domingo, 29 de abril de 2007

Tarot - 0. O Louco

Este é o primeiro de uma série de posts sobre os Arcanos Maiores do Tarot. Semanalmente, cada post será dedicado a um dos Arquétipos que acompanham o Louco na sua viagem pelo mundo. Como não podia deixar de ser, este primeiro post é precisamente sobre ele, a carta 0, o Louco.


O Louco é a carta das infinitas possibilidades, o Zero. Representa o indivíduo que se inicia num determinado caminho, cheio de ambições e esperança mas sem saber o que o espera. A sequência dos Arcanos Maiores fala precisamente da viagem do Louco, do seu encontro com os outros Arquétipos do Tarot e das lições que vai aprendendo durante a jornada.


Simbologia e Arquétipo

Na generalidade dos baralhos, o Louco é representado em roupas coloridas, com uma trouxa transportada num bastão, um pequeno cão que o acompanha e um precipício. Todas as suas posses estão na pequena trouxa, e o Louco segue despreocupado. O cão parece tentar avisá-lo do precipício, mas ele não ouve, olhando o céu, cheio de sonhos e visões do que lhe trará o Futuro.



Notas Interpretativas

O Louco recorda-nos do imenso potencial e da espontaneidade inerentes a cada momento. Vale tudo, nada é certo ou previsível. O Louco traz sempre algo de novo e diferente a qualquer situação, e muitas vezes representa uma espécie de alegre inocência, a confiança absoluta no que há de bom na vida e nos outros. Numa leitura, o Louco pode apontar para um novo começo ou para uma mudança de direcção no sentido da aventura, da descoberta, e da evolução pessoal. Há um sentimento de liberdade, de jovialidade, de energia. Ele também serve para lembrar que devemos manter a confiança em nós próprios, e seguir a nossa intuição até ao fim independentemente do quão estranho e insensato isso possa parecer.


O Louco no Baralho Antigo de Marselha (1760)














O Louco no Baralho de Llewellyn (2006)


Fontes:
Aeclectic - Excelente site com informação sobre Tarot e uma grande colecção de baralhos

Introdução ao Tarot - Muito mais do que "Ler o Futuro"

O Tarot é um conjunto de cartas que pode ser utilizado em meditação, divinação ou estimulação psíquica. Alguns psicólogos consideram-no a versão medieval das Manchas de Rorshach, na medida em que constituem uma representação do conjunto de símbolos definidos por Jung como arquétipos de um Inconsciente Colectivo.


O Inconsciente Colectivo de C.G.Jung

“Todas as ideias mais poderosas da História podem ser atribuídas aos Arquétipos […], os conceitos de [religião], ciência, filosofia e ética não são excepção a essa regra.”

C.G. Jung



Jung atribuiu a designação “Inconsciente Colectivo” a um conjunto de conceitos fundamentais partilhados por todas as pessoas. Esses conceitos, os Arquétipos, estão intimamente relacionados com os elementos básicos da vida humana. São as formas sobre as quais estamos predispostos a organizar o mundo à nossa volta, conceitos como o de “deus”. Para Jung, o surgimento de imagens simbólicas na mente consciente – como ocorre em sonhos, visões e mitos – revelam a existência destes Arquétipos. Além disso, observa-se que símbolos idênticos apareceram em culturas muito diferentes, distantes no Espaço e no Tempo, o que aponta para uma origem inata dos Arquétipos: um Inconsciente Colectivo.

A este nível inconsciente, os Arquétipos reúnem experiências e encorajam tipos de comportamento adequados para uma determinada situação. Podemos sentir-nos inclinados, por exemplo, a “procurar” provas da existência de um “Deus” no mundo que nos rodeia, devido ao Arquétipo de “Deus” que todos temos inconscientemente presente. Outros exemplos de Arquétipos: Anima (a Mulher, tal como é desejada pelo Homem), Animus (o Homem, tal como é desejado pela Mulher), o Eu, a Criança Divina, o Velho Sábio, o Herói, a “Sombra” (o lado obscuro da natureza humana – inveja, ganância, etc).

Jung via as imagens do Tarot como provenientes dos Arquétipos de Transformação, inerentes ao processo de maturação psicológica do indivíduo. Esses incluem a Sombra, o Animus e a Anima, o Velho Sábio, o Herói, o Sacrifício, o Renascimento, a Mãe e o Eu. Na Psicologia Jungiana, estes arquétipos englobam as componentes dinâmicas mais significativas do Inconsciente, que afectam a psique humana de muitas e diversas formas.


O Tarot

O Tarot tradicional é um baralho de 78 cartas divididas em dois grandes grupos: Arcanos Maiores (Major Arcana) e Arcanos Menores (Minor Arcana) – Arcana é o plural de Arcanum, “segredo” ou “fechado” em latim. Os Arcanos Maiores são um grupo de 22 cartas contendo representações pictóricas de várias forças cósmicas como a Morte, a Justiça, a Força, e outras com simbolismo arquetípico. Os Arcanos Menores consistem em 56 cartas divididas em cartas numeradas e figuras de 4 naipes diferentes, cada um representando um Elemento: Paus/Bastões (Fogo), Copas (Água), Espadas (Ar) e Ouros/Pentáculos (Terra). Cada naipe possui quatro cartas figuradas (Rei, Rainha, Cavaleiro e Pagem) e 10 cartas numeradas (do Ás ao Dez). As cartas figuradas são geralmente utilizadas para representar pessoas, relacionamentos, finanças e energias, enquanto as cartas numeradas constituem oportunidades e lições mais ou menos específicas.

O Tarot foi em tempos considerado “o mais antigo Livro do Homem”. De acordo com a lenda, as cartas originais compreendiam capítulos de um livro conhecido pel’ “O Livro de Toth”. No Antigo Egipto, Toth era o Deus da Sabedoria e do Conhecimento, responsável pela transmissão ao Homem da Medicina, Astrologia, Linguagem, Arte, e várias ciências como a Matemática e a Engenharia. Os capítulos originais d’O Livro dos Mortos são atribuídos ao próprio Toth. Vários milhares de anos depois, o império Egípcio começou a ruir, altura em que Toth voltou a intervir: com o desejo de manter vivo o conhecimento que há milénios havia concedido ao seu povo, reuniu toda a sabedoria da civilização Egípcia numa série de 22 Tábuas, usando símbolos e imagens em vez de palavras. Estas Tábuas tornaram-se conhecidas como O Livro de Toth. À medida que o império ruía na decadência e na ignorância, as Tábuas terão sido levadas por um grupo de nómadas mais tarde conhecidos por “Ciganos”. Os Ciganos terão copiado os símbolos das Tábuas para cartas, produzindo assim os primeiros Arcanos Maiores do baralho de Tarot (Crowley, 1944; Papus, 1970; Schueler & Schueler, 1989).

Mitos aparte, o primeiro relato histórico de um baralho divinatório remonta aos escritos de um monge suíço do século XIV. O mais antigo baralho que se conhece é o baralho de Visconti, desenhado c.1441 por Filippo Visconti, Duque de Milão. De Itália, o conhecimento do Tarot foi depois levado para França e Suiça. O período de domínio da Inquisição no Sul da Europa foi particularmente difícil para aqueles que se dedicavam à divinação pelas cartas: o Tarot era considerado obra do Diabo, um acto de paganismo, e muitos baralhos foram destruídos. Só no séc. XVIII o Tarot foi elevado de vulgar atracção de feira a verdadeiro método divinatório, pela mão do ocultista francês Etteila, que desenho o primeiro baralho esotérico, adicionando símbolos astrológicos a cada uma das cartas. (Uma “súmula” dos baralhos franceses viria a ser publicada em 1930, por Paul Marteau, com a designação de Tarot de Marselha). Mais tarde, em meados do séc XIX, este interesse de Etteila pelo Tarot foi finalmente partilhado por outros ocultistas, sobretudo Eliphas Levi, que desenvolveu a ideia
das cartas enquanto “chaves místicas”, estabelecendo uma ponte entre o Tarot e a Árvore da Vida da Cabala (com a correspondência entre os 22 Arcanos Maiores e as 22 letras do alfabeto hebraico). Foi Levi quem introduziu o Tarot em Inglaterra, onde, até então, não havia qualquer tradição ou interesse a respeito do tema. A Ordem Hermética da Aurora Dourada (Golden Dawn), fundada em Inglaterra em 1888, criou o seu próprio baralho e colocou-o no centro de muitos dos seus rituais. O conhecimento adquirido e partilhado na Golden Dawn viria a dar origem a dois dos baralhos mais influentes do nosso tempo: o baralho Raider-Waite e o baralho Toth.

