, organizemos a nossa família, a nossa sociedade, façamo-las unidas em torno de propósitos comuns, aprendendo a encontrar na individualidade de cada um a força de todos!
E assim foi. Capacidade técnica e linguagem. Quando pensei nestes dois sinais tão fundamentais da “inteligência” do Homo sapiens, segredos do seu sucesso evolutivo, lembrei-me de Mercúrio. O mensageiro dos deuses é quem rege a capacidade técnica (Virgem) e a linguagem (Gémeos). Observando o Zodíaco, encontramos Caranguejo e Leão entre Gémeos e Virgem. Leão que é regido pelo Sol, o Ego.
Caranguejo, regido pela Lua, o Inconsciente. Daí que não seja completamente despropositado pensar na evolução do Homem nestes termos, percorrendo o Zodíaco em ambas as direcções (sentido horário e anti-horário) a partir de Leão e Caranguejo.
Nestes dois signos reside o cerne de qualquer Homo sapiens, Ego e Inconsciente. Depois, com Mercúrio, linguagem (Gémeos) e capacidade técnica (Virgem) são desenvolvidas como forma de adaptação ao Outro e ao mundo material. Em Vénus, encontramos outra etapa da evolução, o aprender a gerir os recursos naturais ou produzidos (Touro) e os afectos envolvidos nas relações humanas (Balança). Na dupla Marte-Plutão, uma das mais difíceis lições: o impulso para a conquista do novo (Carneiro) traz consigo o imperativo de saber lidar com a Morte, e com isso dominar o medo do Desconhecido (Escorpião). Em Júpiter e Neptuno, a essência da sociedade ganha forma sob as leis morais que aspiram à Utopia (Sagitário), tantas vezes indissociáveis da ligação ao Absoluto que é objectivo último do desenvolvimento da espiritualidade em cada Homo sapiens (Peixes). E, finalmente, eis-nos chegados, seres humanos, a este ano de 2009, que é de Aquário como é de Capricórnio por muitas razões. E por mais uma: a oposição Saturno-Urano que se tem vindo a observar nos céus desde 2008 e até 2010, coloca-nos, Humanidade, perante mais um dilema da etapa evolutiva, talvez o derradeiro dilema. Aquele que opõe a liberdade individual à responsabilidade colectiva. Quantos erros têm sido cometidos em nome de uma e de outra? Quantas pessoas agem irracionalmente para prejuízo de muitos? Quantos governos oprimem os seus cidadãos em nome do “bem comum”? Quantos mais erros serão necessários até que todos nós, Homo sapiens, sejamos capazes de honrar o longo Passado evolutivo que nos trouxe até aqui, reencontrando o equilíbrio que temos vindo a abandonar desde que iniciámos a jornada pela “inteligência”, o equilíbrio que nos é tão essencial como miraculoso… Nas palavras de Nietzsche, o ser humano é uma corda estendida sobre o abismo, entre o Animal e o Divino. A meu ver, isso não significa que estamos predestinados a “dominar o mundo” (que arrogante, essa “inteligência”!), que podemos p.ex. controlar alterações climáticas (que acontecem desde que o mundo é mundo, independentemente das causas ou das consequências… a atmosfera desconhece esta nossa “inteligência”, não lhe presta vassalagem). O Mundo, meus congéneres de espécie, não é o nosso parque de diversões, campo de treino para o constante desenvolvimento desta “inteligência” que tanto veneramos, qual Santo Graal da evolução… O Mundo é um milagre. E cada um de nós, Homo sapiens, fomos convidados a participar, através não tanto da Inteligência como da Consciência da centelha divina que todos temos, e que nos torna parte ínfima mas fundamental desse milagre.
Conheça-se a si próprio, honre a sua espécie, e participe activamente nesta caminhada evolutiva que se iniciou há 200.000 anos. Seja um Homo sapiens.