quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Ah, os relacionamentos...

Porque é que eu não tenho sorte ao amor, inclusive já muito amarguei por ter escolhido sempre os homens mais complicados e com caracteres duvidosos. 

Paula, Lisboa

Adaptado de Astrodienst
Os relacionamentos são uma das principais ferramentas de aprendizagem que encontramos na vida. Em toda a interacção com outra pessoa existe, antes de mais, a oportunidade de aprendermos um pouco mais sobre nós próprios. Esta perspectiva será uma forma "equânime" de olhar os relacionamentos amorosos em especial, onde tantas emoções aprazíveis e dolorosas se cruzam e misturam e nos confundem muitas vezes.

Todos nós temos facetas da nossa personalidade que não compreendemos bem, que parecem não fazer sentido, que não são aceitáveis para os padrões morais que assimilamos dos nossos pais e da sociedade em que vivemos, e/ou que não se integram na imagem coerente que pretendemos construir de nós próprios. Ora não está escrito em lado nenhum (que eu saiba ;-) que é suposto o ser humano ser coerente, mas é-nos confortável acreditar que conseguimos sê-lo, e portanto esperamos dos outros também algum grau de coerência. Questão de previsibilidade que nos faz sentir um pouquinho mais seguros, num mundo onde na realidade pouco ou nada controlamos. Acontece que as facetas de nós que não contribuem para a tal "coerência" são atiradas para um cantinho do Inconsciente onde, inconscientemente, nos parece que não afectarão a coerência a que aspiramos. Mas essas facetas nasceram connosco, são parte de nós, constituem necessidades válidas que precisam ser expressas e satisfeitas de alguma forma. Por isso, acabamos por atrair para a nossa vida as pessoas que personificam essas facetas: ou seja, satisfazemos as nossas necessidades não reconhecidas através daqueles por quem nos apaixonamos, como se vivêssemos as partes de nós que permanecem inconscientes através da pessoa que está ao nosso lado. Enquanto nos sentimos completos, estamos felizes na relação. Quando voltamos a negar essas necessidades, sentimo-nos insatisfeitos com a outra pessoa - não pelo que ela é, mas pelo quanto de nós vemos reflectidos nela sem que o consigamos aceitar.

Este tema astrológico aponta para uma grande concentração de energias na esfera dos relacionamentos. Sol, Mercúrio e Nodo Ascendente em Peixes indicam a construção de uma identidade e de um sentido de propósito maior a partir das experiências a dois. Este ego evolui quando é capaz de transcender a sua condição de ser humano individual, diluindo-se na partilha de sentimentos e de sonhos, "perdendo-se" no ego da outra pessoa. Oposto a tudo isto, o Ascendente Virgem impõe uma visão do mundo bem mais pragmática, mais analítica. Esta será provavelmente a sua "máscara social": a de uma pessoa organizada, centrada nos problemas concretos do quotidiano, que se mantém sob controlo, com elevado sentido crítico para consigo e para com os outros. Porque o Nodo Descendente está em conjunção ao Ascendente, esta é a forma de funcionamento em que se sente mais confortável (sem bem saber porquê), aquela em que tende a refugiar-se por medo ou inércia. Nesta dualidade entre Virgem (o seu lado "formiguinha", dedicado a definir tudo em termos bem concretos e funcionais) e Peixes (o seu lado "cigarra", que aspira a "perder-se" num mundo de emoções), é bem mais provável que assuma sem esforço a sua faceta "formiguinha" e projecte nos outros a "cigarra" que tem dificuldade em reconhecer como fazendo parte de si.

Enquanto isto acontecer de forma inconsciente, terá tendência para se relacionar com homens em quem encontra muitas das características do signo Peixes. Na fase inicial da paixão, verá no Outro um idealista, um sonhador, alguém com quem apetece desaparecer da realidade, mergulhar num sentimento avassalador para nunca mais vir à tona. Com o tempo, a sua "formiguinha" tende a tornar-se mais crítica. Afinal, se não é capaz de aceitar o seu lado Peixes, como pode aceitá-lo na pessoa que está ao seu lado? Daí que, aos seus olhos, essa pessoa se torne inconstante, inconsistente, irresponsável, pouco confiável, até mesmo preguiçosa. Não estou a dizer que os homens com quem se relacionou não lhe deram de facto motivos para se sentir desiludida. O que estou a dizer é que, à partida, havia uma enorme parte de si que buscava a ilusão do amor perfeito - ainda que o preço final a pagar fosse a dor do desapontamento.