Em 1909, Arthur E. Waite, membro da Golden Dawn, publicou aquele que viria a tornar-se num dos baralhos mais populares no Ocidente. Com ilustrações de Pamela Coleman Smith, o baralho Raider-Waite foi o primeiro a incluir ilustrações completas em todas as cartas, incluindo os Arcanos Menores numerados. O seu simbolismo veio na linha do baralho da Golden Dawn, mas as imagens utilizadas são mais apelativas, facilitando o acesso ao significado mais profundo de cada carta.

Carta 0 - O Louco, no Baralho Rider-Waite


Aleister Crowley, um dos mais proeminentes membros da Golden Dawn, abandonou-a em 1907 para formar a sua própria organização. Em 1944, publicou uma versão muito própria do baralho de Tarot, em conjunto com uma espécie de manual intitulado O Livro de Toth. O baralho de Tarot de Toth, concebido por Crowley, reúne a simbologia das tradições Egípcia, Grega, Cristã e Oriental, sendo por isso, de acordo com alguns especialistas, muito mais útil do que outros baralhos contemporâneos que exploram um só ponto de vista cultural ou filosófico.



Carta 0 - O Louco, no baralho Toth



No início do terceiro milénio, existem centenas de baralhos de Tarot diferentes: cada um traduz a sensibilidade, a filosofia de vida, a visão mística do artista que o produziu. Independentemente da estética, o Tarot continua a ser muito mais do que um "meio" para "prever o Futuro": para quem estiver disposto a estudar o seu significado mais profundo, o Tarot pode tornar-se numa janela aberta para o Universo e para o interior nós próprios.


"O verdadeiro Tarot é Simbolismo; ele não fala outra linguagem, nem oferece outros sinais."

Arthur E. Waite


Fontes:

Chaos and the Psychological Symbolism of the Tarot, Gerald Schueler, Ph.D. (1997)
The Hermetic Order of the Golden Dawn

domingo, 22 de abril de 2007

Astrologia - Perguntas & Respostas


Quando, em meio de uma qualquer conversa social, surge o tema da Astrologia, é comum ter de ouvir comentários do género “Mas tu acreditas nisso?”, ou “Que parvoíce! Achar que toda a gente que nasceu no mesmo mês funciona da mesma maneira!” É difícil para mim, que já há 10 anos me dedico ao estudo da Astrologia (por simples e genuíno “amor à arte”), ouvir este tipo de baboseiras sem, primeiro, reagir ferozmente, e depois, abdicar de “perder tempo” a argumentar com quem não tem uma atitude minimamente aberta em relação a este tipo de assuntos. No entanto, a demonstração da credibilidade da Astrologia não deve nunca ser deixada de lado, sob pena de que os “amantes” desta Arte se isolem progressivamente e percam o interesse em partilhar o seu conhecimento, que pode ser tão útil para a comunidade como outro conhecimento qualquer.

Este post é dedicado ao meu amigo ET (futuro blogger do Nodo Ascendente, espero eu ;-) e a todos os inconformados que tentam revoltar-se contra a ignorância generalizada, esteja ela onde estiver.

Qui habet aures audiendi audiat.
(Quem tiver ouvidos, que aprenda a ouvir.)


1. O que é a Astrologia?

A Astrologia é o estudo da relação entre os fenómenos celestes e os acontecimentos na Terra, partindo do princípio hermético “Em cima como em baixo”: o macrocosmo (o Céu) reflecte-se no microcosmo (a Terra). Compreendemos o alcance deste princípio se nos lembrarmos, por exemplo, que um átomo se parece muito com um sistema solar em miniatura, e um furacão com a estrutura em espiral de uma galáxia – tudo na Natureza segue um padrão de similaridade. A Astrologia aplica os movimentos e ciclos dos corpos celestes à descrição de eventos terrenos, quer na mente individual quer na mente colectiva. A Astrologia não tem de ser considerada uma Ciência no sentido institucional que esta palavra hoje tem – mas é sem dúvida uma scientia, um conhecimento, um saber. A Música e a Arte também não são ciências, mas nem por isso o seu riquíssimo património é desmerecido.


2. O que é que está por detrás das influências planetárias estudadas na Astrologia? Como é que a posição de um determinado astro pode explicar, por exemplo, um certo aspecto do comportamento de uma pessoa em particular?

Embora algumas pessoas pensem que os planetas exercem algum tipo de força magnética sobre nós, e que é isso que explica a Astrologia, tal não é de todo claro ou consensual. A explicação mais plausível é a de que os planetas vibram harmoniosamente uns com os outros, e com a Terra, criando padrões vibracionais (como uma pedra atirada a um charco) aos quais a vida na Terra responde a um nível instintivo. Considerando o primeiro e o terceiro princípios herméticos (ver post sobre este assunto!), tudo vibra, em planos diferentes, e a vibração que ocorre num determinado plano influencia a vibração dos outros planos.

Por outro lado, não está totalmente de lado a possibilidade de existir uma “força” por detrás dos fenómenos descritos pela Astrologia. Eis um bom exemplo:

Em 1950, um homem chamado John Nelson trabalhava para a RCA (Radio Corporation of America) em experiências que visavam a previsão de “apagões” nas transmissões televisiva e radiofónicas. Estudando os aspectos astrológicos clássicos (conjunção, oposição e quadratura) entre Júpiter, Urano, Mercúrio, a Terra e o Sol, Nelson descobriu que era possível prever “apagões” com base nesse tipo de dados. A eficácia das previsões de Nelson era de 92%, melhor que os 85% fornecidos pelos computadores existentes na época, e ele acabou por conquistar um departamento próprio, dentro da NCA, para continuar as suas pesquisas.

Esta história serve para mostrar que de facto existe algum fenómeno físico por de trás dos efeitos descritos pela Astrologia Simplesmente esse fenómeno ainda não foi descrito pelas Ciências Exactas.


3. Devemos então acreditar que a Astrologia funciona realmente?

Não se tratando de uma religião, não existe qualquer razão para se falar em “crença” quando se fala na Astrologia. O caminho mais sensato será tentar compreender e estudar o conjunto de regras e simbologias que constituem este saber. Só então poderá ser emitida uma opinião válida sobre o assunto.


4. Os horóscopos de jornal são fiáveis?

Não, de forma nenhuma! Esses “horóscopos” baseiam-se, quando muito, no signo solar, ou seja, no signo onde se encontrava o Sol no momento de nascimento. Obviamente que muitas pessoas têm o mesmo signo solar, mas isso não as torna iguais porque é necessário ter em conta, para cada uma delas, todo o Mapa Astrológico, ou seja, todos os outros planetas e Ascendente e Nodos… (ver pergunta 7.). Do mesmo modo que o signo solar, por si só, não pode descrever o perfil psicológico de um indivíduo, também não pode (nem deve) ser utilizado para prever tendências futuras para esse indivíduo.


