"Muitos recebem conselhos,
mas só os sensatos beneficiam deles."
Publilius Syrus
No baralho Rider-Waite, o Papa surge sentado num trono entre dois pilares, segurando um ceptro, abençoando dois acólitos que devotamente permanecem a seus pés.
A Viagem do Louco
Tendo aprendido com o Imperador a criar uma fundação sólida para o seu futuro, o Louco é subitamente atingido pelo medo. E se tudo aquilo por que lutou lhe for retirado? E se for roubado, destruído, se se perder ou desaparecer? E se simplesmente não for suficientemente bom? Em pânico, entra num templo sagrado onde encontra o Papa, homem santo e mestre sábio. Os acólitos ajoelham-se a seus pés, prontos a ouvir cada um dos seus ensinamentos. O Louco conta ao Papa sobre os seus medos, perguntando-lhe como se pode libertar deles. “Só existem duas formas de o conseguires”, diz o Papa, sabiamente. “Ou desistes daquilo que temes perder, para que isso deixe de ter poder sobre ti, ou concentras-te naquilo que terás se conseguires ultrapassar o teu medo. Afinal, se perdesses tudo o que construíste, mesmo assim ficarias ainda com a experiência e o conhecimento que adquiriste até agora, certo?” O Louco sente que este conselho surpreendentemente pragmático o libertou do seu medo, e sente-se preparado para abandonar o templo e, uma vez mais, enfrentar os desafios da vida.
A carta do Papa é governada pelo signo de Touro, porque a sua missão é precisamente trazer a espiritualidade à vida mundana. Enquanto a Grande Sacerdotisa lida com as questões para além da realidade material, o Papa representa uma abordagem aos problemas terrenos, cujo objectivo final é restabelecer a harmonia e a paz em tempos de crise. Naturalmente, possui as características do Touro: no seu melhor, é sábio e tranquilizador; no pior, pode ser teimoso e demasiado moralista. Esta é também a carta dos sistemas culturais organizados, das tradições religiosas, dos grupos sociais e culturais onde o indivíduo se vai integrando e onde desenvolve uma sensação de pertença, de equipa.
O Papa no Baralho "Tarot di Purgatorio"
(Adam McLean, 2006)
Se, numa leitura, o Papa aparece representando uma pessoa, esta é provavelmente alguém mais velho, com a autoridade moral de um tutor, terapeuta, conselheiro, mestre. Mas pode também ser aquele professor inflexível que se recusa a utilizar métodos de ensino mais modernos, ou alguém mais idoso que não quer abdicar das suas ideias ultrapassadas. Quando o Papa representa o próprio Querente, pode constituir um aviso sobre excesso de teimosia, sobretudo em questões de religião e ética. O Querente deve esforçar-se por adoptar o melhor do Papa, o seu lado pedagógico, confortador. Em momentos de crise, é o Papa que permanece calmo e oferece bons conselhos a quem deles precise, representando uma ligação ao divino que responde às preces humanas de uma forma igualmente humana. Esta carta diz ao Querente que ele sabe como resolver o problema. Não é fácil, nem é rápido, mas é possível: a solução está à vista, basta concretizá-la.