terça-feira, 9 de outubro de 2007

Wicca



"Yo no creo en las brujas, pero que las hay, las hay"

Ditado Galego




Wicca é uma religião neopagã que recupera a tradição pagã europeia da era pré-cristã, do culto da Terra e dos ciclos naturais. A palavra Wicca vem do inglês antigo, e significa "dobrar ou alterar".

As origens históricas da Wicca não são tema consensual. Gerald Gardner (1864-1964), antropólogo e um dos maiores impulsionadores do movimento Wicca, defendia que este resultava da sobrevivência de várias crenças pagãs matriarcais existentes na Europa pré-histórica, que lhe teriam sido transmitidas por uma anciã chamada “Dafo” ou “Velha Dorothy”. Enquanto alguns investigadores modernos identificam estas personagens com Dorothy Clutterbuck (suposta líder do New Forest Coven de Inglaterra), outros há que defendem que se tratam de duas fontes independentes. Há ainda quem acredite que tudo pode não ter passado de uma criação do próprio Gardner, que assim obteve uma origem mais “credível” para os rituais que reescreveu a partir de tradições antigas, rituais de magia cerimonial e outras fontes mais recentes, como Aradia ou o Evangelho das Feiticeiras, de Charles Godfrey Leland (folclorista, 1824 – 1903). Philip Heselton, iniciado na Wicca e autor de Wiccan Roots e vários outros livros sobre o tema, defende que Gardner não foi o criador dos rituais sobre os quais escreveu, mas que os recebeu de uma fonte anónima credível e os transmitiu de boa-fé.

Desde as primeiras publicações de Gardner, a Wicca tem-se desenvolvido e ramificado em várias tradições com rituais e práticas distintos. Muitas destas tradições permanecem secretas, e requerem alguma espécie de iniciação dos seus membros efectivos. Existe também um movimento de Wiccans Eclécticos, que acreditam não ser necessária qualquer doutrina ou iniciação tradicionais para a prática da Wicca. Em 2001, o American Religious Identification Survey estimava a existência de pelo menos 134.000 adultos praticantes de Wicca nos Estados Unidos.

Conceitos Fundamentais

A inexistência de uma única organização de referência Wicca tem levado a uma crescente heterodoxia nas crenças e práticas dos adeptos Wicca. No entanto, os princípios religiosos e éticos essenciais, de veneração da Natureza como manifestação do Divino, permanecem os mesmos, transmitindo-se oralmente dentro de um coven (grupo de adeptos de Wicca que realizam as práticas religiosas em conjunto) e/ou através de inúmeras obras publicadas sobre o assunto. O ramo eclético preconiza que, dentro dos moldes descritos em seguida, cada um é livre de experimentar e estabelecer a relação com a divindade da forma que sentir ser, espiritualmente, a mais correcta.

Divindade

Para a maioria dos adeptos da Wicca, esta é uma religião duoteísta. A Deusa e o Deus são polaridades complementares que emanam de uma só fonte divina, e que estão presentes em toda a Natureza (dia e noite, feminino e masculino,…) numa generalização do princípio hermético de que “Tudo é dual”. As duas divindades são normalmente simbolizadas como Deus-Sol e Deusa-Lua, e esta por sua vez é uma tripla divindade: Deusa-Virgem (Quarto Crescente, o Nascimento), Deusa-Mãe (Lua Cheia, a Vida) e Deusa-Anciã (Quarto Minguante, a Morte). Algumas correntes da Wicca atribuem à Deusa um carácter pré-eminente, pois ela contém tudo e tudo cria. O Deus é adorado como a centelha da vida, a inspiração que motiva a criação da Deusa, simultaneamente o seu amante e o seu filho. O conceito duoteísta é frequentemente alargado a múltiplas divindades que não são mais do que manifestações do Deus (e.g. Pan, Zeus) e da Deusa (e.g. Diana, Hecate). O número e natureza dos deuses adorados pode variar de coven para coven e até mesmo entre praticantes do mesmo coven.

Símbolo da Deusa Tríplice


Animismo

O Deus e a Deusa podem manifestar-se nas pessoas, encarnando temporariamente nos corpos dos sacerdotes e sacerdotizas.

Os Elementos

Toda a força ou forma resulta da expressão de um ou da combinação de vários dos quatro Elementos – Terra, Ar, Fogo e Água. Há ainda um quinto elemento, o Espírito. Os cinco elementos formam as cinco pontas do Pentagrama, um dos símbolos mais importantes da Wicca.

O Círculo

Não existem edifícios dedicados à prática religiosa: qualquer lugar na Terra é adequado ao contacto com a divindade. O ritual inicia-se invariavelmente com a criação do Círculo, uma área circular em torno dos participantes que é purificada pelos quatro elementos. O restante do ritual é conduzido no interior do Círculo, com a invocação dos nomes da Deusa e do Deus, assim como dos poderes da Natureza. O Círculo é considerado uma zona de protecção dentro da qual o indivíduo está protegido, e onde pode atingir estados de consciência alterados, “entre mundos”. O Círculo serve também para conter a energia que é acumulada durante o ritual, até chegar o momento certo de a libertar em direcção ao objectivo pretendido.

As três leis fundamentais

Embora a Wicca não possua qualquer texto sagrado, existe um conjunto de 3 princípios essenciais para a forma de ser e estar de um wiccan.

1.An ye harm none, do what ye will”. Esta é a Wiccan Rede, e também o lema adoptado para o Nodo Ascendente: Faz o que quiseres, desde que não prejudiques ninguém. Deve ser aplicado às práticas mágicas e conduzir a uma atitude aberta e responsável perante a vida em geral.

2. Lei das Três Vezes: Aquilo que fizeres ser-te-á devolvido três vezes mais. Este é uma extensão do conceito do karma, e prevê que cada pessoa está sujeita às consequências dos seus actos, sendo que actos positivos geram retornos positivos, actos negativos atraem retornos negativos. Esta Lei parece confinada à corrente Gardneriana, pois o cumprimento da primeira Lei já assegura todo um código ético que dispensa o receio das consequências para ser eficaz.

3. A última grande crença é a da Reencarnação. Na Wicca não existe paraíso ou inferno, pois a Morte é considerada apenas uma outra forma de existência. Alguns adeptos acreditam que a alma renasce continuamente, para sempre, enquanto outros defendem que, uma vez aprendidas as lições necessárias, a alma conquista o direito ao repouso eterno num local designado na tradição britânica por “Summerlands” (ou “Terras de Verão”). A crença na Reencarnação lida com a questão do karma a um nível muito superior do da Lei das Três Vezes, assegurando que cada pessoa renasce para uma nova vida nas circunstâncias mais adequadas aos actos que praticou na vida anterior.


Para saber mais, consulte as obras de Scott Cunningham (destinadas sobretudo ao praticante de Wicca solitário) e Raven Grimassi (responsável pelo renascimento do paganismo em Itália, a Stregheria).


Fontes:

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