5. Se a Astrologia funciona tão bem a descrever as pessoas apenas com base no dia, hora e local em que nasceram, o que é que prevalece: o Destino ou o Livre Arbítrio?

Definitivamente o LIVRE ARBÍTRIO! A ideia de prever o Futuro é simultaneamente sedutora e assustadora, mas acaba por ser como prever o Tempo Metereológico: há sempre lugar ao imprevisível. E a fonte desse “imprevisível” é precisamente o Livre Arbítrio. Apesar disso, em grande parte das vezes, o Futuro acaba por ser relativamente fácil de prever, porque a maioria da escolhas e decisões que nós, seres humanos, acabamos por tomar, são resultado do hábito ou de pensamentos inconscientes, e não do verdadeiro Livre Arbítrio.


6. O que é o Zodíaco?

O Zodíaco (do Grego Zodiakos Kyklos, “Círculo de Animais”) é uma faixa imaginária traçada na esfera celeste, que engloba 12 constelações por onde o Sol passa no seu trajecto anual. Com base na posição relativa dessas constelações, o Zodíaco divide-se em 12 sectores de 30º, chamados “signos zodiacais”, que recebem o nome da constelação presente no seu sector. Os signos são, por ordem, e com início no Equinócio de Primavera: Áries (ou Carneiro), Touro, Gémeos, Caranguejo, Leão, Virgem, Balança, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes.


7. O que é o Mapa Astrológico?

O Mapa Astrológico (ou Horóscopo) é uma representação do Céu, calculado para o local e momento do acontecimento que se pretende estudar – pode ser o nascimento de uma criança, a fundação de uma nação, a criação de uma empresa. Os dados espaciais (coordenadas geográficas) e temporais (ano, mês, dia, hora, minuto) devem ser tão exactos quanto possível, porque deles depende a exactidão do Mapa Astrológico e, consequentemente, da sua interpretação.

O Mapa Astrológico é traçado do ponto de visto de um observador que olhasse o céu no local e momento em estudo.

Exemplo de um Mapa Astrológico.


No Mapa, o Zodíaco é representado pela circunferência exterior, dividida nos 12 signos (na figura, cada signo tem uma cor diferente, mas isto serve apenas para facilitar a leitura visual do mapa). As doze divisões internas do círculo são as Casas, que representam os diferentes “espaços” da vida (p.ex. Casa II lida com o espaço material e todos os bens que nele se inserem; a Casa VII representa o espaço social, as relações, as parcerias de negócios, o casamento). Nas Casas estão os Planetas, de acordo com a posição zodiacal que ocupavam naquele momento. A posição relativa das Casas e dos signos (como duas “rodas” que se movessem sobre o mesmo eixo) depende do momento exacto que se considera: as “rodas” fixam-se a partir da seta horizontal, apontando para a Esquerda. Essa seta marca o Signo Ascendente, o Signo que naquele momento se encontrava no Horizonte a Leste. O Signo Ascendente marca o início da Casa I, e portanto a distribuição das restantes Casas pelo espaço dos Signos. A extremidade oposta à seta representa o Signo Descendente, a Oeste. Esta linha horizontal representa precisamente o Horizonte: acima dela, os planetas visíveis naquele momento e local; abaixo, os que estavam invisíveis; tudo, claro, do ponto de vista do observador na Terra. No círculo central, as linhas representam os aspectos presentes entre os vários planetas (p.ex., se dois planetas distam cerca de 90º, diz-se que estão em Quadratura, e há uma linha que os une para fazer notar a existência desse aspecto ao astrólogo).

Esta é uma descrição muito simples, mas que permite aos “leigos” na matéria compreender melhor a principal ferramenta de trabalho da Astrologia. Uma explicação mais pormenorizada do Mapa Astrológico será tema de próximos posts.


8. Como é interpretado o Mapa Astrológico?

A interpretação do Mapa Astrológico passa, em primeiro lugar, pela leitura do significado individual de cada um dos elementos astrológicos, no signo e casa onde se encontra. Esses elementos são não só os corpos celestes (Planetas, Lua e Sol) como também os signos Ascendente e Descendente, o Meio-do-Céu (seta vertical, início da casa X) e o Fundo do Céu (extremidade inferior da seta vertical, início da casa IV), e os Nodos Ascendente e Descendente. Além disso, é imprescindível uma análise global aos aspectos e às interacções de todos os significados encontrados nas análises individuais de cada elemento astrológico.


9. Porque é que o Mapa Astrológico de uma pessoa é traçado para o momento do nascimento, e não para o momento da concepção?

A Astrologia considera o momento do nascimento porque é então que o novo ser entra neste mundo, materializando uma nova existência através do primeiro fôlego. É no momento do nascimento que se tem um ser biologicamente independente.


10. Se o Mapa Astrológico é tão único e pessoal, o que dizer de irmãos gémeos?

Até mesmo alguns minutos fazem a diferença. Normalmente existem apenas diferenças mínimas entre os mapas astrológicos de irmãos gémeos, mas é suficiente para que as suas personalidades sejam também ligeiramente diferentes.


11. E de um parto prematuro?

É a alma que escolhe o momento do nascimento. Mesmo que consideremos um parto “prematuro” porque não aconteceu de acordo com o planeado, não quer dizer que do ponto de vista da alma fosse “cedo demais” para nascer. Só a alma desse bebé saberá das razões que a levaram a escolher um parto prematuro.



12. Porque é que os astrónomos dizem que a Astrologia está desfasada em um signo?

Na realidade, o desfasamento é de uma constelação, e não de um signo. As constelações têm dimensões muito diferentes – Peixes e Virgem, por exemplo, são enormes, enquanto Carneiro é bastante pequena. Daí que se tenha dividido a cintura zodiacal em 12 sectores de igual dimensão (30 graus), designados signos. O conceito de signo nasceu há 4000 anos, quando o signo de Carneiro e a constelação de Carneiro estavam perfeitamente alinhados. No entanto, devido à precessão dos equinócios (lento movimento retrógrado do eixo terrestre provocado pelo movimento de rotação), o equinócio de Primavera já não ocorre em Carneiro, mas sim em Peixes, e brevemente em Aquário.

Existe um debate aceso sobre que sistema usar nos mapas astral – o sistema Tropical, baseado nos signos, ou o sistema Sideral, baseado nas constelações. A maioria dos astrólogos segue o sistema Tropical, porque traduz os ciclos da Natureza (como a sucessão das estações do ano) com mais fidelidade.


13. O que é isso da Era do Aquário?

A precessão dos equinócios demora 26000 anos a completar-se, e foi dividida em 12 “eras” que duram aproximadamente 2160 anos, e que recebem o nome dos signos nos quais ocorre o equinócio de Primavera. Neste momento, o equinócio de Primavera ocorre na constelação de Peixes, mas estamos já a transitar para a constelação de Aquário. Daí que se diga que estamos prestes a entrar na Era de Aquário.

Na mitologia, Aquário era o Guardião da Água – água enquanto símbolo de sabedoria cósmica – e a constelação é vista no céu como que derramando a sua água-sabedoria sobre a Terra. Ao contrário do que seria óbvio, Aquário não é um signo de Água, mas sim de Ar, o elemento da inteligência e da comunicação, e estas são as qualidades que cada vez mais se evidenciam. A Internet, as viagens aéreas e espaciais, a televisão, os computadores e telemóveis, são tudo “coisas” de Aquário.


14. Afinal, para que serve a Astrologia?

Para muita coisa! Além da marcação cronológica de acontecimentos importantes, a Astrologia é muito útil como ferramenta de auto-conhecimento, e é uma excelente forma de compreender aqueles que amamos: por exemplo, pode fazer-se uma comparação entre dois mapas para detectar os pontos fortes e frágeis de um casal. Muitos psicólogos estão hoje a dedicar-se à Astrologia porque isso lhes permite perceber melhor as defesas emocionais dos seus clientes, e como as ultrapassar. A Astrologia também pode ser usada para detectar tendências económicas ou políticas, ou para ajudar na escolha de uma carreira profissional e, em termos espirituais, pode ajudar a prever e compreender até os momentos mais difíceis da vida, mostrando-os como oportunidades únicas de aprendizagem e crescimento pessoal.


