quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Poema de Natal

por Vinicius de Moraes (1913-1980)




Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.


Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.


Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.


Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

1 comentário:

  1. Medusa

    hoje venho com uma missão, informar que te atribui um selo de qualidade: http://grimoiredomago.blogspot.com/2011/02/o-grimoire-tem-selo-de-qualidade.html
    Fica à-vontade para o receberes ou não, mas eu faço questão de reconhecer que a tua escrita me faz bem à alma :)

    Obrigada

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