segunda-feira, 18 de junho de 2012

Projeção: o que (re)encontramos de nós nos outros?

Tem uma garota com quem me relacionei há uns 5 anos atrás. O que eu pensei que era um mero caso efêmero se tornou uma obsessão para mim. 
Acabei de descobrir que ela é ariana, e Áries exerce forte domínio sobre Virgem, o qual seria escrava astral de Áries. 
Isso explica por que até hoje ela exerce atração sobre mim. Entretanto, Escorpião é o signo ''senhor'' de Áries, e também é onde eu tenho minha Lua. 
Gostaria de saber se tem algo a ver eu ser virgem, por isso escravo astral de Áries, mas ao mesmo tempo exercer influência sobre Áries, já que eu tenho Lua em Escorpião.

Arthur, MG - Brasil


Toda a pessoa devia apaixonar-se pelo menos uma vez na vida, e na realidade suponho que todos temos essa oportunidade, mais cedo ou mais tarde. A paixão é um estado de alma irresistível, que nos assalta e submete independentemente dos signos astrológicos envolvidos. Aliás, mesmo que uns signos estivessem destinados a "escravizar" os outros - coisa que não faz sentido na minha conceção da Astrologia - seria muito difícil determinar quem domina quem: nenhum mapa é um só signo, mas uma complexa rede de interações entre signos e planetas e casas cuja manifestação no mundo real não está determinada à partida, mas é antes uma construção da livre escolha de cada indivíduo.


Adaptado de Astrodienst
Observando o seu mapa, a primeira impressão é a da acumulação de planetas no hemisfério ocidental, em torno do Descendente, simbólica de uma vida construída em função do que as circunstâncias exteriores propiciam, uma personalidade mais reactiva do que activa que tende a procurar nos relacionamentos as bases para o desenvolvimento da sua identidade. E não é por acaso que você se interroga sobre uma paixão: tem o Sol na casa 5, a das paixões, e a Lua na casa 7, a dos relacionamentos. Astrologicamente - como na vida real -, paixões e relacionamentos são coisas bem diferentes. A casa 5 está associada ao signo de Leão, e tem por isso que ver com a expressão unilateral da criatividade do Eu, da luminosidade da sua centelha divina quando direcionada a uma outra pessoa - @ amad@. Pouco importa para a paixão se é correspondida, porque a paixão alimenta-se a si própria como uma chama que não precisasse de combustível, extingue-se quando tem que se extinguir sem dar satisfações das causas do seu início ou do seu final. Nesse sentido, paixão é ato de criação, é o nosso momento me afirmar que estamos vivos e que somos capazes de amar com tudo o que somos, desde a pele que se arrepia ao mais profundo lugar da nossa alma. Neste lugar de fogo e mito que é a casa 5 está o seu Sol, a sua jornada de herói, a identidade que lhe compete construir ao longo de toda uma vida. E no entanto está em Virgem, signo tão pouco dado a impulsos de momento...! Imagino que sinta uma grande necessidade de compreender os mecanismos da paixão, os mais ínfimos detalhes do "porquê essa mulher e não outra qualquer?" - compreendê-lo seria controlá-lo, não? E Virgem é assim, precisa de sentir que tem controlo sobre alguma coisa - normalmente, sobre si próprio. Com Marte exilado (em Libra) e na casa 6 (a de Virgem), você terá alguma dificuldade em afirmar a sua vontade, e no entanto precisa de sentir que domina as circunstâncias do seu quotidiano. 


Sol e Marte em Virgem e Libra, respetivamente, representam um lado bastante moderado da sua personalidade. E no entanto a sua vida emocional nada tem de moderado. Com Vénus em Leão, você ama estar apaixonado. Os seus relacionamentos necessitam de entusiasmo, de excitação, de verdadeira PAIXÃO, ou corre o risco de desinteressar-se rapidamente. E depois vem a Lua em Escorpião na casa 7, dos relacionamentos. Ora se a casa 5 é a da paixão unilateral, a casa 7 será a do amor enquanto encontro equilibrado de duas pessoas que têm em mente sentimentos e sonhos comuns. Porque é através da casa 7 que nos confrontamos com as outras pessoas, acontece frequentemente que não reconhecemos em nós os planetas que lá estão. No seu caso, suspeito que tenha alguma dificuldade em assumir as suas necessidades emocionais. Podem parecer-lhe demasiado intensas, demasiado obsessivas. Quer dizer, não é que não reconheça que as tem, mas a casa 7 sugere uma certa tendência para "chutar a bola pró campo do adversário". No seu caso, parece-me que a natureza obsessiva dos seus sentimentos em relação a essa mulher com quem se relacionou não estão necessariamente na personalidade dela. Não terá sido ela quem o escravizou, foi você que se fez escravizado por ela, apenas porque há uma enorme necessidade dentro de si de experimentar emoções intensas e persistentes, profundamente transformadoras, ainda que isso implique submeter-se a outra pessoa. É que o seu Sol em Virgem gosta das coisas objectivas, certinhas, e por isso tem alguma dificuldade em digerir essa Lua tão avassaladora... Mas a Lua em Escorpião é só sua, disso não tenha dúvida. Pode parecer-lhe desconfortável navegar em águas tão profundas, embarcar em relacionamentos muitas vezes dolorosos mas sempre profundamente transformadores. Além disso, a quadratura Vénus-Lua parece sugerir que os relacionamentos que procura - baseados mais na paixão (Leão) do que numa verdadeira intimidade (Escorpião) - deixam-no emocionalmente insatisfeito, enquanto que a expressão das suas necessidades mais profundas o obriga a confrontar o seu lado mais obscuro - o que prejudica a sua noção de que os relacionamentos devem ser luminosos, radiantes de coisas boas e sem uma gota de amargura. 


Pois tudo isto é seu, mesmo que às vezes pareça difícil de conciliar. Não me surpreende que se tenha apaixonado por uma mulher com energias de Áries - é um signo de Fogo, o que atrai a sua Vénus em Leão, e tende a manifestar abertamente as tendências dominadoras que a sua Lua em Escorpião mantém bem guardadas no seu íntimo. Compete-lhe a si tentar encontrar forma de organizar tudo isto (tarefa pró seu Sol em Virgem! ;-), na certeza de que cada relacionamento novo lhe trará uma oportunidade para aprender um pouco mais sobre si mesmo. Pelo caminho, suspeito que ainda encontrará muitas mulheres como essa, fortes e determinadas... Não se preocupe em perceber "quem escraviza quem", mas antes pergunte-se que parte de si atraiu esta pessoa para a sua vida, que parte de si não está a reconhecer e a satisfazer. Lembre-se das palavras de Jung: O que não enfrentarmos em nós mesmos, encontraremos como Destino. 

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