Fontes:
Vamos Falar de Astrologia, de Helena Avelar e Luís Ribeiro;
Future Insight

sexta-feira, 20 de abril de 2007

A Celebração das Maias - I

O Dia das Maias é uma celebração de origem Celta que tem lugar no Quinto Mês do Ano do Calendário Moderno. O mês de Maio recebeu o seu nome em homenagem à Deusa Maia, originalmente uma ninfa das montanhas da Mitologia Grega, tendo sido mais tarde identificada como a mais bonita das sete irmãs de Plêiades. Filha de Atlas e Pleione, uma ninfa marinha, é a mãe de Hermes, deus da Magia.
A antiga designação celta para o Dia das Maias é Beltane, que deriva do irlandês gaélico Bealtaine, que significa “Fogo de Bel”, o Fogo do deus da Luz Celta (Bel, Beli ou Belinus). Segundo a tradição Celta, a Celebração de Beltane tem o seu início no Pôr-do-Sol do dia 30 de Abril, uma vez que para os Celtas os dias começavam à hora do crepúsculo. O Pôr-do-Sol era a altura ideal para os Druidas atearem as grandes “Fogueiras de Bel”, no cimo do morro mais próximo. A essas fogueiras, também designadas por “Fogueiras da Necessidade”, eram atribuídas propriedades curativas, e sobre as suas chamas saltavam as Bruxas nuas (Skyclad Witches) em busca de protecção. Frequentemente, o gado era conduzido por entre duas dessas fogueiras, sendo pela manhã encaminhado para as pastagens onde iria passar o Verão.


Outras tradições associadas ao Dia das Maias incluem: percorrer as propriedades agrícolas a pé (Beating the bounds), reparação de cercas, procissões de limpa-chaminés e leiteiras (milkmaids), torneios de tiro ao arco, música, dança, comida e bebida. As jovens costumavam lavar o rosto com o orvalho da primeira manhã de Maio para manterem a sua beleza jovem.

Nas palavras dos escritores Janet e Stewart Farrar, a celebração de Beltane era essencialmente uma época de “sexualidade e fertilidade humana, sem pudor”. Tais associações incluem o óbvio simbolismo fálico do “Maypole” ou Pau-de-Fitas e os Cavalinhos de Pau (Hobbyhorse). Até os primeiros versos de uma quadra infantil, aparentemente inocente, como “Ride a cock horse to Banburry Cross…” (“Leva o teu Cavalo de Pau para Banburry Cross…”) está associada a tais simbolismos. Os restantes versos da mesma quadra: “…to see a fine Lady on a white horse!” (“…para veres uma bela Dama num cavalo branco!), é uma referência às cavalhadas anuais de Lady Godyva em Coventry, Inglaterra. Todos os anos, durante quase 3 séculos, uma jovem nua (eleita “Rainha de Maio”) montada num cavalo branco evocava este Rito Pagão, até que os Puritanos (Protestantes Calvinistas) puseram fim a tal manifestação. Os Puritanos reagiram com horror extremo à maioria dos rituais associados ao Dia das Maias, tornando os Paus-de-Fitas ilegais em 1644, e combatendo veementemente os “Casamentos dos Bosques” entre jovens que passavam a noite inteira na floresta, aparecendo apenas ao raiar do Sol de 1 de Maio, trazendo flores (pricipalmente giestas) e grinaldas para decorar toda a aldeia. Muito antes da definição Cristã de Casamento (e a sua insistência na monogamia) ter substituído o antigo “Atar de Mãos” (Handfasting) Pagão, as regras de fidelidade restrita entre casais eram sempre suspensas para os rituais do Dia das Maias.

Alguns destes costumes são idênticos à festa das flores da Roma Antiga, a Florália, onde se assistia a três dias de sexualidade sem restrições, que começavam ao Pôr-do-Sol de 28 de Abril e atingiam o seu auge a 1 de Maio.
Essas manifestações chegaram à Ibéria durante a ocupação Romana. Nos dias de hoje, os Maios, o Pau-das-Fitas, as Marafonas e todas as celebrações associadas são testemunhos vivos da comemoração do Dia da Maias em Portugal e Espanha.



Fonte: Mike Nichols, A Celebration of MAY DAY

Os Sete Princípios Herméticos

I. Princípio do Mentalismo

“Tudo é Mente. O Universo é Mental.”

Este Princípio mostra que toda a Realidade Substancial inerente a todas as manifestações e aparências exteriores que conhecemos como o universo material, o fenómeno da Vida, a matéria e a energia – em suma, tudo o que é sensorialmente perceptível -, tudo isso é Espírito, em si próprio impossível de conhecer ou de definir, mas que pode ser imaginado como uma mente viva, infinita, universal. O Princípio do Mentalismo explica também que todos os fenómenos observáveis são simplesmente criações mentais do Tudo, sujeitas às Leis das Coisas Criadas, e que o Universo existe na mente do Tudo, e é aí que vivemos a nossa existência.

Deste Princípio deriva a explicação de toda uma variedade de fenómenos mentais e psíquicos aparentemente incompreensíveis que desafiam qualquer tratamento científico. A sua compreensão permite ao indivíduo entender o funcionamento das grandes Leis Mentais, e a sua aplicação inteligente com vista ao bem-estar e aperfeiçoamento: Energia, Poder, Matéria são subordinados do Domínio da Mente.


II. Princípio da Correspondência

“Em cima como em baixo, em baixo como em cima."



Este Princípio incorpora a verdade de que existe sempre correspondência entre as leis e fenómenos dos vários planos de Existência. A sua compreensão permite solucionar muitos paradoxos e segredos da Natureza, e entender o funcionamento de outros planos que estão habitualmente fora do âmbito do nosso conhecimento. Os antigos Hermetistas consideravam este Princípio como um dos mais importantes instrumentos disponíveis ao Homem para “espreitar” o Desconhecido. Assim como os princípios da Geometria permitem medir os movimentos de corpos celestes distantes, a partir de um simples observatório na Terra, também o Princípio da Correspondência proporciona a capacidade de deduzir com inteligência o Desconhecido a partir do Conhecido.


III. Princípio da Vibração

“Nada está em repouso; tudo se move; tudo vibra.”



Este Princípio incorpora a verdade de que tudo está em movimento permanente, em vibração. Este é um facto sustentado pela Física Moderna, comprovado a cada nova descoberta científica, e no entanto já havia sido enunciado há milhares de anos, pelos Mestres do Antigo Egipto. Este Princípio explica ainda as diferenças entre Matéria, Energia, Mente e Espírito, resultado em larga medida de diferentes graus de vibração. Desde o Tudo, que é Puro Espírito, até à forma mais grosseira de Matéria, tudo vibra: quanto mais elevada a frequência de vibração, mais elevada a posição na escala. O Espírito vibra com tal intensidade que parece estar em repouso; o mesmo sucede com alguma Matéria, cujo movimento é tão lento que parece de facto ter cessado. Entre estes dois pólos, existem milhares de milhões de diferentes graus de vibração, desde o electrão, o átomo e a molécula, até mundos e universos. Isto também é válido nos diferentes planos de Energia e Força, e nos Planos Mentais e até Espirituais.

O domínio deste Princípio permite ao estudante de Hermetismo controlar as suas próprias vibrações mentais e as dos outros que o rodeiam. Os Mestres podem aplicar este Princípio para controlar fenómenos naturais de várias formas. Aquele que compreende o Princípio da Vibração, tem nas mãos o ceptro do poder”.