Existem outras necessidades em conflito no seu mapa que dificultam uma tomada de consciência dos motivos por que tem sofrido tanto nos seus relacionamentos. A esse respeito, aqui ficam algumas propostas de reflexão:

- Vénus e Quíron estão conjuntos em Carneiro (ou Áries) ainda na casa 7: a necessidade de dominar nos relacionamentos, de impor a sua vontade ao outro - ainda que essa atitude esconda a sua ferida quirónica da falta de identidade própria.

- A Lua em Caranguejo (casa 10): a necessidade de se afirmar no mundo como mulher de família, mãe, aquela que nutre emocionalmente os outros e que se sente nutrida quando se envolve em projectos que lhe permitem ser cuidadora e estabelecer vínculos emocionais fortes e profundos.
- Plutão e Urano (casa 1), ambos em quadratura à Lua e opostos ao Sol e a Vénus/Quíron, respectivamente: a satisfação nos relacionamentos parece-lhe incompatível quer com as suas aspirações sociais/profissionais (as necessidades lunares já descritas), quer com o desenvolvimento do seu poder pessoal e de uma expressão autêntica da sua individualidade.

Tudo isto contribui para a possibilidade de existirem jogos de poder e de ilusão nos seus relacionamentos, muitas vezes de ambas as partes. Afinal, vítima e carrasco são faces da mesma moeda, e quando duas pessoas interagem com essa dinâmica a questão de "quem interpreta que papel" encontra resposta diferente consoante a situação ou o modo como ela é analisada. Atitudes de autoritarismo directo de uma pessoa podem encontrar, na outra pessoa, alguém que se vitimiza e manipula sentimentos de culpa para dar a volta a uma situação desfavorável, por exemplo. Não estou a afirmar categoricamente que isto se tenha passado consigo, mas desafio-a a reflectir sobre o assunto tão honestamente quanto possível.

O que há então a fazer? Bem, o primeiro passo será reconhecer o quanto de si tem projectado nos homens com quem se relaciona ou relacionou. Como já referi, todas as nossas necessidades são válidas e merecedoras de satisfação plena, mas o que muitas vezes acontece é que não somos capazes de lidar com necessidades aparentemente contraditórias entre si. Além disso, sejamos ou não capazes de reconhecê-las como nossas, acontece também não sabermos como satisfazê-las adequadamente. Como alguém que bebesse um refrigerante muito açucarado para matar a sede, quando água seria sem dúvida a melhor opção. Resultado: ainda mais sede. Se não parar para redefinir o que é "sede", vai continuar a beber refrigerantes por muito tempo... Talvez tenha acontecido isso consigo, se em vez de "refrigerantes" pensar em maus relacionamentos, e se em vez de "sede" colocar uma das muitas necessidades que identifiquei no seu tema astrológico (mas que só você saberá o que significam na sua vida).

Nesta metáfora, é possível encontrar água onde antes encontrava refrigerante. Não lhe compete mudar os outros, mas está perfeitamente ao seu alcance mudar a sua atitude para consigo mesma. Seja mais honesta no seu diálogo interior, não tenha receio de colocar o dedo na ferida! Perceba o quanto de si tem projectado nos outros. Aceite o seu lado sonhador, acarinhe-o para que deixe que ser um "ponto fraco", e não o recrimine pela ingenuidade se a ilusão de mais um amor se desfizer. Não abdique do seu poder pessoal e da sua autenticidade, mas respeite o direito da outra pessoa à sua própria individualidade. E acredite que o muito que precisa e deseja envolver-se emocionalmente não tem de limitar-se aos relacionamentos amorosos: a sua sensibilidade e empatia são talentos valiosos que pode utilizar, por exemplo, numa carreira profissional dedicada a cuidar dos outros.

Estas não são lições fáceis, rápidas ou indolores, para si ou para qualquer outro ser humano. Tenha paciência consigo mesma. Não atribua culpas: assuma responsabilidades. Não procure para já o próximo relacionamento amoroso: dedique algum tempo a conhecer-se melhor, a redefinir a sua auto-imagem, a descobrir as suas verdadeiras necessidades. À medida que for avançando sozinha nesta viagem tão pessoal, dará por si a cruzar-se com outro tipo de pessoas, com novas oportunidades de relacionamentos, mais conscientes do que aqueles que até agora teve, mais enriquecedores da pessoa que você nasceu para ser e em quem, aos poucos, se tem vindo a tornar.

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