IV. Princípio da Polaridade

“Tudo é Dúplice. Tudo tem dois pólos. Tudo tem o seu par de opostos. Semelhante e diferente são o mesmo. Opostos têm a mesma natureza, mas em graus diferentes. Os extremos tocam-se. Todas as verdades são apenas meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados.”

Este Princípio incorpora a verdade de que “Tudo é dúplice”, explicando que tese e antítese são o mesmo, que tudo tem dois lados, etc. Isto explica que tudo tem dois pólos, ou aspectos opostos, e que esses “opostos” são na realidade dois extremos de uma mesma coisa, com muitos graus de variação pelo meio. Um bom exemplo disso é a temperatura. Frio e Quente são opostos, mas não é possível olhar para o termómetro e definir onde começa um e acaba o outro! Os termos “frio” e “quente” indicam apenas graus diferentes de uma mesma coisa, que pode ter muitos graus de vibração diferentes entre estes dois extremos. O mesmo se aplica à “Luz” e à “Escuridão”, que são dois pólos de um mesmo fenómeno. E qual a diferença entre “Grande” e “Pequeno”? “Alto” e “Baixo”? “Positivo” e “Negativo”?

O Princípio da Polaridade explica estes paradoxos, e nenhum outro se lhe sobrepõe. O mesmo se aplica ao Plano Mental. Consideremos o exemplo extremo de “Amor” e “Ódio”, dois estados mentais aparentemente diferentes. E no entanto existem vários graus de Ódio, e também de Amor, e um ponto intermédio no qual usamos termos como “Gostar” ou “Não Gostar”, ou ainda “Nem um nem outro”. São apenas diferente graus de um mesmo sentimento. O que interessa aos Hermetistas é a possibilidade de fazer variar as vibrações do Ódio no sentido das vibrações do Amor, na sua mente e na mente dos outros. Muitas pessoas já sentiram esse tipo de mudança vibracional, de Ódio a Amor e vice-versa. Pois essa mudança pode também ocorrer através do uso da Vontade. Bem e Mal são também pólos de uma mesma coisa, e o Hermetista compreende e pratica a arte de transmutar Mal em Bem, por aplicação do Princípio da Polaridade.


V. Princípio do Ritmo

“Tudo flui, para fora e para dentro. Tudo tem as suas marés. Todas as coisas ascendem e caem. O movimento pendular manifesta-se em tudo: a medida do movimento para a esquerda é a medida do movimento para a direita. O ritmo compensa.”


Este princípio incorpora a verdade de que em tudo o que existe há um movimento de e para, vai e vem, tipo pêndulo. Esse movimento ocorre entre os extremos descritos pelo Princípio da Polaridade. Há sempre uma acção e uma reacção, avanço e retrocesso, ascensão e queda. Isto acontece no Universo, nas estrelas, e mundos, nos seres humanos e nos animais, na Mente, na Energia e na Matéria. Esta lei manifesta-se na criação e destruição das nações, na vida de todas as coisas, e finalmente nos estados mentais do Homem. Os Hermetistas compreenderam este Princípio, verificaram a universalidade da sua aplicação, e encontraram certas formas de ultrapassar os seus efeitos em si próprios, através do uso de fórmulas e métodos apropriados. Para tal é utilizada a Lei Mental da Neutralização. O Princípio em si não pode ser anulado, mas é possível escapar aos seus efeitos sabendo USÁ-LO, em vez de SER USADO. O Mestre consegue, por força da sua própria Vontade, polarizar-se ao ponto de desejar estar parado, neutralizando o movimento pendular que o levaria para o outro extremo. O domínio da Lei Mental da Neutralização permite atingir um grau de firmeza mental quase impossível de conceber pela generalidade das pessoas, que se vê constantemente “levada pela maré”.


VI. Princípio da Causa e Efeito

“Toda a Causa tem o seu Efeito; todo o Efeito tem a sua Causa; tudo acontece de acordo com a Lei. O “acaso” é apenas um nome para a falta de reconhecimento da Lei; existem muitos planos de causalidade, mas nada escapa à Lei.”


Este Princípio incorpora o facto de que nada acontece por “acaso”, não há Sorte nem Coincidência. Embora existam vários planos de Causa e Efeito, sendo que os planos superiores dominam os inferiores, nada escapa totalmente à Lei. Os Hermetistas compreendem a arte e os métodos para se elevaram mentalmente acima do plano vulgar de Causa e Efeito, até certo ponto. Ao fazê-lo, tornam-se Causadores em vez de Efeitos. A restante massa humana deixa-se levar, obediente ao meio envolvente, deixando que os desejos e vontades dos outros se sobreponham aos seus. A hereditariedade, a sugestão e outras causas externas convertem as pessoas em peões no jogo de xadrez da Vida. Mas os Mestres, elevando-se ao plano superior, dominam as suas emoções, qualidades e poderes, bem como o ambiente que os rodeia, e transformam-se de peões em jogadores. Os Mestres obedecem às Causas dos planos superiores, mas ajudam a comandar as Causas e Efeitos do seu próprio plano.


VII. Princípio do Género

“O Género está em tudo. Tudo tem um Princípio Masculino e um Princípio Feminino. O Género manifesta-se em todos os planos”.


Este Princípio incorpora a verdade de que existem Princípios Masculino e Feminino em tudo o que existe, tanto no Plano Físico como nos Planos Mental e até Espiritual. No Plano Físico, este Princípio manifesta-se através do sexo. Nos planos superiores, assume formas mais elevadas mas igualmente válidas. Nenhuma criação física, mental ou espiritual é possível sem este Princípio, que funciona na direcção da geração e regeneração. Todas as pessoas contêm em si os Elementos Feminino e Masculino, e nessa verdade estão contidas as soluções para muitos dos mistérios da Vida.


Fonte: The Kybalion (1908)

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Cartomancia…


Poucos sabem mas as cartas normais que são usadas nos jogos populares, como a “sueca”, também são usadas para práticas divinatórias.



As 52 cartas, análogas aos arcanos menores do Tarot, são utilizadas em artes divinatórias há muitos séculos, desconhecendo-se a sua origem. No entanto, parece consensual que a Cartomancia que utiliza o baralho normal é posterior ao Tarot clássico como o dos Egípcios, Indianos e dos povos do Extremo Oriente.

Nas últimas décadas, o seu “mau uso” fez cair a Cartomancia num descrédito quase absoluto. Devido ao abuso de conhecimentos que muitos não possuíam, ocorreram muitas ramificações da Cartomancia, tendo sido esquecida a mais importante, a corrente mais popular/tradicional. A transmissão oral dos conhecimentos da Cartomancia também contribuiu para que os ensinamentos mais puros se perdessem, para além do fundamentalismo religioso que fez com que esta arte passasse a ser praticada em segredo para pequenos grupos (parentes e familiares próximos), por pessoas que passaram a ser conhecidas como “bruxas”, “feiticeiras” ou “curandeiras”.

Um dos povos que mais preservou esta prática foi o povo cigano, daí que a Cartomancia que não utiliza os baralhos de Tarot seja geralmente conhecida por Cartomancia Cigana ou Espanhola. Tal facto deve-se à cultura muito particular e genuína deste povo que luta por preservar os seus hábitos e costumes mais tradicionais.

Alguns estudiosos do tema afirmam que a Cartomancia com o baralho cigano não é mais do que uma representação simbólica da Astrologia tradicional. As cores predominantes, vermelho e preto, representam os dois pólos da energia: vermelho como sendo o pólo positivo, masculino, activo e quente como o Fogo e, em parte, o Ar; enquanto que o preto representa o pólo negativo, feminino, passivo e frio como a Água e a Terra. As 52 cartas correspondem às 52 semanas do ano, que numerologicamente conduzem ao número 7 (5 + 2 = 7), os dias da semana. O Sete também está ligado aos astros "principais" da Astrologia tradicional: Mercúrio, Vénus, Marte, Júpiter, Saturno, Lua e Sol. Por sua vez, as doze cartas com figuras (reis, damas e valetes) correspondem aos doze meses do ano solar e aos doze signos zodiacais. Já as treze cartas de cada naipe equivalem às treze lunações do ano. Além disso, os quatros naipes (Copas, Paus, Ouros e Epadas) estão associados aos Quatro Elementos da Natureza e às quatro Estações do Ano: as Copas correspondem ao elemento Água e à Primavera, os Paus correspondem ao elemento Fogo e ao Verão, os Ouros correspondem ao elemento Terra e ao Outono e as Espadas correspondem ao elemento Ar e ao Inverno.

Algumas novas correntes apenas utilizam 32 cartas ou 36, afirmando diminuir a redundância de informação que se repete na combinação do significado de algumas cartas. São então eliminados os 2, 3, 4, 5 e/ou os 6. No entanto, nesta versão simplificada os períodos de tempo retratados nas cartas são ciclos curtos de tempo, de aproximadamente um ano. Facto que não acontece na versão mais completa, segundo a maioria dos cartomantes mais tradicionais.

No entanto, há um aspecto unânime entre os seus praticantes: esta arte utiliza uma linguagem muito clara, precisa e directa, tornando-a num poderoso instrumento que não deve ser utilizado de ânimo leve. Convém não esquecer a “lei do retorno”…

Hermetismo - Introdução ao Kybalion

"Os lábios da Sabedoria estão fechados,
excepto para os ouvidos do Entendimento"
in Kybalion

O Hermetismo é um conjunto de crenças filosóficas e religiosas com milhares de anos, cuja autoria se atribui a Hermes Trismegistus (Hermes “Três Vezes Grande”). Esta é uma personagem envolta em mistério, cuja existência real ou mitológica ainda hoje não foi esclarecida. Pensa-se que terá sido uma figura introduzida na mitologia grega como resultado da “fusão” de duas divindades: o grego Hermes e o egípcio Toth. Esta união de entidades divinas teria surgido da necessidade de juntar as capacidades comunicativas do Deus Hermes à sabedoria do Deus Toth, originando uma divindade que reunia em si todo o conhecimento astrológico e alquímico.

Na tradição grega, e mais tarde também na romana, Hermes Trimegistus permaneceu uma figura independente de Hermes, o mensageiro dos Deuses. Cícero refere vários indivíduos com o nome de Hermes:

“O quinto, […], diz-se que matou Argos, e por isso fugiu para o Egipto, tendo oferecido a esse povo as suas leis e alfabeto. É ele a quem os Egípcios chamam Theyn [Toth]”

Cicero in De natura deorum III, 22, 56

O mitógrafo Euhemerus descreveu Hermes Trimegistus como sendo o filho do Deus, e na tradição cabalista esta figura terá sido contemporânea de Moisés, pregando a sua sabedoria e um grupo de seguidores.

A literatura hermética reuniu as práticas egípcias de conjuração de espíritos e animação de estátuas aos escritos astrológicos greco-babilónicos, e à recém-criada Alquimia. Paralelamente, a filosofia hermética racionalizou e sistematizou a prática religiosa, oferecendo aos seus adeptos um método de ascensão pessoal capaz de proporcionar evasão às restrições do ser físico.

Enquanto fonte divina de conhecimento, foram atribuídos a Hermes Trismegistus dezenas de milhares de obras, tidas por serem muitíssimo antigas. Platão refere que no templo de Neith existiam corredores secretos contendo registos históricos de há 9000 anos. Clemente de Alexandria acreditava que os Egípcios possuíam 42 livros sagrados de Hermes, onde estavam reunidos todos os ensinamentos utilizados na preparação dos sacerdotes egípcios.

O Kybalion foi publicado pela primeira vez em 1908, por um grupo auto-intitulado “Os Três Iniciados”, e contém, segundo os seus autores, a essência dos ensinamentos de Hermes Trismegistus. Na introdução pode ler-se:


“Não há porção dos ensinamentos ocultos existentes no mundo que tenha sido mais
bem guardada do que os fragmentos dos Ensinamentos Herméticos […] desde o tempo do seu fundador, Hermes Trismegistus, o “escriba dos deuses”, que deambulou pelo Antigo Egipto nos dias em que a actual raça humana se encontrava ainda na sua infância. Contemporâneo de Abraão e, se as lendas forem verdadeiras, instrutor desse venerável sábio, Hermes foi e é o Grande Sol do Ocultismo, cujos raios têm servido para iluminar inúmeros ensinamentos que têm vindo a ser promulgados desde o seu tempo. Todos os fundamentos presentes nos ensinamentos esotéricos de todas as raças podem ser atribuídos a Hermes.


“A obra de Hermes parece ter tido o objectivo de plantar uma semente – a Verdade –, que se desenvolveu e floresceu em formas tão diversas, em vez de se estabelecer como uma única escola filosófica dominante. Apesar disso, as verdades originais ensinadas por ele têm sido mantidas intactas na sua pureza original por um pequeno grupo de pessoas que, em cada época, recusaram grande número de estudantes e seguidores imaturos, seguindo o costume hermético de reservar a Verdade apenas para os poucos que estariam realmente prontos a compreendê-la e a dominá-la.”

“Neste pequeno trabalho empenhamo-nos em transmitir uma ideia do que são os ensinamentos fundamentais do Kybalion. […] Se fores um verdadeiro estudante, saberás trabalhar e aplicar estes Princípios. Se não, terás de evoluir para te tornares num, caso contrário os Ensinamentos Herméticos nunca passarão de meras palavras.”

Os Três Iniciados, in Kybalion (1908)


Este é apenas o primeiro de uma série de posts sobre os Princípios Herméticos apresentados pelo Kybalion. O próximo será partilhado brevemente!

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Runas...

“Sussurro secreto” é a tradução mais fiel atribuída às Runas. São um alfabeto (o FUTHARK) que guardam os mistérios do Universo, tradicionalmente resgatadas pelo deus nórdico Odin, pai de todos os deuses do panteão nórdico.

Provavelmente de origem escandinava e germânica, as runas constituem um dos oráculos mais antigos do mundo, datado de, aproximadamente, 1300 antes de Cristo. Dado à sua antiguidade, o conhecimento das runas era passado oralmente pelos “mestres” aos seus seguidores, pelo que na ausência de documentos o seu conhecimento se foi perdendo. Na Idade Média o conhecimento das runas foi reduzido quase à extinção, tal como muitas outras práticas esotéricas.

Alguns autores atribuem o significado/interpretação das 24 runas ao modo da expressão da energia básica dos 7 principais corpos celestes e dos Nodos Norte e Sul da Lua, com as afinidades e repulsões que essas energias criam. Esta ideia foi igualmente partilhada pelos egípcios. Estes tipos de energia básica universal são de número limitado, poderosas, inteligentes e muito úteis ao Homem. Daí terem sido mais tarde também interpretadas, transcritas e classificadas em algumas religiões como “Arcanjos”.

Odin é vulgarmente associado ao deus da guerra. O seu nome é associado a termos como “tempestuoso” ou “violento” devido ao esforço dos cristãos em depreciar a figura deste deus pagão ao longo da história. No entanto, a raiz do seu nome está ligado às palavras vada e od, no nórdico arcaico, e, no antigo alto alemão, a Watan e Wuot, que significavam no início “razão”, “memória” ou “sabedoria”. Odin é o deus da sabedoria e do conhecimento, é o criador da humanidade, senhor da ciência e das fórmulas mágicas e das runas, deus da agricultura, invocado por ocasião das batalhas, durante os naufrágios e as doenças, na defesa contra o inimigo, e afinal em qualquer situação desesperadora.

Na mão, Odin leva a sua lança Gungnir, forjada pelos anões, que tem uma característica peculiar: nunca erra o alvo. Com Odin, estão sempre dois corvos, Huginn (Pensamento, Entendimento) e Muninn (Memória) e dois lobos, Geri e Freki, símbolo da gulodice. O seu cavalo é Sleipnir, que tem oito pernas, capaz de andar pelo ar e pela água e de passar deste mundo para o outro. O seu trono em Valaskjalf chama-se Hlidskjalf; quando sentado nele, Odin pode ver tudo o que acontece nos nove mundos. Odin é conhecido por vários nomes, entre eles, Todo-pai, O Terrível, Pai da Batalha. Do nome de Odin/Wotan/Woden vem o nome do dia da semana em inglês Wednesday (Quarta-feira) - Dia de Woden, isto é, Dia de Odin.

Conta a lenda nórdica que Odin vai buscar a Sabedoria a uma fonte (Mimir) que está na base da raiz de Yggdrasil, a Árvore ou o Freixo do Mundo. Para beber dessa fonte o preço é perder um olho. Yggdrasil é uma árvore de raízes desconhecidas que funciona como um veículo de comunicação entre o planeta habitado pelos Homens e o “Éden”.

Preso ou por auto-sacrifício, Odin ficou dependurado na Árvore da Vida (Yggdrasil) para obter a Sabedoria. Nela se flagelou com a própria lança (Gungnir), durante nove dias e nove noites permaneceu sangrando com fome e com sede. Ao término desse período, avistou no chão as Runas e adquiriu o conhecimento secreto.

Muitos autores acreditam que os Oráculos não adivinham o futuro... Apenas nos orientam para que prestemos atenção ao que se passa dentro de nós, materializando respostas que estão no nosso subconsciente. O lema das Runas deveria ser: “Conhece-te a ti mesmo”. Pois elas permitem um auto-conhecimento, estabelecem um elo entre o Eu e o Divino. Num breve período de interacção com as Runas, estabelecemos uma zona livre onde a nossa vida se torna maleável, vulnerável e aberta às mudanças. As Runas são símbolos que contêm a sabedoria do deus nórdico Odin, são benéficas e tolerantes; nunca prejudicarão o querente, o quesito ou o “intérprete”. Aprenda a sua linguagem e deixe que elas lhe falem. Elas o ajudarão a conhecer-se melhor, mostrando caminhos e alertando para os perigos, levando-o à escolha de uma melhor posição perante as situações.
EL LIBRO DE LAS RUNAS de RALPH BLUM

Ano: 2012



O Calendário Longo, inventado e utilizado pela civilização Maia há 2300 anos, chega ao seu fim (ou melhor, recomeço) no dia 21 de Dezembro – solstício de Inverno – do ano 2012 da Era Cristã. Este fim, calculado pelos Maias, foi marcado com extraordinária exactidão – como saberiam eles o momento do solistício de Inverno de um ano tão distante no futuro? E porquê 2012?



Neste dia (já não tão distante quanto isso!) terá lugar um acontecimento astronómico raro: o Sol posiciona-se na intersecção entre a Via Láctea e o plano da eclíptica. A Via Láctea, como saberá qualquer observador do céu nocturno, estende-se no sentido Norte-Sul. O plano da eclíptica é o percurso que o Sol, a Lua, os planetas e estrelas parecem seguir todas as noites, de Este para Oeste. Este plano intersecta a Via Láctea a um ângulo de 60 graus, próximo da constelação de Sagitário. A “Cruz Cósmica” formada por esta intersecção era, para os Maias, a chamada “Árvore Sagrada”. O seu tronco, Axis Mundi, é a Via Láctea, e o principal ramo o plano da eclíptica. Em termos mitológicos, ao nascer do Sol de 21 de Dezembro de 2012, o Sol – nosso Pai – ascende nos Céus para se reunir ao centro da Árvore Sagrada, Árvore do Mundo, Árvore da Vida. Este raro acontecimento astronómico – o último terá ocorrido há 25800 anos! – foi previsto pela história da Criação e calculado empiricamente pelos Maias. Mais: entre 1980 e 2016, no solstício de Inverno, o Sol nasce no Equador galáctico, fenómeno que, de acordo com James Spotiswoode (especialista em percepção extra-sensorial e psicoquinese), potencia o desenvolvimento das capacidades psíquicas do seres humanos. Daí que esse processo de alinhamento galáctico possa indicar a existência de um período temporal no qual assistiremos aos primeiros exemplos de uma “humanidade alterada”. Eis algumas das hipóteses que mais têm sido discutidas:


- Aumento das capacidades telepáticas (ver crianças indigo, p.ex.);


- Alteração geomagnética ou impulso electromagnético que levaria à inutilização de todos os equipamentos electrónicos e, também, à amnésia colectiva, com consequente final de todas as guerras;


- Desencadear de experiências extra-corpóreas em massa (OBE, a tratar em próximos posts);


- Ascensão do Kundalini, a serpente de fogo que, na tradição Hindu, se encontra adormecida na base da coluna vertebral, e que quando atinge o cérebro aniquila o ego e proporciona o Esclarecimento (mais um tema para outros posts). Esta interpretação foi reforçada pela recente publicação de um codex Azteca, A Pirâmide de Fogo, no qual um deus serpente com penas, Quetzalcoatl-Kukulcan, é revelado como sinónimo de Kundalini, e está directamente relacionado com 2012.

Outras pistas poderão ser seguidas no trabalho de Terence McKenna (1946-2000) e na sua Teoria da Novidade. Escritor, filósofo e etnobotanista, McKenna desenvolveu a ideia de que o Universo é uma “máquina” concebida para a produção e conservação de "Novidade". Neste contexto, “Novidade” pode querer dizer coisas novas, inéditas, ou Extropia - nível de inteligência, ordem funcional, vitalidade, capacidade e motivação para evoluir de um sistema vivo ou organizacional. Quando se representa graficamente a produção de Novidade/Extropia ao longo do Tempo, obtém-se uma onda fractal denominada Onda Temporal Zero ou simplesmente Onda Temporal. Esse gráfico mostra o Quando dos aumentos e diminuições de Novidade, mas nunca o Onde.



Gráfico simplificado representativo da Onda Temporal

A Evolução como uma espiral descendente: a ocorrência de uma Novidade requer um intervalo de tempo cada vez menor


Considerado por muitos como um modelo representativo dos acontecimentos históricos mais marcantes para a Humanidade, este algoritmo universal derivado do I-Ching pode ser extrapolado para prever eventos futuros, e inclui pontos de “Singularidade”. O gráfico da Extropia teve muitas flutuações ao longo dos últimos 25000 anos mas, espantosamente, verificará uma assimptota no dia 21 de Dezembro de 2012. O que significa que, a partir deste dia, deixa de existir Extropia, atinge-se um estado que, no presente, é impossível de definir. O conceito de singularidade tecnológica é semelhante a este, e ocorrerá cerca de 30 anos mais tarde.

No final de tudo isto, o que esperar de 2012? Para os Maias, é o fim de uma era de triunfo do materialismo e de transformação da matéria, um tempo durante o qual nos afastámos do nosso sentido de união com a Natureza, numa espécie de amnésia colectiva que levou ao desenvolvimento do egoísmo e da necessidade de domínio. O que se segue?

Parece-me que a Novidade última será uma situação em que todos as fronteiras se dissolvem. […] O sistema nervoso humano está a globalizar-se, construindo um modelo de pensamento consciente a uma escala planetária

Terence McKenna


"Como os Maias que nos precederam, devemos compreender que o caminho para as estrelas se constrói através do sentidos, e que a utilização adequada da mente como factor de controlo auto-regulatório irá facilitar a passagem para diferentes níveis ou dimensões de Ser."

"Somos os Pacificadores que esperávamos. Tudo o que esteve Inconsciente está a tornar-se Consciente."

José Argüelles, autor de The Mayan Factor: Path Beyond Technology

Fontes:

The Mayan Prophecy of 2012 - http://www.13moon.com/prophecy%20page.htm

2012: Dire Gnosis - http://www.diagnosis2012.co.uk/

Library of Alexandria: 2012 AD - http://www.halexandria.org/dward415.htm (Excelente revisão do que já existe na net sobre este assunto)

Wikipedia: Novelty Theory - http://en.wikipedia.org/wiki/Novelty_theory

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Por falar em Jung - Sincronicidade !

Sincronicidade é a ocorrência simultânea de um certo estado psíquico com um ou mais eventos externos, que aparecem como paralelos significativos do estado subjectivo do momento.

Casual é a ocorrência estatística — isto é, provável — de acontecimentos como a "duplicação de casos", p. ex., conhecida nos hospitais. Grupos desta espécie podem ser constituídos de qualquer número de membros sem sair do âmbito da probabilidade e do racionalmente possível. Assim, pode ocorrer que alguém casualmente tenha a sua atenção despertada pelo número do bilhete do metro ou do trem. Chegando à casa, ele recebe um telefonema e a pessoa do outro lado da linha diz um número igual ao do bilhete. À noite ele compra um bilhete de entrada para o teatro, contendo esse mesmo número. Os três acontecimentos formam um grupo casual que, embora não seja frequente, contudo não excede os limites da probabilidade. […]

O exemplo que vos proponho é o de uma jovem paciente que se mostrava inacessível, psicologicamente falando, apesar das tentativas de parte a parte nesse sentido. A dificuldade residia no facto de ela pretender saber sempre melhor as coisas do que os outros. A sua excelente formação fornecia-lhe uma arma adequada para isto, a saber, um racionalismo cartesiano aguçadíssimo, acompanhado de uma concepção geometricamente impecável da realidade. Após algumas tentativas de atenuar o seu racionalismo com um pensamento mais humano, tive de me limitar à esperança de que algo inesperado e irracional acontecesse, algo que fosse capaz de despedaçar a retorta intelectual em que ela se encerrara. Assim, certo dia, estava eu sentado diante dela, de costas para a janela, a fim de escutar a sua torrente de eloquência. Na noite anterior ela havia tido um sonho impressionante no qual alguém lhe dava um escaravelho de ouro (uma jóia preciosa) de presente. Enquanto ela me contava o sonho, eu ouvi que alguma coisa batia de leve na janela, por trás de mim. Voltei-me e vi que se tratava de um insecto alado de certo tamanho, que chocou contra a vidraça, pelo lado de fora, evidentemente com a intenção de entrar no aposento escuro. Isto pareceu-me estranho. Abri imediatamente a janela e apanhei o animalzinho em pleno vôo, no ar. Era um escarabeídeo, da espécie da Cetonia aurata, o escaravelho rosa "chafer", cuja cor verde-dourada o torna muito semelhante a um escaravelho de ouro. Estendi-lhe o escaravelho, dizendo-lhe: "Está aqui o seu escaravelho". Este acontecimento abriu a brecha desejada no seu racionalismo, e com isto rompeu-se o gelo de sua resistência intelectual. O tratamento pôde então ser conduzido com êxito.

Esta história destina-se apenas a servir de paradigma para os casos inumeráveis de coincidência significativa observados não somente por mim mas por muitos outros, e registados parcialmente em grandes colecções. Eles incluem tudo o que figura sob os nomes de clarividência, telepatia, etc, desde a visão, significativamente atestada, do grande incêndio de Estocolmo, tida por Swedenborg, até os relatos mais recentes do marechal-do-ar Sir Victor Goddard a respeito do sonho de um oficial desconhecido, que previra o desastre subsequente do avião de Goddard. Todos os fenómenos a que me referi podem ser agrupados em três categorias:
1. Coincidência de um estado psíquico do observador com um acontecimento objectivo externo e simultâneo, que corresponde ao estado ou conteúdo psíquico (p. ex., o escaravelho), onde não há nenhuma evidência de uma conexão causal entre o estado psíquico e o acontecimento externo e onde, considerando-se a relativização psíquica do espaço e do tempo, acima constatada, tal conexão é simplesmente inconcebível.

2. Coincidência de um estado psíquico com um acontecimento exterior correspondente (mais ou menos simultâneo), que tem lugar fora do campo de percepção do observador, ou seja, especialmente distante, e só se pode verificar posteriormente (como p. ex. o incêndio de Estocolmo).

3. Coincidência de um estado psíquico com um acontecimento futuro, portanto, distante no tempo e ainda não presente, e que só pode ser verificado também posteriormente.
Nos casos dois e três, os acontecimentos coincidentes ainda não estão presentes no campo de percepção do observador, mas foram antecipados no tempo, na medida em que só podem ser verificados posteriormente. Por este motivo, digo que semelhantes acontecimentos são sincronísticos.

in A Sincronicidade, Carl Gustav Jung, 1951

Nodo Ascendente

Os Nodos Lunares são pontos de intersecção entre a órbita da Lua e a eclítpica – trajectória do Sol tal como é observada a partir da Terra. O nodo norte – ou Nodo Ascendente - corresponde ao cruzamento no norte da elíptica, e o nodo sul – ou Nodo Descendente – ao cruzamento no sul. Na tradição europeia, o Nodo Ascendente é designado também por Cabeça de Dragão (Caput Draconis, ou Anabibazon), sendo o Nodo Sul a Cauda do Dragão (Cauda Draconis, ou Catabibazon).

Os Nodos Lunares revestem-se de grande significado astrológico, tanto na Astrologia Védica como na Astrologia Ocidental. O astrólogo Dane Rudhyar defendia que o Nodo Ascendente, marco da entrada da Lua no Hemisfério Norte e, em particular, na área de influência da estrela polar, representa um ponto de entrada de energia cósmica, enquanto o Nodo Descendente, exactamente oposto, seria um ponto de saída. A comparação com a anatomia do Dragão seria assim perfeitamente adequada: na Cabeça, a boca por onde se faz o input cósmico; na Cauda, o ânus e os órgãos sexuais por onde é excretada a semente, o output resultante da assimilação da energia universal pelo indivíduo que, com as suas características únicas, lhe dá uma forma e um objectivo particulares, deixando a sua marca pessoal no mundo, a sua semente. (Mais sobre Dane Rudhyar em próximos posts)

Num mapa astrológico, o Nodo Ascendente mostra os desafios kármicos que se colocam perante o indivíduo: a energia que deve ser utilizada para ultrapassá-los nesta encarnação – indicada pelo signo onde se encontra este Nodo – e o aspecto da vida em que esses desafios se irão apresentar – indicado pela casa astrológica do Nodo. Enquanto o Nodo Descendente reflecte a experiência acumulada em vidas passadas, e portanto a energia kármica que instintivamente procuramos quando perante situações difíceis, é no Nodo Ascendente que reside a oportunidade de evoluir verdadeiramente, de aprender as lições que esta vida nos oferece.

Neste conceito de permanente aprendizado nasceu a ideia deste blog. E também da certeza de que as pessoas se encontram no momento certo para partilhar o conhecimento que naquele momento lhes faz falta. Espero que outros “mentalmente irrequietos” como eu possam aqui fornecer ou encontrar alguma resposta. Ou, melhor que isso, uma nova pergunta ;-)

“Tanto quanto conseguimos perceber, a única finalidade
da existência humana é acender uma luz na escuridão da mera existência.”

C. G. Jung, "Memories, Dreams, Reflections", 1962